Na quinta-feira passada marquei de me encontrar com um leitor do blog, o biólogo Luiz Paulo Stockler Portugal, no Mercado da Lapa, onde também é freguês. Ele é daqueles a quem se pergunta a todo momento porque ainda não tem um blog, de tanto que sabe e tão bem que escreve.
A descrição breve para o encontro ao desconhecido era de que ele estaria portando uma mochila vermelha e eu, uma sacola da mesma cor. Então, não foi difícil nos descobrirmos na multidão.
Logo nos primeiros minutos, ele abriu a mochila e de lá sairam as muambas como fermento do Japão, chilli indiano, tandoori masala, garam masala, malte em pó e a surpresa maior: duas cabeças de alho negro preparadas pela Marisa Ono, do blog Delícia. Depois de tomarmos água de coco, comprarmos joelhos de porco e falarmos de tudo e dos peixes, ainda fomos comer no Caipira da Lapa, com fogão a lenha aquecido a ripas, assumindo juntos os riscos; depois passamos numa casa de Umbanda onde comprei cumaru e pimenta-da-costa (assunto para outro post). E também no Seu Emílio do sacolão, para tomar sorvete. Andamos a pé reconhecendo ervas e árvores; mostrei a ele a árvore de moringa (drumstick) e quando cheguei em casa para um café, o pão de licuri que levei à noite no encontro do Slow Food já ia pelas alturas.
Só dei a ele conserva de pimenta e umeboshi além da mudinha de galanga -quase nada diante de tantos presentes que ganhei, especialmente o alho e, logo depois, a apresentação da própria Marisa - quer presente maior? No sábado a turma que fez compras e almoçou no bairro da Liberdade era maior. Incluia Marisa (apareço linda lá no blog dela) e sua mãe, Dona Margareth, além dos amigos Michael e César
Marisa e eu quase não pudemos conversar, já que o bairro fervilhava com as compras natalinas. Mas trocamos emails e pelo menos já posso passar o contato para quem quiser comprar dela os famosos alhos.
Confesso que não me animei muito quando vi a o tal alho no Paladar. Inclusive a Marisa era citada, pois parece ser a única a fazer este alho por aqui (veja mais sobre isto no blog Delícia).
Quem já provou desta iguaria, duvido que discorde de mim. É uma coisa deliciosa, impossível de comer um só e, depois, lendo melhor o Paladar, confirmei aquilo que achei assim que mordi - além de delicioso, o alho preto é versátil.
Fui logo imaginando no macarrão, com azeite, num pesto suave, numa pastinha para colocar sobre a sopa quente, espalhado sobre uma fatia de pão, numa terrine e infinidade de pratos. Tudo o que com alho fica bom com alho negro fica muito melhor. Ele é preto como carvão, cremoso como um queijo fundido e gostoso como cogumelos concentrados e caramelados. É tão suave, que até receitas doces são feitas com ele. Segundo Marisa, "a cor surge da combinação de açúcares e aminoácidos, produzindo melanoidina". Na Coreia e no Japão é comido puro, como quem come 3 castanhas do Pará por dia - por causa dos poderosos antioxidantes. Aliás, eta remedinho bom de engolir!
É daqueles produtos versáteis para se ter na geladeira, pronto para servir em qualquer ocasião especial ou não. Se o alho in natura frito, triturado ou assado, briga um pouco com o hálito e com os vinhos, este não. Parece pedir um beijo e um tinto jovem ou espumante (Luiz Horta poderá dizer).
E o bom é que não leva no preparo nenhum outro ingrediente além do próprio alho e muita técnica. Marisa Ono diz que começou a fazer a experiência depois de uma provocação no Orkut: "Um membro de uma comunidade tinha feito um estágio no El Buli e voltou encantado com o alho. Como sabia que eu tinha morado no Japão, perguntou sobre o alho negro que eles importavam de Aomori. Lembro até que, na época, diante da falta de informação, achei que o alho fosse uma espécie diferente. Mas continuei pesquisando e acabei chegando a isso que você conhece." Antes disso, Marisa consumiu tempo com a construção de estufas (três, de tamanhos variados) e meses de testes para se chegar à umidade e à temperatura limite. Marisa conseguiu 17 quilos no seu primeiro lote de acerto (claro, antes disso, até chegar no ponto certo, perdem-se algumas cabeças) e já vendeu para alguns chefes, mas disse que ainda tem alguma coisa para os leitores de Come-se, nos preços abaixo. Serviço, nas palavras da Marisa: "Sim, eu posso enviar via Sedex. Acho melhor ter como encomenda mínima de 100 gramas, são só 3 cabeças de alho. O Sedex até São Paulo, para encomendas até 300 gramas é de R$ 11,90. Para até 1 kg, R$ 12,80. Acho melhor o contato via e-mail, porque eu passo parte do dia no sítio, mas fora de casa.". Contato da Marisa: marisaono@gmail.com.
O quilo sai a R$ 100,00.
Assim, no azeite, com flor de sal e folhinhas de orégano e/ou manjericão, fica divino como tira-gosto.
Isto é bom! as berinjelinhas japonesas também vieram da horta da família Ono, em Ibiúna Espaguete com alho negro e berinjelas: coloquei numa frigideira umas 2 colheres (sopa) de azeite e aqueci nele 50 g de alho negro picado (duas cabeças menos uns três dentes que devorei por gula antes de picar). Juntei umas 2 colheres (sopa) de manjericão e orégano frescos picados e joguei aí 140 g de espaguete cozido al dente. Servi com berinjelinhas japonesas douradas no azeite: piquei de comprido - da casca para o centro - 2 berinjelas japonesas, polvilhei meia colher (sopa) de sal e deixei sobre um pano por 15 minutos. Torci o pano com as fatias para que ficassem bem sequinhas e dourei-as numa frigideira antiaderente com um pouco de azeite. Rende: 2 porções