Não imaginava que com a simples pergunta do post anterior pudesse agrupar tanto conhecimento nas respostas. Não sabem como fico agradecida por terem me ensinado mais do que já sabia dos livros sobre estes bichinhos comestíveis. Que são larvas do besouro Pachymerus nucleorum que crescem nos frutos de várias palmeiras, isto a gente encontra em qualquer enciclopédia. Mas descobrir outros nomes regionais como gongo, tapuru, coró, morotó, fofó, boró, além de formas de se comer, só assim mesmo, reunindo gente de lugares tão distantes. Veja comentários lá no post.
A Hildeny Medeiros, de Teresina – PI, disse; “Não sei como vocês chamam aí no Sul, mas aqui no Nordeste (pelo menos no Piauí e no Maranhão) nós chamamos de gongos. Eles são gerados dentro dos bagos do coco babaçu, palmeira muito comum por aqui. No interior do Maranhão costuma-se fritar os bichinhos e fazer farrofas ou acrescentá-los depois de fritos ao arroz, fica muito gostoso. Algumas pessoas acham nojentos, mas na verdade essa larvas são limpinhas por que elas, como já disse, são geradas dentro do bagos do coco, portanto não tem nada de nojento. Delicias de meu Maranhão.”
Marcos acertou o bichinho e o coco: “Lá na Bahia chámavamos de morotó a esses bichinhos de coco licuri”. Já a Marcia, que hoje mora na Alemanha, mandou: morotó ou fofó, bichinho de licuri, bom isso, tem proteína - e como disseram acima: é limpinho”. Lá de Porto Alegre, o amigo Rui, se lembrou dos corós que, diferente do morotós, se alimentam da madeira: “Aqui no sul tem larvas de coleópteros que se alimentam de madeira em decomposição. São chamados de corós e tem o tamanho aproximado de 5 cm. Meus parentes diziam que os indios os comiam”. E a Ana Lúcia, de Curitiba, que já morou em várias partes do Brasil, completou: “Eu conheço por tapuru, como são chamados na Amazônia. Eles servem de alimento nos exercícios de sobrevivência na selva, pois dizem que são muito proteicos e embora com aparência meio repugnante e advindos de moscas, são comestíveis pois se alimentam principalmente das polpas dos cocos. O Problema é levar à boca uma coisa viva e que fica se mexendo.”
Embora soubesse a resposta, Claudia, de Porto Alegre, não acreditou na sua intuição: “Bem, não creio que se trata de "gongos", corós, morotós ou fofós, não parecem muito com corós, nossos sobrinhos já comeram lá no sitio e disseram que é bem doce ( coró de butiazeiro ) - me parece uma espécie de fruto ou até mesmo de amêndoa”. Mas a Clau, que mora na Itália e nunca comeu, pelo menos já viu de perto: “Mas isto me lembrou o tempo de faculdade quando, fazendo trabalho de campo lá no parque do Xingu, nos deparávamos com o cardápio dos índios: macaco assado, formigas tostadas, o cheiro azedo do biju, peixes inteiros (algumas vezes ainda vivos) jogados dentro de uma imensa caçarola cerâmica com água fervendo. Devia ser um manjar dos deuses, mas se diz que o que os olhos não veem o coração na sente - comigo é bem assim!"
Se é de comer, eu como. Mas o meu, cozido e com sal, por favor.
Ganhei um pacote de licuri do Alcino, de Lençóis – Chapada Diamantina - BA. Lindos, os coquinhos todos inteiros. Na sexta-feira a Eliana, a baiana que trabalha comigo, viu um bichinho saindo de um dos coquinhos dentro do pacote. Aí fizemos a festa. Despejamos tudo numa bacia e fomos escolhendo: este tem, este não tem. Eu não saberia diferenciar, mas ela faz isto de olhos fechados. Isto significa o seguinte: melhor comprar licuris quebrados que inteiros. Pois, apesar de muita gente apreciar, não é muito agradável meter na boca coquinhos crocantes para só descobrir o recheio úmido e macio depois, entre o dente e a goela. É bom sempre saber o que se está comendo.
E os bichinhos assim, retirados vivos, gordos e branquinhos de dentro dos coquinhos, não são exatamente o tipo de alimento com appetite-appeal, pelo menos para quem não os tem como parte da cultura alimentar. Mas como ninguém sabe o dia de amanhã e, em se tratando de proteína comestível, saudável e gostosa, não custa experimentar. Eliana disse que na região dela o bicinho é comido vivo. Assim é demais para mim, mas, para isto temos o fogo. Foi só aquecer na frigideira com um pouquinho de azeite (isto mesmo, ainda vivos, como fazemos com ostras) e eles se aquietaram rapidinho. Ficaram crocantes e soltaram gordura – de modo que não precisaria de azeite no preparo. Para comer, polvilhei com flor de sal e nhac. Aliás, quando escrevi aqui sobre a oficina de culinária dos Guarani,mostrei o xipá, tipo de pão chato hoje feito com trigo mas que antes era feito com milho e frito em gordura de Ixo, como são chamadas estas larvas ricas em gorduras e com propriedades medicinais. Minha decepção foi em relação á Eliana que não queria comer de jeito nenhum. Bobagem, menina, é uma delícia, tem gosto de torresmo de porco dourado em gordura de coco. Acho que a convenci, ela comeu e gostou. Pensei numa farofinha ou sobre arroz molinho recém feito. Pena que tinha pouco. Não deu pra inventar muito nem sobrou para o Marcos. Mas os coquinhos estão lá, quem sabe um outro tanto não engorda pra semana?