Um a sete pra mim. Desta vez facilitei demais a
charada. E, fora um embondeiro ou baobá, um cupuaçu, araruta e as desconfianças comuns, o acerto foi geral: polpa de cacau. Parabéns, leitores!
Outro dia fui na casa de minha amiga Veronika e ela me ofereceu uns nibs que ela própria tinha preparado. Simplesmente torrou as sementes de cacau e triturou. O perfume era de chocolate. Mas a lembrei que precisava fermentar, ficaria melhor. Não só para eliminar o resto de polpa, mas também porque o calor gerado no processo fermentativo inativa a germinação, evita ranço e intensifica substâncias aromáticas. Saí de lá com dois de presente. Veronika, por sua vez, também ganhou os cacaus de presente da Adélia, na Serra de Taubaté, descendo pra praia. Resolvi tentar fazer as barrinhas, como aprendi lá em Belém, na
Ilha do Combu.
Como fiz:
Quebrei dois lindos cacaus, amassei sobre uma peneira, apertando para sair o máximo de suco. Bebi este suco que é delicioso. As sementes com resto de polpa, coloquei numa panelinha de barro, corri com pano e com a tampa e deixei fermentando num canto da pia por três dias. Borbulhou um pouco e soltou um perfume frutado maravilhoso.
|
Depois de fermentadas e secas ao sol, ficaram assim |
Coloquei as sementes sobre um pano e levei ao sol para secar, bem espalhadas, recolhendo à noite por causa do sereno. Depois de uns três ou quatro dias, as sementes estavam secas.
Coloquei, então, as sementes numa frigideira de ferro e levei ao fogo, mexendo sempre, até que ficassem com a casca escura (da próxima vez não vou deixar escurecer tanto, acho que ficará com melhor sabor - pura falta de experiência).
Depois de torradas, as sementes devem se libertar das cascas torradas. Basta apertar com os dedos que elas se quebram e se soltam facilmente da amêndoa. Enquanto as sementes ainda estão quentes, é mais fácil triturar. Eles se quebram como amendoins torrados. Use pilão (é assim que se fazia no passado) ou máquina de triturar grãos. Eu fiz dos dois jeitos. Com a máquina é melhor, claro.
As sementes trituradas são gordurosas e podem ser moldadas rapidamente, antes que endureçam. Coloquei em forminhas de madeira forradas com plástico, pressionei bem e depois de 10 minutos (porque está frio aqui) já podiam ser desenformadas. Se quiser, pode moldar em cubinhos - fiz dois.
|
As barrinhas |
|
Este mingau, fiz com leite, araruta e cacau. Na superfície ralei uma barrinha |
As barrinhas podem ser raladas e usadas em leite, bolos ou mingau. Se bater o leite quente com elas no liquidificador, a diluição é facilitada.
O sabor é rústico, nada a ver com chocolates ao leite, por exemplo, mas é muito bom, lembra aquelas barrinhas mexicanas ou o chocolate da Ilha do Combu (não tão gostoso, claro, mas se tiver mais cacau vou fazer outras experiências, aperfeiçoando). No leite, no bolo ou no mingau, posso afirmar que é infinitamente melhor que achocolatados.
É claro, para quem tem apenas duas frutas como era meu caso, não é um negócio vantajoso, a não ser pela alegria de conseguir produzir a própria barra de cacau, mas imagine para quem tenha cacau perdendo ou facilidade em consegui-lo. O mesmo vale para o cupuaçu, da mesma família do cacau, que rende o cupulate - com a diferença que a casquinha não se solta com muita facilidade.
Agora, só para ilustrar, algumas fotos, entre elas frutas mencionadas entre os comentários da charada:
|
Cacau jacaré |
|
Cacau jacaré |
|
Cupuaçu |
|
Embondeiro ou fruto do baobá - a polpa é seca |
|
Cacau no pé |
|
As sementes secando na rua em Belém |