quinta-feira, 28 de maio de 2009
Paladar - Cozinha do Brasil: deu na Folha
Reconstrução da comida do Rodrigo, do Mocotó, por Nina Horta, numa brincadeira
Folha de S. Paulo. São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009
Uma vista d'olhos na comida
NINA HORTA O que estão lidando com jurubeba e outras ruindades para preparar essa aula, do venenoso ao saboroso!
ATENÇÃO, JÁ há um cheiro de comida boa no ar aqui em São Paulo. É a grande festa "Paladar - Cozinha do Brasil". De 4 a 7 de junho de 2009, no Grand Hyatt. Vai ser boa? Sempre é. Essas reuniões quando não servem para uma coisa servem para outra, mas sempre servem, sempre valem a pena.No ano passado me admirei muito com outro encontro -foi o ano dos espanhóis, todos reunidos aqui, ensinando a desmanchar azeitonas e tomates e a refazê-los depois. Um pouco como aquela coisa turística de estar numa cidade linda e subir 40 andares para vê-la de cima, de binóculo. Nós já tínhamos a cidade e o tomate, para que desfazer e fazer de novo?Enfim, depois de todas as filosofias explicativas, só me convence a prova final. Tudo o que aqueles chefs cozinham é uma delícia. É perfeito. Sem discussão, o que se quer de uma comida é que ela seja boa.E que orgulho foi ver o Alex Atala como um velho lenhador a partir um tronco a machadadas e de lá retirar minhocas brancas para executar um prato típico. Ele sabe das coisas. O que vale é o drama.Então, quinta, sexta, sábado, domingo, de 4 a 7 de junho, vamos ver catar turu no tronco, aprender muito, duvidar, contribuir, dar risada, ver gente que não se vê todo dia ombrear com nossos experts e sommeliers. Você escolhe quem mais combina com seu gosto em matéria de vinhos e comidas.Não vou lidar com os vinhos, e sim passar uma vista d'olhos sobre a comida. Primeiro, "Que Fruta É Essa", palestra de Neide Rigo. Adoro o jeito dela, situação "catar mato no trilho do trem e fazer uma sopinha".E Helena Rizzo com aquela feijoada mini, que é a essência das feijoadas resumidas numa colher? Sem contar que, depois de um dia cheio de laboratórios, debates, há os jantares. Vejo que um deles se chama "produtos brasileiros com tradução argentina". É a Paola Carosella, simples, refinada, gostosa!No sábado, claro que é feijoada, e feijoada da Mara Salles. E a inquieta Carla Pernambuco vai nos mostrar as semelhanças de nossa comida com a do Peru. Esse Peru está cheio de segredos, dos quais nem suspeitamos, só conhecemos aquelas batatas enrugadas.E batendo castanholas, atención!, Andoni Luiz Aduriz, do restaurante Mugaritz. Já andou por aqui, cozinhando muito bem. Da primeira visita era "flaquito", hoje é um rapagão seguro, aquele que pega um tomate e fica "pensando" o tomate.Pensa na casca, na polpa, na semente, o caldo cru, cozido, o cheiro quando pisado na horta, a folha, a cor, desde o verde até o vermelho, e, enquanto o tomate não pisca para ele, não dá por encerrada sua meditação. E daí parte para a salsinha.Adoro seu bacalhau cozido no azeite, fogo baixo, nada se desmancha, o gosto do peixe é inteiro.Até agora, tudo doce como o mais doce doce de batata-doce. Mas eis que surge o laboratório do amargo, das três bruxas boas, Mara Salles, Neide Rigo e Ana Soares. Ah, o que estão lidando com jurubeba, endívia, catalônia, chicória, laranja, fel, guariroba, Campari, Unicum, Underberg e outras ruindades para preparar essa aula, do venenoso ao saboroso! Cuidado! Elas não são de confiança!Nesse dia, não perco por nada o Rodrigo Oliveira. Gosto desse rapaz e da comida dele. E não deveria gostar. Num mesmo dia, ao me apresentar à mãe, me brindou com dois adjetivos que benza Deus. "Mãe, esta é dona Nina, fofa, fofa, mas manguaceira como a senhora." O mais ofensivo foi fofa, é claro. Tudo desculpado pelo luxo do seu torresmo.Churrasco, cerveja, queijo mineiro, a própria Minas e por último Alex Atala, que vai ensinar mesmo é um prato tipo arroz-com-feijão, mas com técnicas modernas, "foudroyantes", a la Hervé This. Ué, desistiu do turu? Deus seja louvado. ninahorta@uol.com.br
Que fruta é esta?
As fotos abaixo são da minha amiga fotógrafa Inês Correa (do blog Corpo em Imagem) que aproveitou pra fotografar também as que trouxe de Fartura e que todo mundo conhece (banana, jaca, laranja) e que portanto não preciso levar para a aula. Mas as outras, espero levar todas. Na legenda, onde aparece cruá de duas cores, leia-se apenas "cruá". E o tamarindo está meio passado, mas a foto ficou bonita assim mesmo. Para mais informações e compra de ingressos, ligue para 11- 2838-3222, escreva para paladardobrasil@hyatt.com.br ou acesse www.paladardobrasil.com.br. Agora, vou pra Porto Alegre e tchau. Volto na terça. Bom fim de semana!
Outras fotos da Inês: http://picasaweb.google.com.br/correa.ines
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Mercados da Terra: alimento bom, limpo e justo
terça-feira, 26 de maio de 2009
Estamos no Blog do Paladar
Foto: Cíntia Bertolino. Mara Salles no centro. Eu, a da mãozona e Ana Soares, da mãozinha A Cíntia Bertolino munida de câmera fotográfica apareceu numa de nossas reuniões para espiar o que estávamos aprontando de amargos ... E escreveu lá no blog do Paladar. Espie lá.
Jurubeba. Em conserva. Arroz de cúrcuma e camarão com jurubeba
1 xícara de jurubebas bem verdinhas
Sal para escaldar
1 xícara de vinagre de vinho branco
1/3 de xícara de água
1 colher (sopa) de açúcar
½ colher (sopa) de sal
1 colher (chá) de sementes de coentro
3 cravos
1 dente de alho cortado em fatias
2 pimentas malaguetas ou 1 dedo-de-moça cortada em rodelas
Coloque para ferver uma chaleira com bastante água. Lave bem as jurubebas, cubra com água fria e leve ao fogo com 1 colher (chá) de sal. Quando ferver, escorra, coloque mais água quente (da chaleira) com sal e repita o operação. Faça isto de 5 a 7 vezes para que as bolinhas fiquem com um amargo gostoso. No final, acrescente todos os outros ingredientes e deixe ferver. Coloque ainda quente em vidro de conserva de meio litro aferventado e também ainda quente. Feche bem e deixe na geladeira. Espere curtir por pelo menos uma semana.
Nota: o arroz não é contagiado pelo amargor da jurubeba, de modo que quem não gosta é só deixar de lado.
Jurubeba Leão do Norte: começou como remédio, vendido em farmácia, mas hoje o vinho temperado com ervas e jurubeba pode ser encontrado em supermercados e bares populares. Nunca provei, mas hei-de. Ao entrar no site da empresa, que parece tão bem cuidada, deu vontade. Vão pedir sua data de nascimento só pra conferir se não é menor de idade. Pode confiar. http://www.leaodonorte.com.br/index1.php
Comida de cerca ou o céu é o limite
Fotos: Inês Correa. Cará-do-ar ou cará-moela. Já falei muito dele aqui. Caso não tenha visto e queira saber mais, é só procurar no campo de busca aí do lado.
Também já falei da orelha-de-padre. Foto: Inês Correa O quintal da minha casa é um ninho, mas costumo enterrar qualquer coisa que nele possa germinar, de modo que aqui tenho um show room de várias espécies vegetais. Marcos costuma dizer que um pouco pra baixo e um tanto pra cima, até onde as plantas consigam alcançar, é tudo nosso. Como na superfície plana já não há mais espaço, estou na onda de explorar as laterais dos muros, em direção ao céu. Graças a isto já posso colher cará-moela e orelha-de-padre. Em breve, talvez, cruá, uva, bertalha, feijão de corda, caruru-do-reino, todas belas trepadeiras que já alcançaram a corda. Nesta mesma época do ano passado, o cará-do-ar estava ASSIM e o céu estava igualmente lindo. Como minha amiga Inês Correa veio aqui ontem e aproveitou para fazer estas fotos lindas, aproveito para mostra-las. Outras de frutas, mostro depois.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Feijões de lima ou favas rajadas
Já falei delas e mostrei modo de preparo AQUI. Mas, estas que meu pai colheu agora em Fartura, são filhotes das que trouxe de Porto Alegre. Um pouco diferente no rajado. Bem que gostaria de poder postar uma receita bacana com elas, mas, por enquanto, poucas vagens estavam secas e o que rendeu foi usado para fazer quatro colares - para mim e minhas três irmãs. Ideia do meu pai. Eu preferia tê-las comido. Então, deixo aqui uma receita antiga da minha mãe com as favas brancas do meu pai e a carne de fumeiro da casa. Mas que pode ser feita com favas rajadas e carne seca: Cozido de favas com carne de fumeiro
Resposta à charada do post anterior
Praticamente todos que responderam acertaram. Cruá, jamelão, melão do norte. Na foto, um bacupari para comparar o tamanho (estes tinham cerca de 2 quilos cada).
Já falei do cruá e dei receitas AQUI.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
O que é, o que é?
Vídeo da visita ao Ceagesp
Só para completar o post anterior, um vídeo da visita. E falando em jenipapo, outro dia a Eliana me falou assim: Ô, Dona Neide, eu sei que a senhora gosta destas coisas estranhas e muito do que a senhora faz eu gosto também, agora vai me desculpar, viu, mas genipapo é esquisito e quem gosta é esquisito igualmente a ele. Na verdade, eu nem gosto muito. Sinto um pouco gosto de plástico, mas melhor ela acreditar mesmo que sou esquisita. Porque vai que eu simplesmente não comi um bom até hoje. Ou, o que é pior, não soube preparar corretamente. E isto é bem possível.
Esclarecimento: a caixa de pitaia branca está entre R$ 30,00 e 35,00 e vem com cerca de 3 quilos (só pra lembrar: no mercado, elas custam de R$ 70,00 a R$ 120,00 o quilo, dependendo da cor). E os fornecedores são estes mesmos do Ceagesp. Agradeço o livro vendido fiado pelo Seu Makoto.
Frutas no Ceagesp
Tudo bem, é chato. Você tem que acordar cedinho, se não, não encontra as frutas que quer. E também tem que andar no meio dos caminhões e da homarada e procurar não se importar com as cantadas (se bem que depois de uma certa idade, tanto faz de onde vem o assobio, isto dá uma levantadinha na auto-estima). Mas, visitar o setor de atacados do Ceagesp depois de ter a inteligência agredida com os preços das frutas no Mercadão, todo o incômodo é quase irrelevante. Pensar que um quilo de cruá estava a R$ 30,00 no Mercado e pelos mesmos 30 eu comprei 3 cruás totalizando uns 6 quilos, realmente é um bom negócio. E o melhor de tudo é que você encontra frutas exóticas e as nossas nativas a preços convidativos. Principalmente se você pode dividir uma feirinha com amigos e família.
Encontrei hoje lá o feirante que no domingo me vendeu os maracujás roxos e que me indicou o boxe do Senhor Makoto, onde nos encontramos ao acaso. Não foi a senhora que estava na feira no domingo procurando aquelas tranqueiras? Dizendo para o o dono do boxe: Eu falei pra ela, lá no Seu Makoto a senhora vai encontrar esta tranqueirada toda. Entenda-se por tranqueirada nossas frutas nativas como cupuaçu, maracujá roxo, sapoti, graviola etc, já que é mais fácil encontrar nectarinas, ameixas, peras e maçãs, de clima temperado, que as nossas, tropicais, potentes, ácidas e perfumadas.
Mas tudo bem, porque ele foi generoso em me indicar seu fornecedor (coisa que no Mercado não acontece). E a indicação não poderia ser melhor. No meio daquele ambiente hostil, barulhento, feio, cheirando a combustível de caminhão, que acaba embrutecendo os homens, eis que surge do meio das caixas de papelão um homem dócil de fala baixa. Seu Makoto é gentil, informado, interessado, paciente. Disse que tem aquele negócio há 35 anos e me indicou o livro de frutas do Harry Lorenzi. Generoso, me aconselhou a comprar direto do site, que era mais barato. Não satisfeito, ainda decidiu que, se eu quisesse, me venderia o livro que tinha sobrando, ainda na caixa, a preço de custo. Respondi que não, que meu dinheiro tinha acabado e eu estava sem cheque (e cartão de crédito não vale nada por ali) e que compraria depois pelo site . E ele fez questão que eu levasse o livro assim mesmo, confiando apenas na minha palavra. Que eu pagasse de outra vez que fosse lá. Preferi trazer os dados para fazer um depósito, feliz por saber que ainda existe gente assim. Ah, sim, as frutas são parte da minha pesquisa para a aula de frutas, no dia 05.
À mesa, o amargo
Aninha registrou tudo na lousa da cozinha Nenhuma de nós três imaginávamos que o tema amargo daria tanto pano pra manga, ops, pra jiló. Já fizemos várias reuniões e ontem ainda resolvemos organizar um jantar temático, uma espécie de ensaio aberto para nossa aula no evento do caderno Paladar, a fim de ouvir opiniões. Por isto andei faltando neste espaço. O jantar foi doce com gente cheia de opinião sobre amargos. Para Nina Horta só revelei a amargura do cardápio na porta do elevador. Ela até engasgou, porque odeia amargos em geral. Palavras dela, por email alguns dias antes: as coisas não são doces ou amargas só por si próprias e sim uma fusão entre o que come e o que é comido. Um pêssego é amargo para uma mulher de luto. Metade do amargo já está na alma. Não, não existe comida de alma amarga que nem jiló. E o jiló pode ser doce comido junto com o homem que você ama, fazendo a vontade dele. Pois ela comeu e gostou. O professor Carlos Lemos disse ter comido o pior dos amargos: fel deixado num pedaço de fígado de frango. Ele era jovem e nunca vai se esquecer da sensação horrível. Já o poeta Horácio Costa leu um poema de sua autoria sobre o Unicum, o licor húngaro feito de ervas amaríssimas. E entre tantas outras considerações inteligentes, Carlos Dória brincou que o amargo é o equivalente no sabor ao Flicts na cor (lembra do livro Flicts do Ziraldo). Bem, a casa da Ana Soares estava animada e todo mundo tinha uma boa história sobre amargos - Betty Kovesi, Mara Salles, Ivo, Mariana, Henrique, Fabiana, Valentina, Priscilla e outros queridos.
Um dia antes, a combinação
Dória à frente com as espadinhas de guariroba. À esquerda, Betty Kovesi e à direita, ao fundo, Nina Horta
Bem, cheguei às 2 da matina em casa docemente encharcada de amargura, mas com a alma alegre e a boca boa para degustar frutas logo cedo. Levantei cedinho e rumei ao Ceagesp para pesquisar para a outra aula do dia 05 - Que fruta é esta?
Programação completa, no site do Paladar Brasil.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Quanto vale uma pitaia? Ou sorbet de pitaia
Sorbet de pitaia 6 colheres (sopa) de açúcar
Do Projac para o Mercadão
Da esquerda para direita: Marcos Nogueira, eu, Filipe Miguez, Luiz Henrique Nogueira, Eduardo Farias, Marcello Anthony e Laís Pimentel.
Meu amigo Filipe Miguez, do Rio, estava aqui neste fim de semana e quis conhecer o Mercadão. Combinei que nos encontraríamos lá. No meio do caminho, quando eu já estava na porta, ele ligou para saber como estava o movimento, porque alguns amigos etavam indo juntos, entre eles o Marcello. O Anthony. Podem vir, que o movimento está tranquilo. Levando em conta que desci do metrô São Bento e desci a Ladeira Geral andando a passinhos curtos, num fluxo contínuo e sem chance de ultrapassagem, estava tranquilíssimo o movimento ali. Mas foi só dar mais uns passos para eu ver que estava totalmente equivocada. Não dava mais tempo. Aquilo não é mais um mercado de paulistano, é um deus-nos-acuda de turista. Para galã global, então, nem pensar. Coitado do Marcello. E coitados de nós que estaríamos com ele.
O bonitão (e bota bonito nisto) achou que poderia andar por aí, lindo, leve e solto, como simples mortal. Teve que andar meio cabisbaixo, de óculos escuros, no meio de nós. Mas nem uma burca seria capaz de disfarçá-lo e livrá-lo dos flashes amadores e celulares indiscretos para que pudesse comer em paz. Ele vai passando e deixando um murmurinho entre os clientes de frutas, um cochichinho de vendedoras atrás do balcão, um assanhamento de garçons e uns gritinhos lá longe. Comemos faláfels e quibes no Raffoul lotadíssimo. Comida bem sem-gracinha, mas foi onde deu pra sentar. Como estávamos em boas companhias e o chope estava gelado e cremoso, enquanto conseguimos conversar, foi bom. Os amigos do Filipe, todos cariocas do Projac, atores, produtores, são simpáticos e divertidos (o Filipe é dramaturgo, roteirista da novela e foi um dos que escreveu Senhora do Destino - escreve lindamente, mas suas mais lindas falas estão nos emails que me escreve, que já daria um livro, todos aqui guardados como preciosidades).
É claro que o Marcelo Anthony teve que ficar quieto num canto enquanto fomos visitar o Mercado gozando do privilégio do anonimato. Mas confesso que fiquei irritada com muitas coisas. Fazia algum tempo que não ia lá e queria aproveitar para ver as frutas nativas para a aula no Paladar - Brasil. Também queria ter tido a calma necessária e a facilidade de locomoção dentro do mercado para mostrar algumas coisas interessantes para o Filipe. Impossível naquela muvuca.
Sendo ou não sendo Marcello Antony, aquilo não é mais programa para cidadão paulistano, pelo menos aos sábados. A fila para o sanduíche de mortadela com absurdos 400 gramas de recheio está cada vez maior. E as pessoas cada vez mais enlouquecidas. Para conseguir mesa as pessoas se jogam sobre elas. Mas voltarei lá qualquer dias às 7 da matina de uma segunda-feira.
Quando fiz um livro sobre o Mercado há uns 5 anos com os amigos Walter Falceta, Juraci de Souza e Geni Kikuta (Mercado Muncipal de São Paulo, 70 anos de cultura e sabor - abooks editora, com prefácio da Nina Horta, esgotado), os boxes eram concessões que passavam de pai para filho. Sendo assim, nem que hoje haja pagamento de aluguel ou condomínio, nem que seja caríssimo, nada justifica vender o quilo da pitaia a R$ 120,00 (a amarela; já a branca e a rosa são bem mais baratas - uma, R$ 70,00 e a outra, R$ 90,00) ou de achachairu a R$ 59,00 o quilo, num ponto movimentado como aquele. Endoidaram.
Bem, comprei achachairu para a aula. O Filipe levou um tanto para o Rio, deixou saudade, um ossinho para Dendê e ainda uns livros de presente. E da próxima vez arrumaremos um disfarce de carregador ou office boy de estaleiro para o Marcello Anthony, que está em cartaz em São Paulo com uma montagem de Nelson Rodrigues.
De lambuja, a entrevista do Marcello no Jô
Dendê não gosta de wasabi
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Nossas frutas vermelhas: maracujá de casca roxa
Ultimamente tenho saído à cata de frutas desconhecidas de muitos paulistanos para a palestra que vou dar no evento Paladar - Cozinha do Brasil. Nada de kino ou kiwano, pitaia, rambotão e que tais colombianos. Também nada contra, afinal, canistel é uma delícia, jujube também. Mas quero mostrar frutas nativas nossas. Agora é uma época ruim para frutas. Já não há mais cambuci, uvaia e tantas outras que queria mostrar ao vivo e em cores. Mas estou congelando as que vou encontrando, para o caso de não ter exemplares frescos no dia 05 de junho. Já tenho jatobá, jenipapo, butiá, araçá vermelho, sapoti, achachairu, abiu e outras tantas. Mas vou mostrar também cacau, cupuaçu, cruá, que não congelei por causa do tamanho, mas hei de tê-los frescos. Talvez mostre uma ou outra exótica, mas bem adaptada embora renegada.
No sábado estive no mercadão e ontem, no Ceagesp, onde comprei estes maracujazinhos roxos. Lindos por dentro e por fora. Perfumadíssimos. O sabor é muito parecido com o mais comum e comercial que conhecemos, mas a diferença está nesta casca tingida de antocianina.
A palavra "maracujá" vem de "mara-cuiá", que significa "alimento que já vem dentro da cuia" (como se vários outros também não viessem!). O fruto possui casca dura, geralmente de cor amarela, roxa ou avermelhada. Tem aquelas sementes negras e numerosas, revestidas por arilo (parte comestível) polposo, suculento, perfumado, de sabor ácido e agradavelmente pronunciado. Há deles mais doces ou mais azedos. Afinal, só no Brasil são conhecidas mais de 150 variedades de maracujás nativos, sendo que, tanto para o consumo fresco para fazer sucos como para a indústria, o mais comum e comercial é o maracujá-azedo ou maracujá amarelo (Passiflora edulis ). Ou seja, de tantos, conhecemos UM. Sua maior produção se dá no Nordeste , onde o clima é mais favorável. Algumas variedades de casca roxa como este podem ser encontrados mais frequentemente nas regiões Sul e Sudeste do país.
Embora o maracujá seja tido muitas vezes como calmante, sabe-se que o alcalóide de ação sedativa praticamente não está presente no fruto, mas somente nas folhas e raízes. De qualquer forma, que ele acalma, acalma. Seja porque é bom, seja porque é resfrescante, seja porque é muito nutritivo. Bem, cheguei em casa, congelei alguns e parti outros. Comi uma colherada da polpa, julguei boa para suco e tudo o mais que se pode fazer com ele. Mas não pude jogar fora a casca. Afinal, o pigmento estava todo lá. Lembrei de uma geleia deliciosa que minha amiga Silvinha faz com as cascas grossas do maracujá comum misturadas depois com as sementinhas. E também das pétalas de casca em compota que comi no Tordesilhas na semana passada durante nossa reunião para a aula de amargos. O doce tinha um amarguinho de fundo muito bom, com todo o aroma e gosto peculiar do maracujá. Então, foi só cozinhar as cascas e fazer uma geleia como a da Silvinha, já que para pétalas a espessura era fina demais.
Geléia de maracujá roxo
8 maracujás roxos
Água
Açúcar
Lave bem os maracujás, parta ao meio e tire a polpa. Reserve. Coloque as cascas numa panela, cubra com água e leve ao fogo e deixe cozinhar por cerca de 15 minutos ou até ficarem macias. Escorra e, com uma colherinha separe a polpa macia da película externa, mais dura. Bata esta polpa com mixer até que fique bem cremosa. Reserve uma colher (sopa) das sementes e bata o restante com um pouco de água, sem deixar quebrar as sementes. Coe, descarte as sementes retidas e junte o suco à polpa das cascas. Meça o volume desta mistura e acrescente metade deste volume em açúcar. Misture tudo numa panela e leve ao fogo. Quando começar a espessar como um doce cremoso, junte as sementes reservadas, deixe ferver e tire do fogo. Guarde na geladeira em vidro limpo e aferventado e use como usaria qualquer outra geleia.