
Clique, amplie, mordisque. Resposta na segunda. Bom fim de semana!


Atendendo à provocação do Dória, comi ontem o sarapatel e a galinha na rua Tatuí, 167, mesmo sem pertencer a guia gastronômico nem nada disto. Pra falar a verdade, nem gosto muito de falar de restaurantes. Mas fiquei curiosa quando ele mostrou a foto daquele boteco mal ajambrado quase em frente ao Così. Lembrei que meu mais recente amigo, Andres Sandoval, morava na rua e perguntei sobre o lugar. Ele respondeu que já havia comido lá, gostava, mas tinha mudado de dono (o antigo agora é um taxista). E disse ainda que se eu fosse comer ali era só chamar que ele iria junto. Pois ontem aconteceu. Atencioso, teve ainda o cuidado de ir um dia antes comer a galinha para ver se a qualidade da comida continuava a mesma. E continuava, já que a cozinheira é a mesma. Pedimos sarapatel, que poderia ter um tantinho mais de cominho, e a galinha, que estava ótima, sem gosto de pena, com bom tempero, bem cozida, só que com muito coentro para o meu gosto. As sobrecoxas grossas não me pareceram as de galinhas caipiras trabalhadeiras, mas eram gostosas. Enquanto o feijão estava cremoso, fresquinho e bem temperado como os melhores caseiros, o arroz estava meio sem-graça, parecido com aqueles requentados no vapor - gostoso no tempero, mas não maravilhoso na textura. Também, sou chata com arroz e pão de restaurante. Pelo menos não era uncle-bens. E não nos sentimos lesados no bolso. Com uma Tubaína e umas rodelas de tomate, tudo isto saiu por 28 contos*. Aceitamos recomendações de botecos desconhecidos que façam comida boa que, espalhados entre os bairros de São Paulo, deve haver às pencas. 

Nota: gostaria de ter colocado uvas passas, mas não encontrei; queria pimentão vermelho e não o verde, mas não havia; umas azeitonas pretas cairiam bem, mas não me lembrei delas; e o tomate não era pra entrar, mas estava dando sopa na geladeira. Então, faça sua própria mistura, boa sorte e nhac.




Requeijão moreno com cajuzinho do cerrado Não consegui confirmar o nome científico do exato cajuzinho que comprei, já que duas espécies do gênero Anacardium são chamadas popularmente de cajuzinho-do-cerrado, caju-do-cerrado ou cajuí: o Anacardium othonianum e Anacardium humile. De qualquer forma, era um mini caju muito perfumado, mas no retrogosto senti um azedo não de ácido mas de estragado mesmo. A espuminha na calda confirmava a contaminação. Na dúvida, foi tudo pro lixo. Mas a foto fica como dica de combinação, pois acho que se merecem. Só vou ficar sabendo mesmo quando tiver de novo a oportunidade de provar uma amostra sã. Se você já provou, me conte. Recheio para ravioli com polpa de baru - a receita publiquei antes de ontem.

Sobre o requeijão
De uma só tacada conheci melhor a vida e carreira do chef boliviano Checho Gonzáles que aparece no videoclipe acima, enviado ao Come-se pelo produtor Gilson Val, e ainda a música Província, de Carlos Posada e seu gostoso sotaque pernambucano. Gilson mandou o link a propósito do panelaço da cozinha, da cena gastronômica em ritmo de guitarra. E eu adorei a filmagem, o enquadramento, a luz, a massa de pão e a lâmina cortante no desce-e-sobe sobre a carne. Mas a música, pra mim, foi uma surpresa boa e já virei fã do jovem Carlos. Fui atrás e, de lambuja, acabei conhecendo o trabalho da banda Bárbara e os Perversos, da qual ele faz parte. Se a gente começa a fuçar, ver e ouvir myspace, youtube e que tais, este mundo estimulante não tem fim. Mas, deixe eu ir lá ver meu bolinho de fubá de arroz com abóbora que está a fermentar.
Ah, a produção do vídeo é do Gilson Val e de seu sócio há 10 anos, Eduardo Brand, que também é o diretor. Seus filmes já participaram de vários festivais como o Internacional de Vídeo do Japão, o Independente de Cinema de NY e o Internacional do Rio. Vale a pena conferir.


Mara Salles e seu sócio no Tordesilhas, Ivo Ribeiro, acabaram de voltar do Norte. Junto com o chef Leonardo Botto, do restaurante La Frontera (R. Coronel José Eusébio, 105, Higienópolis, 3159-1197), a convite do Instituto Socioambiental, foram conhecer São Gabriel das Cachoeiras, onde navegar é preciso. À cidade, que no mapa tem formato da cabeça de um cachoço, na beira do alto rio Negro, só se chega por água ou via céu. Mara me convidou para ir também, mas tinha a viagem para Pirenópolis, e eu fiquei na vontade. Um dia, quero ir. Pelo menos, os chefs voltaram com a mala cheia e ontem, com outros sortudos (Carlos Alberto Dória e Pedro Martinelli também estavam lá), Marcos e eu tivemos o privilégio de provar algumas das criações a partir dos ingredientes da bagagem. Tudo temperado com pimenta defumada dos Baniwa e entremeado de vistosos bijus. O cardápio foi só para apresentação dos ingredientes e preparos para os amigos, uma gentileza dos chefes, mas duvido que depois desta viagem o cardápio do Tordesilhas estará livre dos pitacos do norte. Não será de se espantar, portanto, se a gente der de cara com um tucupizinho preto aqui ou uma formiguinha saúva acolá temperando as maravilhas da dona Mara. Por enquanto, fique com as fotos dos pratos que estavam todos divinos, de causar comoção e orgulho pela nossa comida que não conhecemos.




Numa panela, coloque a banha e o alho. Leve ao fogo e deixe dourar. Junte o arroz e a cúrcuma e refogue, mexendo, por cerca de 1 minuto. Junte o sal e mexa. Adicione o catolé, o pequi e as cebolinhas. Por último, despeje a água fervente e não mexa. Abaixe o fogo no mínimo, tampe e deixe cozinhar até não restar mais água e o arroz ficar macio. Desligue o fogo, deixe a panela tampada por cerca de 10 minutos. Junte a cebolinha e sirva.
Rende: 4 porções




Pelas respostas à última charada, vejo que muita gente já conhecia estas castanhas que para mim, assim como para os outros leitores que arriscaram, ainda era um mistério. Acertaram em cheio: Elena sem H, Bruno Moreira-Leite, Isabel, Sanoliv e Sítio Curupira (inclusive já foram mostradas em seu blog).
De todos os ingredientes que falo aqui, muitos chegam até mim e não eu a eles. Às vezes em dose dupla. Explico: no feriado acabei não indo ao Vale do Ribeira, na troca de sementes dos quilombolas, mas precisei ir a Piracicaba visitar a sogra. E sempre que vamos para aqueles lados insisto com o Marcos para que, em vez de pegar a reta e rápida Bandeirantes, vá pela Rodovia Anhanguera, mais longa e cheia de curvas, por mero capricho. Sem reclamações, sou sempre atendida. Só para poder parar no Frango-Assado original, do lado direito da pista, na altura de Louveira. Não pelo frango nem pelos enormes pães de semolina, carros chefes do lugar, mas porque é lá onde se vendem umas mudas de frutas estranhas. Desta vez me chamaram a atenção a Physalis trepadeira, de variedade diferente dos camapus que tenho aqui nas calçadas, e um pé de amendoim de árvore, do qual nunca tinha ouvido falar. O rótulo pendurado no galho não dava grandes dicas, mas dizia que as sementes poderiam ser torradas e tinham gosto de amendoim. Ótimo, de comer.
Até aí, tudo bem, as coisas me chegam geralmente assim. Mas, para completar o aprendizado, em Piracicaba fomos almoçar por acaso na casa de um primo do Marcos e entre uma garfada e outra passei um olhar indiscreto pela cozinha procurando algo de meu interesse. Dei de cara com uma assadeira cheia de frutinhos secos abandonada num canto. A pergunta de sempre: O que é isto, é de comer? / A gente dá pro papagaio, tem um pé lá na chácara, mas tem gente que come, tem gosto de amendoim foi a resposta do primo. Quebrei uma das nozes apertando a casca firme e quebradiça e provei; tinha mesmo o sabor de amendoim cru, muito suave, gostoso.
A palavra amendoim e o sabor que senti me fizeram desconfiar se tratar da mesma planta que havíamos acabado de comprar. Fomos conferir no carro e o primo confirmou, era a própria. Fiquei tão empolgada que quis ir até a chácara ver a árvore com frutos. O primo tinha acabado de vir de lá, mas topou voltar, já que estávamos perto – cerca de 8 quilômetro dali. Chegando ao pomar, contemplei, colhi, fotografei, comi. E no caminho de volta, ainda desviamos para ver mais uma carreira de árvores com frutos na calçada de outra chácara. Pronto, estava satisfeita. Agora era chegar aqui e saber mais.
Descobri que a Bombacopsis glabra Pasq. é parente da paineira, e é também conhecida como castanha-do-maranhão, cacau-do-maranhão, mamorana, cacau-selvagem ou amendoim-de-árvore. A família Bombacaceae, à qual pertence, está distribuída pelas regiões tropicais da América, África, sudeste asiático e noroeste australiano. No Brasil, o amendoim-de-árvore ocorre naturalmente entre Pernambuco e Rio de Janeiro, em formações secundárias de floresta pluvial atlântica e começo de encostas – no interior de matas primárias e densas, esta planta é raridade. Mas, em se plantando, em qualquer lugar dá. Em Santa Catarina é usada como cerca viva e em várias outras cidades é usada como árvore ornamental. Chega a atingir de 4 a 6 metros; tem tronco fino, com no máximo 40 centímetro de diâmetro e folhas compostas e digitadas com 5 a 7 folíolos. A floração começa a partir de setembro, sendo que a safra dos frutos vai de janeiro a fevereiro. Mas, um ou outro fruto pode ser encontrado durante o ano todo - prova disto é que colhemos estes frutos da foto agora, em pleno julho. As cápsulas, quando maduras e secas, caem e se abrem espontaneamente liberando as castanhas cobertas com uma fina paina que se solta facilmente num esfregar entre mãos. Já o cerne comestível é protegido por uma camada mais firme me flexível, quase como uma castanha portuguesa - porém, depois de seca e torrada, pode ser quebrada com a pressão dos dedos. Podem ser comidas cruas ou torradas. Eu preferi cruas, com textura de amendoim ainda verde e sabor do mesmo. Tostadas no forno (deve-se cortar uma pontinha com a tesoura para que não estourem) ganham um sabor amendoado, mais suave que o amendoim. A planta é parente também de outra espécie muito parecida, a Pachira aquatica, que recebe os mesmos nomes populares, além de macuba, e também tem as sementes comestíveis. Porém seus frutos são de cor terrosa e as flores tem pontas vermelhas, diferente da Bombacopsis, que tem flores frutos verdes e flores brancas. Lembro ter visto muitas destas no Parque do Flamento, no Rio. Mas ainda não comi.