O fato é que fui postando no meu instagram o Festival Igarapé Bem Temperado em tempo real. E agora não sei por onde começar.
Aliás, se quiser acompanhar o que ando fazendo quando não estou no blog é só espiar lá. E qualquer pessoa pode ver mesmo pelo computador. É só entrar aqui: https://www.instagram.com/neiderigo/?hl=pt-br . Eu mostro e ensino várias coisas, quase como no blog.
Como não sei como começar, de tão bom que foi este festival, de tanta coisa que vi e aprendi, de tão grata que fiquei com o convite, que pra não me demorar muito começo pelo final. Cheguei em Igarapé na quarta-feira e só vim embora no domingo. Então deu tempo de ver muita coisa, conhecer pessoas muito especiais e aprender muitas técnicas esquecidas. O festival é protagonizado há mais de dez anos por cozinheiras locais, senhoras detentoras de todo o conhecimento da cozinha de quintal. E visitei quintais, ganhei mudas, conheci verduras que por aqui chamamos de Panc - plantas alimentícias não convencionais. Lá, taioba, cansanção, malvarisco, ora-pro-nobis, beldroega, caruru, umbigo de banana, capiçoba (maria nica) etc, são plantas comuns que vão pra panela. A guasca é conhecida por lá como "coitadinho" e ninguém comia. Agora já sabem que é comestível.
Mas, vamos lá, no último dia, no lugar das cozinheiras locais, o palco da cozinha show - com forno e fogão de lenha, foi ocupado por nós: os jovens cozinheiros Lucas Mourão, do www.jacaverde.com, Gabriela Harue e eu. Decidimos um dia antes o que faríamos. Ideia daqui, ideia dali, nasceu o Baião de Doido, no qual usaríamos lascas de macaúba em vez de queijo e no final acidificaríamos com limão-doido (como é chamado o limão cravo por lá). Ou seja, fizemos um arroz, feijão e mistura com ingredientes locais e não é pra nos gabar, não, mas ficou bem bom. Usamos o disco de arado, que é o equivalente tupiniquim à paellera espanhola ou a wok chinesa. Fizemos, claro, sem receita. Lucas providenciou vários ingredientese, coletou coquinho, tirou a castanha, e fomos misturando na hora. Mas como fiquei na beira do fogão, acho que me lembro mais ou menos as quantidades e a ordem em que fui colocando os ingredientes.
Baião de Doido. Criação coletiva de Neide Rigo, Lucas Mourão e Gabriela Harue
Meia xícara de azeite ou óleo de girassol
1 xícara de coquinho de macaúba picado grosseiramente
4 cebolas picadas
1 cabeça de alho socado no pilão
1 pimentão verde picado
1 pimentão amarelo picado
Umas 10 pimentas de cheiro picadas sem sementes
1 xícara de pimenta biquinho
1 colher (sopa) de colorau (urucum)
1/2 colher (sopa) de açafrão-da-terra (cúrcuma em pó)
Meio quilo de tomate cereja
2 xícaras de frutos de ora-pro-nobis
3 litros de verduras panc picadas: capiçoba (maria nica), beldroega, serralha, guasca (coitadinho), mostarda
2 xícaras de lascas de coquinho macaúba
1,5 litro de feijão guandu cozido
2 litros de arroz cozido já com sal
10 unidades de limão-doido (como é chamado o limão rosa por lá) cortados em 4
Aqueça o tacho de disco de arado no fogão de lenha, coloque um pouco do óleo e os coquinhos. Deixe dourar e tire com escumadeira e reserve. Coloque a cebola e o alho e deixe começar a dourar, mexendo sempre. Separe um pouco de cada ingrediente que queira usar para enfeitar o prato no final (tomate, frutos da ora-pro-nobis, pimentões, pimentas, lascas de coquinho). Junte os pimentões,e as pimentas e misture bem. Deixe cozinhar até o pimentão amolecer um pouco. Acrescente o urucum e o colorau e misture. Acrescente o tomate, os frutos da ora-pro-nobis e as verduras. Assim que murcharem, junte as lascas de coquinho, o arroz e o feijão. Misture bem com cuidado, tempere com mais sal. Prove e corrija, se necessário. Deixe apenas ficar bem quente. Se achar necessário, junte mais arroz ou feijão, conforme o gosto. Esprema limão doido na superfície e sirva no próprio disco, decorando com os coquinhos e os outros ingredientes reservados. Em volta coloque os pedaços de limão doido.
Rendimento: pra muita gente!
Com novos amigos queridos Gabriela e Lucas. Em pé, os guerreiros Stan e Letícia, organizadores do Festival Igarapé Bem Temperado (veja no instagram @igarapebemtemperado). Além de queridos, são profissionais idealistas e apaixonados genuinamente pelas artes esquecidas e pela história da cozinha mineira.
Fila pra comer nosso "baião de doido no disco de arado" feito no fogão de lenha. Arroz, feijão guandu, lascas de macaúba, tomatinho da roça, pimenta de cheiro, fruto de ora-pro-nobis, pimenta biquinho, urucum, cúrcuma, capiçoba, beldroegas, serralha, guasca, folha de mostarda, castanha de macaúba, limão-doido (como é chamado aqui o limão-cravo, rosa entre outros nomes). Quem provou, gostou! . Valeu, Lucas e Gabi! Adorei cozinhar com vocês!
Depois conto mais. Aguarde biscoito de polvilho doce, biscoito de polvilho azedo.
3 comentários:
Esse baião de doido ficou com uma cara ótima! Eu ficaria na fila feliz pra provar ;)
Agora estou ansiosa pelas receitas de biscoito de polvilho, adoro!
Oi Neide, muito prazer. Só para te dizer que a tua atividade é linda e estou conhecendo toda essa riqueza que existe e me maravilhando com a criatividade de vocês! Parabéns e que continue de vento em popa.
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