sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
O que é, o que é?
Esta é fácil, mas aposto que muita gente ainda não conhece. Quer arriscar um palpite? Resposta só depois do carnaval, pois a equipe do Come-se foi dispensada no feriadão. De olho nas árvores com frutos por aí. Inté e alalaô!
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
Caipirinha de tomate de árvore ou de tamarillo
A árvore da Fartura |
Produção de Fartura |
Lá produzia muito. Mas agora, quando a planta começou a ganhar uma carga boa de frutos, os galhos começaram a murchar e depois secar. Achei que era a seca, mas na semana passada fui cortando as pontas secas e notei que estavam com um tipo de broca que destrói o cerne dos galhos, um verme branco. Tirei todos as partes contaminadas, pulverizei tudo com biofertilizante que fiz à base de chorume e deixei um gotejamento leve de água ao redor do pé, além de colocar na terra um pouco de material pronto da composteira. Vamos ver como reage. Se não, planto outro.
Quando plantei na chácara em Piracaia era assim |
Em menos de dois anos ficou assim: o arbusto de folhas largas à esquerda |
Marcos preparando sopa de tomate de árvore: para plantar |
E a caipirinha com tamarillo fica especial. É ácida, doce e aromática. E o tipo vermelho tem um pigmento vermelho bastante atraente. Então, não tem como dar errado. Ainda mais com maracujá. Uma ideia eletrizante e nutritiva para os dias de folia e calor.
Caipirinha de tomate de árvore e maracujá: foi só colocar a polpa de um fruto de tamarillo no copo, meio maracujá e uma colher (sopa) de açúcar. Soquei bem com socador, juntei 50 ml de cachaça, mexi até o açúcar dissolver, coloquei um monte de gelo e glupt! (aliás, o amigo Luiz Horta está de Glupt novo).
Foto que a Sônia me mandou fazendo inveja com este petisco |
Caipirinha da Sonia: quando fiz a caipirinha de tomate de árvore no sábado de calorão, mandei a foto para a amiga Sonia que está morando ali perto da chácara. Servida? De repente ela e o Rui poderiam dar uma passadinha lá pra bebericar. Ela respondeu que, sim, estava servida, que esperasse um pouco. Em dez minutos ou menos ela me manda esta foto (o acompanhamento com feijão fez inveja) dizendo que, sim, estavam se servindo mas que não podiam nos visitar porque tinham compromisso. Que danada! Ela tinha em mãos tomate de árvore e maracujá que também plantou e fez a mesma caipirinha. Cachaça, claro, todo brasileiro deve ter uma por perto, né não?
Então, neste carnaval, beba com moderação, dirija o menos possível mesmo se não beber - pois andar a pé é melhor, não beba por beber mas escolha bebidas gostosas no momento certo e, se sentir falta do Come-se (é muita pretensão, fala sério), aguente aí que na quinta estou de volta. Boas festas, alalaô!
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
Destino do feijão goiano 2. Ou o feijão que plantei e colhi
Justiça seja feita, quem plantou e colheu o feijão foram os caseiros, Carlos e Silvana, com todo o capricho, como mostrei no post anterior. Minha parte foi embalar. Já estavam limpos, super catados.
De todos que trouxe da feira de Goiânia (200 g de cada), o que mais rendeu não foi o carioquinha como imaginei que seria. Pelo menos na nossa terra, o mais produtivo foi o roxinho: 4,1 kg. Seguido pelo vermelho e rajado. Com alguns tipos, tive prejuízo. O canário, por exemplo, que é lindo e gostoso, só rendeu 150 g (estas devem ser super sementes resistentes que vou replantar). Na próxima safra vou plantar mais roxinho e rajado e outros diferentes cujas sementes ainda guardo.
Ontem o amigo Jerônimo Villas Boas veio aqui trocar as caixinhas das abelhas jataís (que se multiplicaram agora em cinco poderosas caixas) e almoçou o feijão vermelho. Disse que gostou.
Um dia Ananda me ligou perguntando como se faz feijão. Expliquei, ela aprendeu. O que seria dela se não fosse o livro da Rita Lobo? Lá ela aprende realmente a cozinhar. Aqui só tem coisa esquisita.
Mas então tá, vou dar aqui a receita de um simples feijão, desta vez especial, o primeiro feijão com uma trajetória mais ou menos conhecida.
Receita de feijão simples
Escolha se for preciso 200 g de feijão (roxinho, carioquinha, rosinha, canário, preto), lave bem, escorra e deixe de molho em 1 litro de água por cerca de 4 horas ou até que todos os grãos estejam inchados. Coloque o feijão e a água na panela de pressão com uma folha de louro, 1 pedacinho de courinho de bacon ou de toucinho fresco (opcional), 1 dente de alho amassado e 1 colher (chá) rasa de sal. Tampe a panela e leve ao fogo. Quando a válvula chiar, abaixe o fogo e deixe cozinhar por meia hora. Desligue o fogo, abra a panela depois que acabar a pressão, e veja se os grãos estão macios e se ainda resta caldo. Se secou, junte mais água quente para formar um caldo. À parte, refogue em uma panela ou pequeno caldeirão dois dentes de alho socados em 1 colher (sopa) de óleo. Deixe até o alho começar a dourar. Despeje sobre o refogado o feijão com seu caldo. Mexa com delicadeza e deixe cozinhar mais cinco minutos ou até engrossar o caldo. Mantenha os grãos sempre cobertos com o caldo, se não racham. Prove e corrija o tempero se necessário. Se quiser, junte cebolinha fresca picada antes de servir. Eu não quis. Rende: de 4 a 5 porções
De todos que trouxe da feira de Goiânia (200 g de cada), o que mais rendeu não foi o carioquinha como imaginei que seria. Pelo menos na nossa terra, o mais produtivo foi o roxinho: 4,1 kg. Seguido pelo vermelho e rajado. Com alguns tipos, tive prejuízo. O canário, por exemplo, que é lindo e gostoso, só rendeu 150 g (estas devem ser super sementes resistentes que vou replantar). Na próxima safra vou plantar mais roxinho e rajado e outros diferentes cujas sementes ainda guardo.
Só pra não esquecer |
Um dia Ananda me ligou perguntando como se faz feijão. Expliquei, ela aprendeu. O que seria dela se não fosse o livro da Rita Lobo? Lá ela aprende realmente a cozinhar. Aqui só tem coisa esquisita.
Mas então tá, vou dar aqui a receita de um simples feijão, desta vez especial, o primeiro feijão com uma trajetória mais ou menos conhecida.
Receita de feijão simples
Escolha se for preciso 200 g de feijão (roxinho, carioquinha, rosinha, canário, preto), lave bem, escorra e deixe de molho em 1 litro de água por cerca de 4 horas ou até que todos os grãos estejam inchados. Coloque o feijão e a água na panela de pressão com uma folha de louro, 1 pedacinho de courinho de bacon ou de toucinho fresco (opcional), 1 dente de alho amassado e 1 colher (chá) rasa de sal. Tampe a panela e leve ao fogo. Quando a válvula chiar, abaixe o fogo e deixe cozinhar por meia hora. Desligue o fogo, abra a panela depois que acabar a pressão, e veja se os grãos estão macios e se ainda resta caldo. Se secou, junte mais água quente para formar um caldo. À parte, refogue em uma panela ou pequeno caldeirão dois dentes de alho socados em 1 colher (sopa) de óleo. Deixe até o alho começar a dourar. Despeje sobre o refogado o feijão com seu caldo. Mexa com delicadeza e deixe cozinhar mais cinco minutos ou até engrossar o caldo. Mantenha os grãos sempre cobertos com o caldo, se não racham. Prove e corrija o tempero se necessário. Se quiser, junte cebolinha fresca picada antes de servir. Eu não quis. Rende: de 4 a 5 porções
O rajado: azul, roxo, rosa, vermelho. Eu não canso de olhar |
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Calabura, continuação
Polpa macia e suculenta salpicada de sementes crocantes |
Os frutos têm pouco mais de um centímetro |
A planta Muntingia calabura é uma espécie exótica, originária do México, Bolívia, Caribe e sul do Peru. Foi introduzida no Brasil no começo da década de 1960 pelo Instituto Agronômico de Campinas e logo se tornou árvore de interesse para reflorestamento pois cresce rapidamente, produz flores que atraem abelhas e produz frutos que chamam muitos pássaros e morcegos frugívoros. E o bom é que é resiliente quanto aos tipos de solo. Solo ácido, alcalino, pobre, seco, degradado, não tem tempo ruim para o crescimento da calabura.
Os frutos ficam protegidos pelas folhas - aqui o fruto verde |
Engraçado que lembrei de vários fatos que me fizeram ignorar até então a frutinha. Mesmo o leitor Stefano já havia me perguntado sobre ela no final do ano passado. Mandou foto e tudo. Respondi que não sabia, mas me lembrei do nome calabura, para esquecer novamente em seguida. Agora, como disse ontem, desta frutinha não vou me esquecer nunca mais.
Na Alameda Lorena, em São Paulo |
Hoje esta fruta está espalhada por vários países de clima tropical. Conforme artigo publicado no site do Department of Horticulture and Landscape Architecture at Purdue University (veja o link do artigo completo), aqui estão os nomes da fruta mundo afora: "In Mexico, local names for the latter are capolin, palman, bersilana, jonote and puan; in Guatemala and Costa Rica, Muntingia calabura is called capulin blanco; in El Salvador, capulin de comer; in Panama, pasitoor majagüillo; in Colombia, chitató, majagüito, chirriador, acuruco, tapabotija and nigua; in Venezuela, majagua, majaguillo, mahaujo, guácimo hembra, cedrillo, niguo, niguito; in Ecuador, nigüito; in Peru,bolina, iumanasa, yumanaza, guinda yunanasa, or mullacahuayo; in Brazil, calabura or pau de seda; in Argentina, cedrillo majagua; in Cuba, capulina, chapuli; in Haiti, bois d' orme; bois de soie marron; in the Dominican Republic, memiso or memizo; in Guadeloupe, bois ramier or bois de soie; in the Philippines, datiles, ratiles, latires, cereza or seresa; in Thailand, takop farang or ta kob farang; in Cambodia, kakhop; in Vietnam, cay trung ca; in Malaya, buah cheri; kerukup siam or Japanese cherry; in India, Chinese cherry or Japanese cherry; in Ceylon, jam fruit". In Morton, J. 1987. Jamaica Cherry. p. 65–69. In: Fruits of warm climates. Julia F. Morton, Miami, FL - publicado aqui.
E o que estamos esperando para sair à caça desta frutinha tão bem adaptada ao nosso clima e solo? Na Usp há algumas árvores e espalhadas pelas ruas de São Paulo também. O leitor David Ramos diz que em Indaiatuba há vários pés na praça, mas ninguém dá muita bola. Por que será que a gente só quer o que está longe? As cerejas do Chile, o figo de Israel, a romã da Califórnia? Vamos dar uma olhada no que já temos adaptado por aqui? E fazer geleias, doces, compotas, sorvetes, molhos para carne etc.
O que fiz com minhas poucas frutinhas colhidas foi separar as sementes das que pretendo plantar e congelar as outras, já que não tive tempo de lidar com elas no dia da colheita. E, como desconfiava diante da extrema doçura, as frutas congeladas não endurecem e ficam como sorvetes mastigáveis com micro-pérolas friáveis. Mas não comi todas assim, não. Pensando num foie gras com molho de framboesas, resolvi aproveitar o fígado do pato recém chegado de Piracaia e fazer um molho para ele. Achei que combinaria e não errei.
Fígado de pato com molho de cebola e calabura. Temperei o fígado com sal e pimenta-do-reino e fritei um minuto de cada lado em manteiga misturada com azeite. Embrulhei em papel alumínio e deixei assim por 15 minutos para terminar de cozinhar. Enquanto isso, fiz o molho. Coloquei numa pequena frigideira uma colher (chá) de manteiga e 1/4 de cebola roxa média. Juntei meia colher (chá) de açúcar e deixei dourar. Acrescentei as calaburas (um punhado), umas folhinhas de manjerona, 1 colher (sopa) de licor de laranja e 1 colher (chá) de vinagre de Jerez. Polvilhei sal e deixei ferver um minuto. Despejei sobre o fígado morno, juntei um pedaço de pão torrado e nhac! em duas ou três mordidas.
Nhac! |
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Calabura é o que é
Árvore na Alameda Lorena |
Tudo começou quando o leitor Luciano Pupo me mandou foto perguntando que fruta era aquela, com gosto de suco de cacau e algo de figo. O Luciano é o mesmo daquele caça ao tesouro Eugenia candoleana que publiquei aqui. Daquela vez fui quem deu todas as coordenadas para ele descobrir onde estava a tal árvore que citava no post.
Já agora quem deu o mapa da mina foi ele, inclusive com as coordenadas do Google Maps. Pra falar a verdade eu estava tão ocupada quando ele me perguntou, que tentei adiar a resposta - que exigiria de mim alguma dispersão, eu me conheço. Pedi para ele me mandar a foto da fruta partida ao meio. Com isto eu poderia ganhar algumas horas, quem sabe dias. Mas que nada. Ele imediatamente me mandou o seguinte email, incluindo a localização (para quem tiver curiosidade): "Impossível neste momento... Comi as quatro. Mas antes de papar a última cortei-a no meio pra dar uma olhada (deveria ter fotografado também, né...?). Por dentro é bege, com veios aquosos entremeados na polpa. Há muitos "micro-grânulos" na polpa, que imaginei serem as sementes. Nenhuma delas tinha algum outro tipo de semente. Dê uma olhada neste endereço: https://maps.google.com.br/maps?q=alameda+lorena+582&ie=UTF-8&ei=G8AEU83hCYjNsQS7moHwDQ&ved=0CAkQ_AUoAQ É uma página do Google Maps, que se V. for aproximando no zoom, chega nas imagens reais (street view). Entre os nºs 572 e 582 existe uma árvore, é essa. Outra referência são as lojas Dyff e Diva; a árvore fica entre elas. Ou ainda dê um pulo lá pessoalmente, se tiver um tempinho. Garanto que não vai se arrepender. É um sabor único e sensacional.
Estava indo a uma reunião na Lorena e me deparei com essa joia. Hoje a árvore está um pouco diferente do que nas imagens do Google; há um ramo jovem que brotou perto da base que está proporcionando um belo toldo natural na calçada em frente à loja. Quando vi essas inéditas frutinhas vermelhas pendendo de cabinhos finos bem acima da minha cabeça, não resisti e arrisquei por uma na boca, quase que instintivamente, dada a improbabilidade de serem tóxicas. Só depois, quando saí por ali indagando de lojistas que árvore era aquela (ninguém sabia...), uma moça disse que sabia que podia comer. Mas eu já tinha comido... Nunca tinha visto/experimentado nada parecido. Espero que descubra, estou muito curioso."
Pensei em responder que definitivamente não sabia. Mas, olhando bem a foto, me veio à lembrança a frutinha que comia trinta anos atrás no Crusp, quando morava lá. A árvore ficava em frente ao bloco C e conheci a frutinha através do Acauã, também cruspiano. Não preciso dizer que parei tudo e escrevi pro amigo perguntando o nome. Enquanto ele não respondia comecei a folhear o livro do H. Lorenzi (Frutas Brasileiras e Exóticas cultivadas). Lembrava de ter visto a frutinha ali. No mesmo instante que encontrei a descrição com foto no livro, chegou a resposta do Acauã: "calabura, boa para curtir na cachaça". Aí comecei a lembrar de mais fatos que na hora não dei muita importância. Acauã citou a fruta e seu nome num piquenique que fizemos no começo deste ano, mas certamente eu estava conversando com outra pessoa e a inscrição ficou meio apagada na mente. Também no ano passado quando fui à casa/ viveiro da amiga Juliana Valentini e Flores, me lembro dela ter dito algo como "ah, esta fruta é meio bobinha, calabura, mas passarinho gosta". Era tanta novidade ali que não liguei muito para a árvore. Mas a inscrição ficou e só agora foi marcada para sempre. E é incrível como é assim que vou aprendendo. Então, não me venha perguntar qual é o livro que tem tudo o que sei e que posto aqui no blog, afinal vou aprendendo e já disseminando, pois se um dia eu esquecer tudo, você poderá me salvar.
Então, nestes últimos cinco dias (Luciano me interpelou no dia 19) já me envolvei com a frutinha de várias formas. Primeiro, que segui a indicação e fui até a Lorena. Marcos e eu descemos vários quarteirões a pé, do conjunto nacional até a Alameda Lorena em plena sexta-feira quase já escurecendo. Chegamos lá e colhemos algumas frutas, fotografamos e comemos. Falhei em não recolher alguns galhos, pois fiquei sabendo que a planta pega por estaquia, além das sementes.
Bem, está aí, você já sabe a resposta: Calabura ou Muntingia calabura. Com o nome você pode procurar informações, mas se quiser esperar até amanhã, eu te conto tudo e mostro o que fiz com ela. Este post está ficando grande demais. Valeu, Luciano. Esta, fico lhe devendo. Continuo amanhã.
sábado, 22 de fevereiro de 2014
O que é, o que é?
Quem acertar ganha meus sinceros parabéns, nada mais. Diga aí o que é, o que é. Resposta na segunda-feira.
Bom fim de semana!
Bom fim de semana!
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
A arte de plantar jabuticabas
Na caixinha em que as próprias jabuticabas vieram |
Jabuticaba é o tipo de mirtácea da qual a gente não costuma encontrar muda embaixo da fruta mãe (deve ser aquele artifício que algumas plantas têm de inibir mudas filhas por perto para estimular a diversidade). E também não parece ser planta semeada por passarinhos. Acho que não são bobos de carregar a fruta grande para outro lugar ou ainda comer a fruta com caroço (pássaro que come caroço de jabuticaba sabe o funhumhum que tem). Preferem bicar na árvore. E as sementes que comemos tampouco viram plantas. Então, o negócio é separar sementes e plantar mesmo.
Depois dos cinquenta anos paira sobre o pensamento o pouco tempo que nos resta. Plantar sementes começa a parecer coisa de gente jovem que terá uma vida pela frente para comer o fruto. A gente tem pressa, quer logo uma jabuticabeirona vivida cheia de frutos para atolar o dente ligeiramente, quer aquele prazer urgente. E tudo bem, a gente tem ótimos viveiros como o Ciprest e o Oiti, por exemplo, de amigos. Mas se também podemos plantar sementes, que não vejamos, não comamos, não tem problema. Fica para as gerações futuras, lembrando que no meu neto, no meu bisneto, haverá uma parte gulosa de mim. E se não plantamos sementes estaremos agindo como no esquema egoísta e perverso das pirâmides. Só os primeiros do pico se dão bem, o resto que vem que se desmorone.
Então o que tenho feito e já falei aqui é jogar sobre terra todas as sementes que caem na minha mão ou na minha boca. Nem que seja apenas para dar de presente ou para plantar na beira de um riacho careca. Ou só para ter a alegria de ver aquela semente seguir o ciclo e dar vida a todas as informações da planta mãe que traz encapsuladas.
Estas jabuticabas comprei para fazer as fotos da coluna do Paladar. Isto foi em Dezembro. Separei as cascas que ia usar, reservei a polpa para suco e sorvete e fiquei com as sementes na peneira. Não tinha nem um só vaso dando sopa no momento. No improviso, o que fiz foi pegar terra do jardim mesmo e encher a própria caixinha de papelão com ela. Umedeci e joguei ali as sementes diretamente da peneira ainda úmidas de polpa. Era para ser um esquema de emergência. Mas esqueci completamente. Outro dia fui mexer no matagal em que se transformou o pedacinho de jardim que tenho e percebi uma florestinha de plantas iguais crescendo à sombra de outras mais agressivas. Afastei as outras plantas, e reconheci quase desfeita a caixinha de papelão. Fiquei feliz porque nunca tinha conseguido fazer vingar uma semente de jabuticaba. E agora, de uma só vez, quase todas as que ali joguei. Mesmo com tempo seco não tive escolha, tive que novamente improvisar vasos para as mudas. Fiz de jornal. E aí estão, para a posteridade. Acho que são vinte e cinco vasos, alguns com 2 ou 3 mudas que ainda precisam ser rearranjadas caso prosperem.
E, para não dizer que não falei de comida, se você também plantar sementes acho que já pode ir sonhando com aquela tapioca ou com o sagu.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
É hora de plantar. Abacate, manga, jabuticaba, pimentas, tomates ...
Meu amigo Fernando enfeita a mesa com os abacates brotados em água |
Você pode dizer que com esta seca, melhor não plantar nada. De fato, no campo talvez não seja um bom momento, com esta falta de água dos últimos meses. Mas em casa, se você tem água de reuso da pia toda hora é hora. Já reparou que a maior parte da água que se vai pelo cano na pia da cozinha é água sem sabão? Água que a gente enxágua a mão, água que lava fruta e verdura e aquela que a gente só usa pra passar num utensílio qualquer antes de usar. Para recolher, é só manter uma bacia sobre a cuba da pia e um balde por perto. Pronto, terá água suficiente para regar muitas plantas. Nada de deixar um vaso estorricando no sol da varanda se tem água de sobra na cozinha.
Mas, voltando às sementes e a hora de plantar. É claro que, assim como na gastronomia e em todas as áreas, há técnicas apropriadas para cada situação. E quando o assunto é profissional, não dá pra dispensar o conhecimento. Agora, plantar e cozinhar amadoristicamente são atitudes inatas ao ser humano, pois disto depende nossa sobrevivência. Então, mesmo que não tenha técnica alguma, não há desculpas para não praticar estas duas coisas - a não ser que se as abomine.
Muita gente me pergunta como faço pra plantar isto ou aquilo, que tipo de terra usa, qual a melhor época, quando poda, como poda, quando muda de vaso, a posição do sol, a frequência de rega etc. É certo, de vez em quando eu aprendo alguma coisa que vou acumulando no repertório. Mas quase sempre aprendo por tentativa, erro e ignorância (a ignorância nos protege sob vários aspectos, incluindo o de não ter medo de arriscar algo consagrado como fracasso certo por quem conhece). É claro que se quero plantar milho, feijão ou outra cultura que vai demandar tempo e espera de resultado, procuro me informar sobre o cultivo. Mas se como algo que tem semente ou vejo uns galhos de poda na rua, o que faço é enfiar na terra que tenho, do jeito que é possível. Às vezes é terra comprada, mas geralmente é terra que veio do sítio, terra de vasos velhos jogados na rua, terra de reforma de calçada encontrada em caçambas (Marcos me ajuda nisso). Terra qualquer, água e sol é tudo de que precisamos num primeiro momento. Planta de sombra ou de sol? Se sei, bem. Se não, coloco num canto do quintal e observo. Se é espécie muito rara, mesmo de matinhos, planto duas mudas e deixo uma em cada canto do quintal. Uma com sol da manhã, outra com o da tarde. Se uma planta começa a ficar estiolada já sei que precisa de mais sol. E assim vou tentando. Como disse Peter Web, um papa da permacultura, num curso que fiz recentemente, é fácil conversar com as plantas, abraçar, ter bons pensamento em relação a ela, o difícil é ouvir as plantas. Tem que tentar.
Então, se quiser começar, não precisa complicar. Não tem vaso, faça suportes com jornal. Não tem ferramentas, qualquer pauzinho serve e nossas mãos foram feitas para plantar, pode ver - o dedo fura-bolo certamente é um dedo fura-terra. Não tem tempo agora? Jogue ou cuspa as sementes de qualquer jeito sobre a terra úmida que algumas vingarão - geralmente as mais resistentes. Ou coloque as sementes juntas num vaso e cubra com um pouco de terra - a mesma espessura da semente em camada de terra por cima. Se brotarem, passe para vasos individuais. Tenho vasos assim de grumixamas, jambos, gabirobas, jabuticabas etc. Se cada vaso tem em média 30 mudas, imagine o trabalho que tenho pela frente. Mas, acredite, é terapêutico. Depois é só transplantar para um lugar onde a planta tenha chance de evoluir. Se tudo der certo, você terá em algum momento flores para te alegrar e comida pra chamar de sua. E, mais certo ainda, poderá deixar sua rua mais verde, o quintal dos seus amigos mais bonitos, as praças mais frescas, as terras desmatadas reflorestadas. Mas, vá lá, pode começar pequeno com uma jardineira e vai ver que vai ganhando gosto pela causa.
Tem coisa mais gostosa que você acordar e saber que alguma coisa diferente e boa pode ter acontecido durante a noite? Todo dia, a primeira coisa prazerosa que gosto de fazer, antes de tomar o café da manhã, é ir olhar o jardim para saber se aquela mudinha vingou, se um novo broto surgiu num galho de sabugueiro, se uma semente começou a inchar, se começou se desnovelar. É uma sensação indescritivelmente boa e que não custa nada. E você ainda pode se sentir melhor ainda presenteando mudas.
Sementes na boca? cuspa já! E colha mais depois.
Fui jogando as sementes de abacate numa jardineira num local sombreado |
Em pouco tempo a maioria germinou |
E tive que arrumar trinta vasos para abacates e mangas |
Isto é coisa que acontece da noite para o dia. Não é mágico? |
Até os pinhões joguei na jardineira |
E logo tive que passá-los já brotados para vasinhos de jornal |
Galhos da roseira Carmencita que podei. Todas vingaram |
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Devagar, por favor. Curso na Casa do Saber
Ajuru, guajuru, ajuru, ajiru, uajuru, hicaco, icaco, cocoplum etc. Resposta à charada
Bem, aqui está a resposta à charada do último post: Cajuru, ajuru, ajiru, uajuru.
Pelo jeito, pouca gente conhece. Foram citados maracujá roxo, ameixa de umeboshi, jambo, milho de grilo, cambuci, tâmara, seriguela. Só a Márcia Amaral acertou. A título de curiosidade, veja fotos das frutas mencionadas (em tamanho, só o milho de grilo é infinitamente menor):
Milho de grilo de Piracaia |
Tâmaras em Paris |
Cambuci de Rio Grande da Serra - SP |
Maracujás roxos do Ceagesp |
Umês da Lapa |
Seriguela da Bahia |
A espécie Chrysobalanus icaco é originário da América Tropical e Caribe. Mas hoje é naturalizada no Vietnã, Polínésia, Índia etc. No Brasil quase não é cultivada, mas é encontrada no seu habitat natural nas praias, restingas e dunas do Norte e Nordeste e também nas praias de rio no Baixo Amazonas. Em breve, em Piracaia.
As sementes germinaram. Agora é só mudar para vasos individuais e depois para a terra em Piracaia |
E, se para comer in natura a fruta não exerce grande apelo, na cozinha é usada para o preparo de uma deliciosa compota, como esta. O dulce de icaco é uma sobremesa emblemática e apreciada em Zúlia, na Venezuela, mas também em Havana e outras mesas caribenhas. E, na minha, daqui a alguns anos... Por enquanto, vamos ficar de olho nestes frutos não convencionais que encontramos fartamente à beira de nossas praias.
Outros nomes por aí: engmo, jingimo e mafua, cocoplum, paradiseplum, fat pork, maçãzinha da praia, ciruela de algodon etc.
Assinar:
Postagens (Atom)