Faz muito tempo que estou pra refazer estes cremes, agora também com urucum. Usei como base uma receita de um velho livro de artesanato e adaptei para ingredientes comestíveis. Pelo pisca pisca das luzes chinesas neste último final de semana, vi que já é hora ir pensando em alguns presentinhos de natal, de preferência úteis na cozinha. E de preferência, econômicos - coisa de autônomo que não tem férias, dinheirinho na meia nem panetone da firma. E estes cremes são quase de comer (só não gosto muito da textura da cera de abelha...) Aproveitei também para usar um pouco do excelente azeite Dom Diogo, da Quinta São Vicente, que trouxe de Ferreira do Alentejo. É tão gostoso que dá vontade de comer e se lambuzar. Fala-se muito dos benefícios do azeite para a pele e por isto alguns cremes e sabonetes feitos com base igual a todos os outros, mas com um tiquinho de azeite, custam uma fortuna. O que costumo fazer sempre é juntar cerca de 30 % de azeite no velho e bom creme Nívea e pronto. Melhora a espalhabilidade e deixa a pele mais suave. Para fazer isto, o creme tem que estar bem molinho - em dia de calor ou sob o sol. Tem que ir colocando gota a gota para não desmanchar a emulsão. Não, a pele não fica gordurosa. Também não, a pele não fica com cheiro de salada. Com o calor do corpo, em menos de 5 minutos não resta mais perfume de azeite algum. O mesmo se deu com o creme cuja receita dou abaixo.
Inventei de fazer um mais firme para usar como protetor labial, com coloração de urucum. E ainda com um pouco que capsaicina da pimenta, que é pra deixar os lábios ligeiramente mais ardentes e túrgidos. Como os batons que tem sido anunciados no mercado. Com este você pode comer, beijar e passar várias vezes ao dia, sem se preocupar com o excesso de corantes e ingredientes impróprios para o consumo. E ainda serve para pressionar e temperar um peixinho meio insosso que eventualmente passe pela sua boca. A cera de abelha pode ser encontrada em casas de produtos para cosméticos ou farmácias. E sua função no creme é principalmente servir de emulsificante para manter estável a mistura de azeite e água. Há quem diga que tem propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias. De qualquer forma, em pequena quantidade é inócua e não chega a obstruir poros nem nada disso.
Já o creme pode ser usado no rosto e no corpo todo, mas na cozinha é bom ter sempre à mão, para as mãos e cotovelos ressecados. Diferente de outros cremes, pode ser usado sem problema antes de botar a mão na massa sem medo de contaminar a comida com cheiros indesejáveis. E por não conter antifúngicos nem qualquer outro conservante, se não usar com frequência, é bom deixar na geladeira para garantir maior durabilidade (da última vez que fiz, deixei uma quantidade grande num pote, no banheiro, e depois de uns dois meses houve crescimento de mofo - neste caso, é melhor desprezar). Mas não, não estou vendendo cremes. Foi só uma pausa. É fácil de fazer, veja aí:
10 g de cera de abelha
90 ml de azeite de oliva extra-virgem
1,5 colher (sopa) ou 22 ml de água de rosas ou de flor de laranjeira, usadas em pratos árabes (se não tiver nenhuma dessas águas, use água fervida e fria ou infusão de ervas aromáticas, como camomila ou erva-doce, por exemplo)
Derreta a cera picada ou em flocos, em banho-maria. Ainda no banho-maria, junte o azeite aos poucos, mexendo sempre. Tire a mistura do fogo e vá juntando, gota a gota, do mesmo jeito que se faz maionese - com garfo ou batedor de arame, a água de rosas ou de flor de laranjeira. Quando estiver tudo bem emulsionado, passe para um "banho-maria" sobre água e gelo para resfriar. E continue batendo com batedor de arame até a mistura ficar bem fria e cremosa. Pronto. Agora é só colocar em vidrinhos ou potes próprios para cremes. Rende cerca de 2 potes de 45 g Creme para os lábios com urucum
4 colheres (sopa) de sementes de urucum
Azeite de oliva extra-virgem (quantidade suficiente para, como o urucum, render 90 ml)
1 pimenta dedo-de-moça cortada em rodelas, opcional
12 g de cera de abelha picada ou em flocos
1,5 colher (sopa) ou 22 ml de água de rosas ou água de flor de laranjeira (ou água fervida e fria ou influsão de ervas aromáticas, como camomila ou erva-doce, por exemplo)
Numa frigideira pequena, coloque as sementes de urucum (e a pimenta, se for usar). Junte 2 colheres (sopa) de azeite. Deixe em fogo mínimo ou em banho-maria, sem deixar o óleo aquecer muito, mexendo sempre, até que saia bastante tinta das sementes. Se quiser, coloque uma luva de plástico e, depois de morno, esfregue as sementes de urucum entre os dedos para sair todo o pigmento. Deixe esfriar. Junte mais azeite, misture bem e passe tudo por peneira fina. Meça o azeite coado e junte mais azeite, se necessário, para completar 90 ml. O azeite de urucum está pronto para usar na cozinha ou no creme.
A sequência do modo de fazer é igual à receita acima. Ele vai ficar mais firme. Coloque nos potes e use um dedo para passá-lo nos lábios, sempre que quiser ou quando estiverem ressecados.