sábado, 21 de dezembro de 2013

Ano que vem

A equipe do Come-se foi dispensada para voltar  só no ano que vem. Obrigada, leitor e leitora, pela companhia prazerosa por mais um ano. E peço desculpas por nem sempre corresponder ao que espera de mim. Desejo boas festas e um ano novo de saúde, comida farta e boa para todos! - só não exagere porque tem mais gente pra comer e na próxima refeição haverá de ter mais comida.  Inté! 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Receita de panetone

Fica assim! 
Há uma semana, fiz o chamado. Quem quisesse fazer panetone, que começasse a cultivar seu próprio fermento natural ou levain. E dei o link onde podia começar a fazer um com farinha e água somente. Se ainda não fez e agora se sente instigado, por que não começa agora? Com o clima quente desta época do ano aqui no trópico, será possível fazer seu panetone ainda para o Natal. 


Um ótimo presente de Natal. Compre aqui

Para quem não tem o levain, aqui vai o link onde mostro: http://come-se.blogspot.com.br/2012/07/pao-do-zero-com-fermento-natural-levain.html. Há várias formas de se começar um, como o que nos ensina Luiz Américo Camargo, em seu livro recém-lançado (ótimo, por sinal, com várias receitas e técnicas para se trabalhar com levain)  "Pão Nosso", do selo Panelinha, feito com suco de abacaxi em vez de água. Imagino que a enzima proteolítica bromelina iniba outras formas de vida proteica mas não as leveduras. De qualquer forma, a técnica de começar com uma bolinha na água, como aprendi com Vittorio Lorenti, da padaria Basilicata, também dá super certo e, depois de um tempo, levains começados de maneiras diferentes mas mantidos no mesmo lugar e alimentados com a mesma farinha terão características muito semelhantes. 

Esta receita a que cheguei agora é parecida com aquela fórmula do post de 2011. Porém, acrescentei mel para deixá-lo mais úmido e usei mais frutas, que deixei hidratar em vinho moscatel por um dia. Tudo para evitar uma massa ressecada. Pretendia usar apenas uvas passas e compota de limão zamboa, mas uma que fiquei com dó de usar toda minha compota e outra que tinha muita fruta seca dando sopa - quis aproveitar. Mudei outras pequenas coisas que você poderá perceber ao comparar as receitas. São os aperfeiçoamentos. Pode não ter ficado superior aos tops gourmets que há por aí - mais por causa do forno, mas, em relação à marca mais popular de panetone dos supermercados, pode ter certeza que ficou.  Ontem comprei um desses só para comparar e o que a gente mais sente é essência sei lá do quê (essência de panetone, como se panetone fosse um fruto que desse no pé). Chega a ser amargo de tanta essência e o retrogosto fica pra sempre. Fora o tanto de outros aditivos que tem ali. Decididamente esta receita fica bem melhor. 

Então, vou colocar aqui todo o passo a passo para você ver como é simples.  Se já tem o levain, mesmo que guardado na geladeira, murcho, recolhido, ou se o seu levain está super refrescado, ainda borbulhante, comece igual. Se não tem levain, comece-o agora e quando estiver pronto, volte aqui pra continuar. Se não tem os 300 g suficientes, complete-o umas três horas antes com mais água e farinha.

O enfeite não é de comer

Panetone com fermento natural (levain)

Ingredientes para a esponja
300 g de fermento natural/ levain/ isca (se não tiver, comece uns cinco dias antes a prepará-lo em casa, partindo do ponto zero - veja aqui)
400 g de farinha de trigo branca orgânica (uso da marca Mirella)
300 ml de água filtrada
Para a massa do panetone
700 g da esponja (o restante, guarde como isca para o próximo pão ou panetone)
200 ml de leite integral morno
250 g de açúcar
20 g de mel 
1/2 colher (chá) de sal
700 g de farinha de trigo branca orgânica (ou um pouco mais, se precisar, para uma massa meio grudenta)
200 g de manteiga sem sal em ponto de pomada (temperatura ambiente, se for verão)
Casca ralada de um limão siciliano, 1 laranja baia e 1 limão taiti
2 ovos inteiros
2 gemas
600 g de uma mistura de uvas passas brancas e pretas, damasco e tâmaras picadas
100 g de casca de laranja em compota escorrida e picada (opcional - usei compota de limão zamboa
2 xícaras de vinho moscatel 
Manteiga para besuntar antes de assar
Modo de fazer
Pese 700 g da esponja (levain reformado e levedado) para usar no panetone

Faça a esponja: Comece no começo da noite, para continuar o pão no outro dia. Numa tigela coloque os 300 g de isca de fermento/ levain e junte a água e a farinha. Misture bem até conseguir uma massa homogênea. Dependendo da fluidez do seu levain, talvez precise juntar um pouco mais de farinha. Tem que ficar uma massa grudenta.  Cubra com plástico e deixe em repouso por cerca de 12 horas ou até a massa virar uma esponja cheia de bolhas, aerada. Use 700 g desta esponja (que aqui não foi misturado a mais nada além de água e farinha e portanto é o próprio levain reformado) e guarde o restante em recipiente coberto, na geladeira, para fazer em outro momento (eu guardo fermento sem reformar na geladeira por até mais de um mês) outro pão ou panetone se quiser. 

Bato na batedeira ou na máquina de pão

Sabor natural de panetone
A massa fica elástica assim

Faça a massa de panetone: numa bacia, coloque os 700 g de esponja da receita acima e junte o leite morno. Misture bem. Acrescente o açúcar, o mel, o sal e metade da farinha. Misture bem com colher de pau. Junte, aos poucos a manteiga, os ovos e as gemas. Vá colocando devagar a farinha restante e misturando com a colher. Quando possível, deixe de lado a colher e vá trabalhando a massa com as mãos. Bata bem - talvez suas mãos fiquem um pouco melecadas, mas é normal. Se tiver uma máquina de pão potente e grande ou se tem uma batedeira com gancho para massas de pão,  deixe este trabalho para uma delas (foi o que fiz).

Secando as frutas sobre um pano

Incorporando as frutas


Quando a massa estiver homogênea - deve ficar macia e grudenta e não firme como massa de pão, junte as raspinhas de cítricos e misture bem, cubra a bacia com plástico e deixe levedar (se estiver fazendo frio, coloque no lugar mais quente da casa - se for o caso, faça uma cabaninha ou coloque dentro de uma caixa e cubra com plástico preto) pelo tempo que for necessário - cerca de 6 horas foi o que a minha demorou. A massa deve ficar bem fofa. Deixe as frutas picadas (mas não a compota) cobertas com o moscatel por um dia para hidratar - as frutas absorverão todo o vinho. Espalhe as frutas, incluindo a compota picada,  sobre um pano limpo e seco para tirar o excesso de umidade.  Espalhe a massa com as mãos, achatando-a numa superfície enfarinhada e coloque sobre ela as frutas. Vá dobrando e achatando a massa até as frutas estarem bem distribuídas.


Massa grudente

Divida a massa em 6 partes e coloque em forminhas de papel, próprias para panetone, com capacidade para 500 gramas (compre em casa de artigos para festas).  Coloque uma bolinha de manteiga em cima  de cada um, apoie as formas sobre uma assadeira e deixe-os crescer, em lugar protegido, mais umas 5 horas ou até que a massa ocupe quase todo o volume das formas (não precisa, mas prefiro untar as formas, assim é mais fácil desgrudar depois).  Ligue o forno a 200 ºC e deixe pré-aquecer por 30 minutos (se chegar à temperatura antes, melhor - mas, se tem um forno doméstico e simples como o meu, melhor ligar no máximo e esperar até que esteja bem quente - estes fogões são muito imprecisos, mas cada um conhece o seu).  Leve a assadeira ao forno (confira se os panetones cabem em altura no seu forno - se não, abaixe a grade ou use formas mais baixas, como as de bolo inglês ou marmitas redondas - nestes casos, untadas e enfarinhadas). Deixe assar por 1 hora ou até que a superfície esteja bem corada.



Enfie dois espetinhos de bambu na base dos panetones ainda quentes e emborque-os apoiando os pauzinhos sobre os assentos de duas cadeiras, ou encaixados na abertura de uma gaveta, por exemplo - na foto se entende melhor. Deixe assim até esfriar totalmente  Desta forma, os panetones resfriam sem perder muita umidade e sem que esta se acumule no fundo da embalagem, molhando-a. Duram mais tempo macios. Embale-os em sacos plásticos (também à venda em lojas de festas). Se não for consumir ou presentear em uma semana, melhor congelar.
Rende: 6 panetones com cerca de 450 g

E nhac!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Ainda a casca da jabuticaba. Tapioca de jabuticaba com banana

Tapioca não precisa ser branca quando se faz com a fécula seca da mandioca  - polvilho doce. Se partimos do amido ainda úmido, chamado também de goma,  não tem sentido desidratar para hidratar de novo com outro líquido. Mas quando usamos o polvilho, qualquer líquido colorido, mais nutritivo, desde que não tenha gordura, pode ser usado. 

Já vi muita tapioca rosa feita com suco de beterraba, e também fica linda. Mas se quiser aproveitar aquela infusão feita com cascas de jabuticaba mostrada no último post, a tapioca ganha um sabor delicado que faz boa companhia para recheios doces. Com banana e doce de leite, como mostro aqui, fica muito boa. A infusão não deve ser adoçada, claro, afinal a tapioca deve ter sempre o sabor neutro. Uma pitada de sal, sim, é desejável. E se quiser aromatizar com cravo, canela, cardamomo, ficará ainda melhor. 

O jeito de fazer é o mesmo que já mostrei aqui, apenas substituindo a água pela infusão de casca de jabuticaba fria. É só colocar polvilho numa tigela, cobrir com o líquido, deixando passar um pouco a superfície e esperar até que o polvilho fique totalmente sedimentado no fundo da vasilha e que você possa desprezar este líquido sem que o polvilho se movimente. Assim ele estará totalmente hidratado. Costumo deixar uma noite inteira assim. Não pode deixar muito tempo porque ele pode fermentar. Se o tempo estiver muito quente, melhor deixar na geladeira. Depois de jogar o líquido fora, cubra o polvilho molhado com um pano limpo e seco para que absorva a umidade excedente. Costumo deixar uma hora assim. Aí, basta quebrar os torrões, temperar com uma pitada de sal e passar pela peneira previamente (pode deixar num recipiente fechado, a mistura já peneirada, para que não perca umidade) ou diretamente sobre a frigideira quente, sem untar. Antiaderente ou não. Quando os grumos se juntarem formando um beiju, basta virar e deixar mais um minuto ou menos.  Vá controlando o fogo e o tempo para que o beiju fique elástico, úmido, macio. Se o fogo estiver muito forte ou o tempo, excessivo, o beiju ficará abiscoitado, não flexível.  Se passar a goma diretamente sobre a frigideira, faça-o fora do fogo, especialmente se não tem prática para peneirar e ao mesmo tempo distribuir a goma peneirada por toda a frigideira. Se demora muito e a frigideira está muito quente, não dá tempo de os grânulos se gelatinizarem colados e acabam virando farinha.   E se a tapioca é mais grossa, tudo bem espalhar a goma com colher. Mas se é fininha, é melhor não mexer - por isto, é bom treinar a destreza de peneirar e espalhar ao mesmo tempo. 

Aqui tenho um vídeo que mostra a peneiragem. O modo de fazer a tapioca é um pouco diferente porque lá fiz aquela tapioca instantânea em que se junta o polvilho seco e a água já na medida certa e não é preciso esperar a hidratação.  Mas, para iniciantes, é mais difícil de acertar o ponto e a tapioca não fica tão flexível e macia.  Prefiro hidratar com bastante líquido e jogar fora o excedente. Não tem erro. Mas veja lá o vídeo

E aqui, como fiz a tapioca de jabuticaba com banana. Poderia ter incrementado o recheio e apresentação, mas fiz com o que dispunha no momento e ficou deliciosa, acredite. Está aí pra você recriar à vontade. 

Faça uma infusão com cascas de jabuticaba. Deixe esfriar  e despeje
sobre polvilho doce de modo que passe um centímetro, mais ou menos, da
superfície 

Quando o amido estiver assentado no fundo da vasilha, despreze o líquido
excedente e cubra com pano para absorver o excesso de umidade

Desfaça o amido molhado em torrões, tempere com uma pitada de sal e
peneire diretamente sobre uma frigideira. Leve ao fogo e faça os beijus
Recheei com doce de leite e banana nanica crua
Coma assim
Ou assado (enrolado como sushi, cortado e grelhado em frigideira
antiaderente sem gordura). E nhac! 

Coluna do Paladar, edição de 19 de dezembro de 2013: Casca de jabuticaba


Hoje tem Paladar e coluna Nhac, sobre jabuticaba. Exatamente sobre a casca. O título, dado pela redação, ficou perfeito: Joga as cascas pra cá! Veja lá no blog do caderno a edição completa.

Bem, já falei de casca de jabuticaba em vários outros posts, como neste:
http://come-se.blogspot.com.br/2012/11/jabuticabas-passas.html e naquele: http://come-se.blogspot.com.br/2010/12/jabuticaba-casca-em-compota.html

Aqui, o texto que mandei pro jornal, com fotos minhas. E, depois da receita, mais dicas de como usar as partes, com fotos minhas.


Jabuticaba - joga as cascas pra lá

É tentador explorar com palavras os sentidos ativados quando atolamos os dentes na massa suculenta e doce algo ácido de uma jabuticaba. Muitos cronistas e poetas já o fizeram. Portanto, sejamos pragmáticos.  

Imagino que todo brasileiro já tenha visto uma jabuticabeira florida e depois frutificada. Quem não viu, coloque na lista, é obrigatório, afinal a Myrciaria jaboticaba é cultivada em todo nosso território. É uma das árvores mais apreciadas para se ter em quintais e pomares domésticos, pela beleza da florada e gostosura dos frutos,  bons de comer no pé.  

Como outras fruteiras tropicais, a jabuticaba tem safra curta, apesar de duas por ano – na primavera e no verão -,  e alta perecibilidade. Isto faz com que haja grandes perdas.  De um modo geral temos pouca cultura de aproveitamento integral destas frutas, talvez pela abundância da safra que nos faz, de boca cheia, perder a razão e o senso de provisão. Gostamos de jabuticaba fresca, de preferência sabará ou pingo-de-mel, direto do tronco, primeiro o que tem e depois o que vem.  Mas quem dá conta de comer tanto? E comprar na caixinha parece que perde metade da graça. O que não se perde nunca é o alto teor de antocianinas, compostos antioxidantes que conferem aos vegetais tons do vermelho ao azulado. É a mesma substância presente nas uvas escuras e nos vinhos tintos e que a gente aprendeu que faz bem para a saúde.  No caso das uvas, a antocianina vai para o vinho enquanto que as cascas da jabuticabas costumam ir para o lixo, pois comemos a polpa.

A sorte é que não faltam pesquisadores para comprovar os efeitos benéficos da casca, para estudar melhores métodos de secagem e conservação e para inventar formas para aproveitamento alimentar, fitoterápico e cosmético. Por isto já encontramos por aí a casca da fruta liofilizada, barrinha de cereais colorida, a casca passa, aguardente, fermentado, vinagres, além dos preparos caseiros tradicionais como geleias e compotas.

Uma coisa que tenho feito quando me deparo com grande quantidade da fruta é desidratar as cascas e guardar para fazer chá com especiarias.  Lavo bem as frutas, espremo uma a uma e uso a polpa para fazer suco. As cascas, abertas pela metade e bem espremidas, coloco sobre uma peneira forrada e coberta com voal e deixo secar ao sol.  Ou, se o tempo está úmido, seco no forno, com fogo baixinho e a porta entreaberta. De vez em quando remexo para secar por igual. Quando está bem seca, sem perder a cor, guardo em saco de papel. Se restar alguma umidade, vai terminar de secar. Quando quero um chá de frutas vermelhas com especiarias, coloco um punhado de casca, um cravo, um pau de canela, uma rodela de gengibre  e às vezes uma vagem de cardamomo e fervo. Bebo bem quente ou deixo gelar e tomo como refresco, com gelo e rodela de limão. Além de saudável, já que a antocianina continua ali,  a bebida tem cor linda e sabor delicioso, perfumado e frutoso. 

E esta infusão colorida de jabuticaba, mais ou menos apurada, com ou sem especiarias, pode ser usada de muitos jeitos: no lugar de água para hidratar o polvilho da tapioca, por exemplo,  completando o vinho no vinho quente ou a cachaça no quentão, para fazer gelatina colorida e sorvetes mais nutritivos para as crianças e para fazer este sagu sem vinho que adaptei de uma receita alcoólica que aprendi com a chef Mari Hirata. 

Se acontecer de você não ter tempo de aproveitar toda a jabuticaba na safra, enquanto ela está bem fresca, lave bem, congele a fruta inteira e você terá as cascas para aproveitar depois, além de poder chupar cada uma como sorvete encapsulado.   

SAGU DE JABUTICABA

1,5 litro de água
½ xícara de sagu, de preferência de bolas grandes
500 ml de infusão de jabuticaba (feita com 1 xícara de cascas secas e água – ferva por 5 minutos)
½ xícara de açúcar
2 paus de canela
2 cravos
Cascas de ¼ de laranja e de ¼ de limão taiti, só a parte colorida, cortadas em tiras finas

Numa panela grande, coloque a água e leve para ferver. Junte o sagu e cozinhe por 1 hora (um pouco menos se usar o sagu tradicional, de bolinhas pequenas) ou até que fique com um miolo ainda opaco.  Escorra e lave em bastante água gelada para tirar o excesso de goma.

Enquanto isso, junte a infusão de jabuticaba com o açúcar e as especiarias (canela, cravo e casca de laranja e de limão) e cozinhe por 2 minutos. Desligue o fogo, tampe e deixe em repouso por 15 minutos. 

Descarte as especiarias da calda e leve-a novamente ao fogo. Quando ferver, junte as bolinhas de sagu e deixe cozinhar por mais alguns minutos ou até que fiquem completamente cozidas, sem o miolo branco.  Escorra e reserve a calda. As bolinhas, coloque em forminhas individuais molhadas com água (pode usar xícaras de fundo abaulado) e resfrie sobre água com gelo ou em temperatura ambiente (na geladeira, endurece).  Leve a calda ao fogo e deixe apurar até ficar com consistência de xarope.  Desenforme o sagu e sirva com a calda fria.


Rende:  4 porções 

Com a mesma infusão, você pode fazer gelatina e servir com compota

A polpa, passada por peneira pra tirar as sementes, pode ir pra sorveteira sem açúcar, com um pouco da calda das cascas reduzida. Um delicioso sorbet que também pode ser servido com a compota. 

A polpa sem as cascas e sementes podem ser batidas com um pouco de caldo de cana e água gelada pra fazer refresco de sabor incrível. 

E pode ser usado para cozinhar tapioca, que fica como sagu. É só jogar uma colherada de creme e nhac! 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Leituras de fim de ano. Revista 22, Manual e Almanaque do Slow Food


Tudo fresquinho. Acaba de ser divulgado no site do Slow Food Brasil duas publicações. Uma delas é o Manual do Slow Food, que explica tudo sobre o movimento. Se ainda não conhece, poderá saber tudo sobre a Arca do Gosto, as Fortalezas, o projeto Mil hortas na África, o Slow Fish, o Terra Madre e muito mais.  Com muitas fotos e textos em português. Acesse aqui:
http://slowfoodbrasil.com/slowfood/manual-do-slow-food. A outra é o Almanaque 2013, também em português, com assuntos interessantes sobre o que anda acontecendo mundo afora, sobre alimentos protegidos pela Arca do Gosto, saberes tradicionais, práticas artesanais,  notícias sobre as fortalezas, convívios etc.  As fotos são belíssimas. Confira lá:

E, para completar, a excelente revista da Faculdade Getúlio Vargas, Página 22, sobre sustentabilidade e economia de transição. Você pode se cadastrar e receber a revista impressa na sua casa. Acesse: http://pagina22.com.br/novo_leitor/.  Mas se preferir ler o conteúdo online, poderá acessar  http://www.pagina22.com.br/index.php/category/revista/ para ver o número atual que aborda o tema Alimentação e todos os outros já publicados.   Há ainda um texto da Janice Kiss sobre o trabalho do Come-se, que me deixou lisonjeada:   

Boa leitura! 

Tapioca e Biju!





terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Mirtáceas abandonadas. Cabeludinha, pitanga e uvaia.



Uvaias do ex-nosso sítio em Fartura
Pelo que tenho observado, as frutíferas da família das mirtáceas estão entre as que mais são abandonadas por aí. Talvez por serem plantas prolíferas, baratas e decorativas quando bem cuidadas. Então, bastou uma ligeira fraqueza, um sinal de cansaço pela falta de espaço ou de água, que são colocadas pra fora de casa sem remorso ou piedade nem direito a esperneio. É mais fácil comprar outra muda. E assim nosso sítio já ganhou algumas árvores desta família.




A guapirijuba (Myrciaria glazioviana), também conhecida como cabeludinha ou jabuticaba amarela, é uma mirtácea do mesmo gênero da jabuticaba, com casca firme como uma jabuticaba, com textura aveludada, e uma semente proporcionalmente grande como a da pitanga, sobrando pouca poupa para comer, o que é uma pena, deliciosa e perfumada que é.   Encontramos o pé abandonado junto a um clube da prefeitura aqui no meu bairro. Minha vizinha Ana foi que primeiro a avistou e nos avisou. Fomos lá com o carro. O vaso estava quebrado, mas conseguimos colocar o torrão seco num saco e replantar em casa até o momento de ir definitivamente para a terra, onde agora produz feliz. Já comi algumas frutinhas dela.





Esta pitangueira, encontramos numa praça, à beira de um colapso, sem nenhum sinal vital a não ser um pulso fraco, um verdejar ainda fresco observado através uma arranhadura  (passar a unha no galho é como faço para ver se a planta ainda está verde e viva).  Estava que era pele e osso, ou galho e raiz. Sem nenhuma folha, mal sabíamos se era uma uvaia, uma jabuticabeira ou uma pitanga. Foi levar para casa e regar e as primeira folhas começaram a surgir. Agora já está firme e forte para florir e frutificar na terra livre. De lambuja ainda veio um guaimbé que também vai para o sítio (havia outro vaso de figueira - que se recuperou e já foi para o sítio também).



Em Piracicaba, neste fim de semana, encontramos este vaso com um pé de uvaia jogado à beira de um córrego, totalmente estorricado, mas ainda com folhas. Trouxemos para casa, regamos e deixamos o vaso junto com a pitangueira para logo irem para o sítio.

Ainda em Piracicaba, descobri uma árvore de jambinho pink (Syzygium paniculatum) carregada de frutos. Não estava abandonada à própria sorte na secura de um vaso, mas encontrava-se num estado de pura negligência. Perguntei para um, para outro e ninguém sabia o nome. Apenas os pássaros cantavam felizes pulando de galho em galho em algazarra. Está certo que esta é uma mirtácea exótica e que o fruto não é aquele jambo rosa todo, mas para que tanto desprezo? Ele é docinho, gostoso, é fácil de separar a semente e dá pra fazer compota e geleia.

A sorte é que as mirtáceas parecem ser mais resistentes à seca que ao excesso de água. Eu tinha uma uvaieira no vaso que produziu muitos frutos durante uns três anos.  Um dia fui viajar, choveu muito, ninguém percebeu que o furo do vaso estava entupido. Quando cheguei, a planta estava imersa num lodaçal, já tinha perdido muitas folhas e logo morreu. Já tinha feito geleia e sucos com seus frutos (uma das mirtáceas de que mais gosto - além das pitangas, da feijoa, da jabuticaba, do jambo e de todas elas). Uma grande perda.
As sementes foram para a Argentina. Se não fui interceptada, devem estar
chegando. 

E é incrível como tem gente apaixonada por mirtáceas e até aquelas que se dedicam a fazer coleção delas, como o argentino Marcos que conheci recentemente por causa desta família. Mandei a ele sementes de grumixama e uvaia e aproveitei para tirar do chão algumas mudas de cereja-de-joinvile para mim.

E quem tiver ou vir mirtáceas em situação de abandono, é só me avisar, que, se eu puder, vou buscar.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Tortilla de patata ou tortilla española

Pelo menos tortilla de batata parece ser unanimidade entre espanhóis, embora haja variações para a fritada país afora. Tortilha de verduras, de cebola, de angulas, de alcachofras, de aspargos, espinafres, favas, vagens, pimentões, cogumelos, à valenciana - com arroz e presunto ou sobra de paella, murciana, com muita verdura etc.  A de batata é a coisa mais simples de se fazer quando se tem ovos, batatas e cebola. 

No sítio costumo fazer com o que tem. Folhas de cebola, cebola, batata, verduras cozidas, sobras de salada etc, como esta aí em cima. 

Mas as últimas batatas foram colhidas há uns dois meses e três ainda restavam sóbrias na cesta. É incrível como estas batatas colhidas pela gente, cultivadas sem aditivos, duram uma eternidade na cesta, sem brotar, sem apodrecer, sem se fazer notar por qualquer modificação na aparência. Estava aguardando a hora certa para fazer uma tortilha como manda o figurino ou os manuais de receitas tradicionais. É um dos pratos pelos quais suspiro sempre que faço e/ou como. Quente ou fria. Com ou sem vinho. O importante é estar com bastante fome e sem culpas. Tinha acabado de retirar no laboratório o resultado do meu exame de sangue e como está tudo dentro dos ótimos parâmetros de normalidade, fiz logo uma tortilha com três ovos caipiras e usei o azeite que foi preciso para mergulhar cebolas e batatas. 

Parece tudo tão óbvio de fazer, mas como sei que há por aí moçoilas e moçoilos que não tem a mínima ideia de que se pode fazer em casa algo mais delicioso que hambúrguer de rede e quase tão fácil quanto um macarrão instantâneo, deixo aqui o passo-a-passo. Quem sabe você não se anima a começar o ano cozinhando em casa? Tudo bem que é um prato bem gorduroso, mas se feito a cada morte de papa - ou de las patatas -, não há mal nenhum, certo? 

Os ingredientes são estes: 3 ovos, 3 batatas médias, 1 cebola,
 além de sal e azeite para fritar

Frite cebola e batatas (como estas são orgânicas, não tirei a casca - se não
for o caso, melhor descascar)

Não precisa dourar. Basta que as batatas estejam macias. Escorra e retire
o azeite da frigideira - deixe só um pouco para fritar a tortilha

Bata levemente três ovos, junte a cebola e a batata frita e tempere com sal

Aqueça a frigideira e despeje a mistura de ovos. Deixe o fogo baixo

Quando a parte de cima começar a firmar, vire com a ajuda de um prato ou
uma tampa plana e escorregue a tortilha de volta para a  frigideira para
dourar do outro lado

Sirva quando os dois lados estiverem dourados e a tortilha, firme e  cheirosa.
 Junte uma salada e ..

Nhac!