Com este friozinho não consigo pensar em salada, musses ou aspics. Só em caris, cozidos, sopas ou ensopados, tudo bem quente e apimentado. Há tempos venho querendo fazer a sopa de milho com cambuquira da minha avó Zefa. Era prato rústico e simples, feito no fim da tarde no fogão de lenha, com gordura de porco e espigas fresquinhas ainda cheirando a palha verde. Sempre fui comilona e, por mais sopa que houvesse na panela, sabia que nunca seria o bastante já que teria que dividi-la com um monte de primos também bons-garfos. Felizmente hoje milho fresco nunca falta do mercado, e a cambuquira, encontrei na Casa Santa Luzia. Ela é peludinha, com sabor que lembra bem suavemente a abobrinha nova. Não sei se existe fora do Brasil (Fer, tem dela aí em Davis?), mas já vi traduzida como pumpkin sprouts ou pumpkin flowers, sendo que não é uma coisa nem outra. Nem brotos nem flores, são ramos novos com folhas miúdas e gavinhas tenras da planta jovem. E qualquer abóbora rasteira dá boa cambuquira, é só saber o momento certo de colher – antes de florescer. Os talos lembram os de espinafre, mas quanto às folhinhas, nunca comi nada que se comparasse à sua textura delicada e aveludada. Caiu bem na noite de ontem.
Sopa de milho com cambuquira
5 espigas de milho maduras
1 cebola picada
1 colher (sopa) de manteiga ou banha
2 dentes de alho amassados
1 colher (sopa) de azeite
1 maço de cambuquira (descarte ramos mais duros e fibrosos)
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Com uma faca bem afiada corte os grãos de milho. Bata no liquidificador em duas porções, com água fria que cubra os grãos. Coe numa peneira, apertando bem. Descarte o bagaço e reserve o caldo.
Numa panela grande, refogue a cebola na manteiga, só para murchar. Junte de uma só vez o caldo de milho e mexa sem parar, devagar, até engrossar (o próprio amido do milho é suficiente para isso – por isso não funciona se usar o milho em conserva, cujo amido já foi gelatinizado - neste caso teria que adicionar maisena e o sabor é bem diferente). Abaixe o fogo e deixe cozinhar por cerca de 10 minutos.
À parte, doure o alho no azeite. Junte a cambuquira picada e refogue rapidamente, só até murchar. Tempere com sal e pimenta-do-reino e junte ao creme de milho. Se a sopa estiver muito grossa, junte aos poucos água quente até conseguir a consistência de mingau ou a do seu gosto. Experimente e corrija o sal, se necessário. Polvilhe pimenta-do-reino e sirva.
Rende: 4 porções
Observações
Deixe para ir adicionando mais água quente quando o creme já estiver bem grosso. Muita água logo de início pode fazer a sopa talhar. Muito germe também – por isso, não corte os grãos muito rentes ao sabugo.
Esta sopa fica boa também com abobrinha-menina bem nova, picada em cubinhos. Faça do mesmo jeito – refogue a abobrinha e junte ao creme.
Outra opção: junte o creme de milho a um refogado de cebolinhas verdes ou nirá. Com espinafre ou alho-poró também fica uma delícia. E se quiser incrementar o sabor, use caldo de galinha em vez de água. Particularmente prefiro com água. O milho sozinho já é um ótimo tempero.