Depois daquela oficina de meliponicultura, que eu citei
aqui ainda sobrou um tempinho antes da chuva para conhecer o sítio do Jerônimo Villas-Bôas, o professor, que é meu amigo e consultor para assuntos meliponíferos. Tudo era lindo e cheio de surpresas, como o verdadeiro mar de bambus com centenas de brotos. De safra curtíssima, agora é o momento de colher, quando lançam estes grandes brotos ou takenokos (que quer dizer exatamente isto, broto de bambu, ou bebê de bambu). Está certo que o ideal é fazer como os japoneses que saem preparados com cestas e enxadas e só coletam aqueles que ainda conservam grande parte do corpo abaixo do solo coberto de folhas. Estes são mais mansos (sem aquelas substâncias cianogênicas que os fazem amargos e algo venenosos) e sem amargor. Mas não tínhamos nada disso, pois foi surpresa nosso encontro. E diante de tantos grande e pequenos, escolhi todos que pudemos carregar. E tive que tirar os brotos dando uma leve bitoca com o pé bem firme. Não foi difícil tirar assim. A desvantagem é que machuca um pouco a base dos brotos que depois precisam ser descartadas. Mas meus chutes foram certeiros e só machuquei uns três ou quatro.
Cecília, a filhinha do Jerônimo, tem seis anos e ficou super interessada quando disse que aqueles brotos eram de comer. Numa distraída minha a peguei experimentando uma lasquinha. - Hum, come-se mesmo, é gostoso! Disse que levaria um para a bisavó preparar no jantar (já sei que foi feito pro almoço do outro dia). Nas descobertas, cortou o dedinho com a face serrilhada de uma folha - queria que ela já levasse um limpo para casa e por isto descascamos ali mesmo. Só contou porque começou a sangrar, mas como medo de impedirmos que continuasse na brincadeira, já foi logo avisando: - Olhe, eu cortei um pouquinho o dedo, mas é só um pouquinho, nem está doendo. A menina curiosa já entende tudo de abelhas sem ferrão, agora já começa a entender também de colheita de bambus e possíveis acidentes. Voltamos com o porta-malas cheio.
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O porta-malas virou porta-takenokos |
Quanto ao amargor, estes são da mesma variedade que a
Marisa Ono me deu e sem amargor algum quando bem fresco. À medida que o tempo passa, começam a ficar mais amargos. Não foi o caso. Mas é sempre bom aferventar antes de usar. Se não é amargo, basta lavar bem e cozinhar até que fiquem macios. Jogue a água fora e os pedaços estão prontos para serem usados. Se estiverem amargos (pode provar uma lasquinha mínima na ponta da língua, como fez Cecília), é bom juntar à água um pouco de bicarbonato (1 colher (chá) a cada três litros de água, mais ou menos - é o que meu pai costuma fazer) e fazer troca de água umas três vezes até os brotos perderem todo o amargos. Os japoneses usam farelo de arroz e pimenta seca.
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Não sei do que gosto mais, de comer ou olhar os desenhos |
Amargor o meu não tinha, então não precisei usar artifícios, além do sal. Mas da dica da pimenta gostei. Além de deixar o vegetal apimentado, parece que confere certa doçura. Usei pimentas frescas partidas ao meio. Mas vai do gosto.
Uma pessoa no Instagram deu a dica para eu preparar um refogado com missô, mirim, saquê e cebolinha no final. Foi o que fiz e ficou delicioso. Depois vou postar as outras receitas que fiz. Por enquanto, fiquem com esta - o missô é especial, só não sei é o que ganhei da Marisa ou da Mari Hirata. Só sei que os dois são caseiros e divinos.
A receita é coisa inventada de acordo com a dica que pedia para refogar antes cebola em óleo. Mas imagino que japoneses e seus descendentes tenham receitas mais apuradas e que podem me passar (ainda tenho takenokos ..). De qualquer forma, este refogado ficou delicioso. Eu comeria só isto com arroz pra sempre.
Broto de bambu com missô
1 colher (sopa) de óleo
Metade de uma cebola picada
200 g de broto de bambu (takenoko) cozido e picado
1 colher (sopa) de saquê
1 colher (sopa) de mirim
1 colher (sopa) de missô
1 colher (chá) de açúcar
Cebolinha a gosto (eu só tinha um pouco)
Aqueça o óleo com a cebola e espere murchar. Junte o broto de bambu e os temperos todos misturados com um pouco de água (menos a cebolinha). Deixe ferver uns cinco minutos, juntando mais água se necessário. Prove o sal e junte mais missô se precisar. Apague o fogo, junte cebolinha e abafe para que murche um pouco. Sirva com arroz. Acrescentei um ovo cozido e nhac!
Rende: 4 porções
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Cecília já levou o dela limpinho |