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Peixe frito com farinha, açaí branco e açaí preto. No Ver-o-Peso |
Sumi um pouco, pois estes dias foram puxados. Primeiro estive com hóspedes gringos que vieram pra Copa - um casal fofo de americanos de São Francisco que virou amigo; depois, encontro do aikido no sítio e a curadoria que estou fazendo de um ciclo de atividades sobre comida no Sesc Belenzinho:
Comer É Mais! Ontem começou com a aula da Mara Salles. Não consegui avisar e, também, logo lotou. Mas os demais encontros avisarei na página "Próximos passos".
As coisas vão acontecendo, mas não quero deixar de registrar pouco a pouco a viagem ao Pará. Façamos de conta que ainda estou em Belém. Logo vou pro Marajó, o que significa que os posts sobre a ilha começam amanhã.
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Foto feita no final do jantar das Boieiras: Por Denise Araújo, do Blog Letras Saborosas |
Para quem não acompanhou os relatos, fui ao Festival Ver-o-Peso da Comida Paraense a convite da organização do festival e da Embrapa. Falei de mandioca num fórum técnico sobre o assunto e cozinhei junto com a Deiseane, no fechamento do evento que foi o Jantar das Boieiras - as pessoas pagam um ingresso e ganham bilhetes para comer nas diversas bancas comandadas por duplas, um chef e uma boieira, que neste dia cozinham juntas. Eu não sou chef, mas fui convidada para cozinhar também e não fugi ao desafio. Minha dupla, Deiseane Ferreira, fez um delicioso risoto com o coquinho pupunha e, para completar, fiz uns "peixinhos" de folhas de mandioca mansa - a folha inteira cozida, empanada em massa de trigo e polvilho de mandioca e frita, que fica com formato de um peixinho. Muita gente repetiu. Agora, a muvuca maior mesmo foi em frente à banca do Alex Atala, por acaso ao lado da nossa. Depois dou a receita do peixinho aqui.
Outros chefs presentes formaram uma equipe de peso que você pode conferir na foto acima, entre eles, Henrique Fogaça, Janaína e Jefferson Rueda e Juarez Campos, só para citar alguns. Por aí, você imagina o que foi este grande jantar. Como fiquei fritando e servindo, não tive tempo de experimentar tudo o que foi preparado pelos colegas, mas senti os perfumes e ouvi os bons comentários. Nem fotos consegui tirar, só uma. Por isto, recorro às fotos alheias.
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A foto que consegui fazer do jantar: Deiseane servindo seu risoto. Alex Atala lá atrás causando. |
Pena também que, como estava participando destas atividades e ainda havia muitos passeios gastronômicos programados, mal pude acompanhar as outras atrações do festival. Em compensação, aprendi bastante nas conversas paralelas e nas visitas. E sorte que a Denise Araújo, que vive em Roraima, fez uma cobertura mais completa de tudo e você pode ver no blog dela, o Letras Saborosas:
http://www.letrassaborosas.com.br/2014/06/letras-saborosas-07062014.html.
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Pere Planagumà e eu |
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Deiseana Ferreira e eu. Foto de Denise Araújo |
Aliás, a foto minha com a Deiseane, aí em cima, é de autoria da Denise Araújo. A anterior, com o chef Pere Planagumà, do restaurante
Les Cols, que veio junto com o outro espanhol Pere, o cientista Pere Castells, da Fundação Alícia, foi ele quem pediu pra alguém tirar no seu celular e gentilmente me mandou (aliás, veja as belas fotos que ele fez da viagem no
Instragram).
Mas, falando em boieiras - são estas mulheres que fazem e servem boia no Mercado Ver-o-Peso. E a boia pode ser apreciada logo no café da manhã. Tem comida mesmo: arroz, macarrão, salada, peixe, carne. Já bem cedo, a gente pode ver muitos trabalhadores batendo uma boia. O que sai bem é peixe frito com açaí. O pescado do dia, em grande tamanho e rosado, é frito na hora. Eu mesma não resisti e comi numa das bancas duas vezes, sendo que numa delas, com a amiga Janaína, em pleno nascer do sol, no lugar do café com pão, já que saímos do hotel às 6 da manhã sem comer, para visitar a feira do açaí.
Da primeira vez que estive em Belém, já tem anos, para cá, muita coisa mudou. Hoje as bancas são asseadas e os boieiros e boieiras, uniformizados e melhor treinados quanto à higiene. Claro, vi ali muita coisa a ser melhorada, mas pelo menos está tudo à mostra, diferente de muito restaurante que a gente acha um luxo bela viola da porta da cozinha para o salão, mas a parte escondida ou o fundo da geladeira é um verdadeiro pão bolorento. Ou seja, dá pra comer bem no Ver-o-Peso, apesar de o açaí ser ralo.
Não me animei a comer carnes, saladas, arroz ou macarrão (muita gente mistura arroz com macarrão, que eu acho meio bizarro, mas costume é costume) em outras barracas. Agora, aquelas porções fartas de peixe fresco frito são tentadoras. E o açaí tirado na hora também. No dia da volta, quando desci do navio vindo do Marajó, parei ali para almoçar e dei sorte de cair numa banca que tinha naquele dia o açaí branco - verde, na verdade -, que tem um sabor especial, mais adocicado. A primeira vez que se come açaí com peixe ou com farinha acha-se estranho, já que não se parece com nada a que estamos acostumados na parte mais ao sul do país - açaí com açúcar, granola, leite condensado etc não vale como comparação. Isto aconteceu comigo quando provei a polpa pura da fruta pela primeira vez. É como aquela sensação de tomar uma cerveja amarga na pré-adolescência quando se está ainda acostumado ao sabor infantil e doce. Porém, depois que as papilas se adaptam, ah, a gente não quer outra coisa. É como cobrir um peixe com um azeite de oliva denso, colorido e farto.
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Açaí branco e preto (ou verde e vinho) |
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Com farinha |
Junto com o peixe, vem uma tigelinha de alumínio bem areado cheia de açaí. Neste dia, podia escolher, açaí preto ou branco. Perguntei se podia ter os dois para provar e meu desejo foi atendido. Vem também uma tigela com gelo, outra com farinha e um copo de água bem gelado. A primeira coisa que fiz, foi colocar o açaí sobre o peixe. Depois fiquei reparando como os frequentadores faziam. A farinha e o açaí não vão para o prato. O jeito certo de comer é assim: leva-se à boca uma garfada de peixe e, em seguida, uma colherada de açaí, direto da tigela. O gelo é pra refrescar ainda mais o açaí, e a farinha pode ir só à boca, uma colherada seguida ao açaí, ou ser polvilhada sobre o açaí, onde incha e forma um pirão grosso. Depois de ter observado e perguntado, passei a comer como uma nativa e lamentei quando dei a última bocada. Repetir seria exagero.
E assim fui forrada e satisfeita para a viagem de volta, dispensando assim aquelas bobagens de comer do avião.