Jabuticabeira secando, sem sinal de flores ou frutos |
Há mil maneiras de você acabar com jabuticabeiras ou qualquer outra fruteira, mas uma delas é esta - asfaltar até o tronco. Havia ali uma linda casa com quintal, onde brincavam crianças, onde um dia se plantou uma laranjeira, uma mangueira e uma jabuticabeira. E certamente um colorido jardim. Um dia a rua larga do loteamento city virou corredor de ônibus e de carros, o imóvel foi comprado pelo clube ACM que manteve por um tempo a casa, o quintal, as frutas. Mas o movimento continuou crescendo, chegaram mais sócios com seus carros, cada sócio com seu carro, mulheres executivas de saltinho com a mala da academia numa mão, cabide com o blazer na outra, que não podem estacionar muito longe, andar não precisam, afinal já vão se exercitar na esteira, e crianças despejadas dos carros direto para a porta do clube com seus roupões branquinhos. E carros, mais carros que gente, pois eu da minha janela que dá pro estacionamento, só vejo e ouço carros. E aí derrubaram a casa, mataram o jardim, criaram vagas pavimentadas, mas não conseguiram acabar com as frutíferas que são torturadas dia a dia, sufocadas, mortas aos poucos de agonia, pela falta de ar e da água que o asfalto lhes nega para derrubar em enxurrada nos dias de chuva na porta da minha casa - e na rua toda. No caminho da faixa amarela do estacionamento havia uma jabuticabeira . É o fato na iminência de se fazer verdade. Gente é um bicho estranho.
Antes de ter uma terra de braquiárias a ser preenchida por árvores, quanto antes adultas melhor, não dava muito importância para dinheiro pouco (é horrível dizer isto, eu sei). Cem, duzentos reais e ainda tenho que dar nota? Não, nem precisa pagar, faço de graça. Uma foto? pode pegar, não é nada, não. Um textinho rápido? Imagine, eu faço. Reembolso de ingredientes? não precisa. Agora, minha moeda é jabuticabeira. Penso: cem reais? ah, pode pagar, sim, já dá pra comprar uma jabuticabeira na altura do joelho. Ah, para isto cobro quinhentos, já dá pra ter uma jabuticabeira quase do meu tamanho, com uma pequena produção. E aí olho para uma jabuticabeira já adulta, com potencial de produção incrível e penso na fortuna sem preço que ali se vai. Por mais que se consiga comprar uma árvore adulta, ela é uma dádiva que não se obtém da noite para o dia. Da semente aos galhos fartos de frutos, não há milagre que apresse o processo, não há dinheiro neste mundo que faça isto. No lugar de árvores, pode escrever aí, logo logo teremos máquinas de carros, como estas de coca-cola. Gente é bicho estranho.
Felizmente, enquanto isto, neste exato momento, seja em Brasília ou Holambra, elas podem estar assim ou assado, logo logo todas lindas pretas de alimento.
26 comentários:
lamentável.
Ai, Neide...
Eu fico olhando essas coisas, lendo posts "revoltados" como esse seu, vez ou outra escrevendo também os meus, e fico pensando em como resolver isso.
Quando desanimo, acho que só sobraram dois grupos de gente por aí: o nosso, que quase tem um troço quando vê fazerem isso com uma árvore, e o grupo dos que asfaltam as coitadas até o talo.
Mas nos momentos em que estou mais esperançosa, consigo enxergar gentes e grupos por aí começando a resgatar costumes antigos, pra tentar reverter esse processo que nos chateia tanto.
Resta trabalhar, plantar, disponibilizar informação e escrever muito, de preferência bonito assim "quiném" você, pra ajudar nos processos dos resgates necessários.
Obrigada por mais um link, um beijo e um abraço forte, já com saudades de bater papo com você!
Ju.
Neide, só nos resta se indignar, aqui no condominio
horizontal onde moro as corujinhas buraqueiras
desapareceram.Que pena.
Mas,continuo te acompanhado, Oliveira Mendes - Goiânia.
Neide, vc é tão querida, já tentou negociar com o(s) proprietário(s) da jabuticabeira-zumbi? quem sabe vcs se prestam um favor, vc ganhará uma jabuticabeira adulta e o estacionamento mais espaço? Ah! acho que todo trabalho prestado deve ser remunerado, afinal, nem relógio trabalha de graça. Abç. Izabel
E vai reclamar...Tem um povo que não tem dó nem de gente nem de bicho, o que dirá de árvore...Vão te achar excentrica (prá não dizer louca de pedra).Não que isso vá te desanimar.Vai?
Olha, pelo que vi nas fotos teria uma solução simples em que não se perderia nenhum vaga. Era só não asfaltar as vagas vizinhas à jabuticabeira. Bom, simples para nós, não para as executivas de saltinho!!!!
Da sua janela, em seu jardim encantado, onde tudo nasce e é feliz, você ter a vista de um antro de tortura destes, não dá para imaginar sua dor. Dá ganas de juntar o Exército de Drumond, invadir o território dos bárbaros e salvar as prisioneiras indefesas e inocentes. Espero que você encontre uma forma de fazer o resgate; você tem muitos admiradores e amigos e seu grito vai ser ouvido pelas pessoas certas.
Neide ,
É preciso atitude!
Cidadania é conquistada.
Que bom ter vc por perto.
Vamos por o "Exercito do Drumond" a serviço da jabuticabeira. Mesmo que o exercito seja eu e vc.
Ana Campana
Palavras que emocionam e choram, chocam. Obrigada, Neide. O que poderia ser feito para salvar essa jabuticabeira? Parece que vi, também, a mangueira, noutra foto...
Viver é perigoso e homem é bicho esquisito.
Gente é um troço estranho mesmo e quanto mais se afasta das suas raízes (como espécie, quero dizer), mais emburrece e destrói.
Aqui é muito comum no verão abandonarem cães no meio da estrada. Eu choro só de pensar.
Devia haver leis muito severas para punir esse tipo de gente, mas quem faz as leis faz parte dessa gentalha, é eleito por ela.
Mas como existe também uma sub-espécie (melhor dizer sobre-espécie), que pensa, que ama, que sente e que hoje pode contar com a internet, essa gente precisa se organizar para combater essa praga chamada ignorância e que acomete essa gentalha( ainda que usem saltinho, ainda que tenham carrões, ainda que (des)eduquem seus filhos nessas bases.
Você tem uma vida corrida e isso talvez não seja possível, mas se cada leitor reproduzir esse post e se alguém organizar uma manifestações, um grupo em defesa de árvores maltratadas......a gente pode tanto, só precisa acreditar, querer, tirar a bunda do sofá e em vez de ficar vendo a vida e o mundo dentro da TV, pegar o leme do barco nas mãos e levá-lo numa direção certa, seguindo o caminho do meio, pois ele costuma harmonizar alhos e bugalhõs, mas, às vezes, radicalizando um pouco, porque há momentos em que se precisa fazer barulho para ser ouvido.
Eu grito, mesmo de tão longe: salvemos a jabuticabeira e todas as suas/nossas irmãs.
Gaby(gabgaby)
Minha irmã vendeu sua casa, em São Leopoldo - RS e o domingo de eleições foi o último dia na antiga residência. Nos fundos, uma gigantesca amoreira, daquelas que dá amoras enormes, doces, sem acidez nenhuma. Tb um pé de araçá, carregado.
Na frente, uma grande tipuana, com o tronco tomado de orquídeas e uma goiabeira-da-serra (não é a goiabeira comum, é a feijoa, nativa dos Campos de Cima da Serra do RS). A goiabeira estava carregada e ainda com algumas flores. O que o novo proprietário disse para ela: vou cortar, não gosto de sujeira! Minha irmã, muito educadamente, lembrou que é crime ambiental cortar árvores frutíferas nativas do Rio Grande do Sul...
É provável de que isto nada adiante. Mas ela comentou conosco: "ele vai ver o que é o verão nesta casa sem a sombra das árvores, que nem o split vai dar conta." Ah, sim, cortando as árvores dos fundos ele não terá mais privacidade para usufruir a piscina, já que a vizinhança inteira vai poder "apreciar" - sem barreira física nenhuma - as pelancas e gorduras branconas do casal, que está longe de ser "esteticamente privilegiado". Enfim, o ser humano é um bicho estranho mesmo...
Juliana, felizmente há muita gente por aí surgindo com esta consciência. Bem, vamos nos ver em breve. Inté!
Oliveira, que pena quanto às corujas.
Izabel, não tentei, não. Mas vou tentar. Acho que a jabuticabeira não sobreviverá.
Lili, não desanimo, não.
Nadia, o certo era que o piso fosse todo permeável e não só o redor da árvore, que, sim, deveria ser protegida dos carros. Sendo justa, não é culpa das mulheres de saltinhos, que, afinal, nem são tantas assim e cada um calça o que quer. O problema é muito mais complexo e as culpas, de muita gente.
Gilda, às vezes nascem por aqui alguns sentimentos não muito felizes, mas obrigada pelo conselho.
Ana, é bom ter vizinhos como você, ainda mais pertencendo ao Exército de Drummond. Vamos lá?
Bisteca, tem mangueira e laranjeira que, por enquanto, vão bem.
Gaby, obrigada. Vamos sim tentar fazer alguma coisa.
João, é que brasileiro é um povo limpinho, sabe como é? folha suja.
Um abraço, N
Na minha cidade num terreno tinha uma casa velha com algumas árvores na frente,incluindo uma jabuticabeira. A alguns dias passei na frente e tinham derrubado a casa e estavam construindo outra e para minha surpresa tinham deixado as árvores na frente e estavam construindo por trás, achei aquilo o máximo, muito legal. Outro dia passeando com minha vizinha ela olha pra casa e comenta: Mas porque não tiram essas árvores horrorosas, nem dá pra se ver a casa nova. Fiquei boba, sem ação, nem sabia o que falar. Tem gente tão ignorante que nem adianta ficar falando e defendendo as árvores, acham que a gente é louca. Já acham que sou meio doida porque fico dias cavocando na nossa chacrinha em vez de me sentar no sofá do apartamento que moramos e não fazer nada.Quando alguém preserva alguma planta tem outros achando que devem derrubar só pra se ver a casa nova.
OI Neide. Entao a casa nao foi vendida de um dia para outro e o estacionamento tb nao foi decidido de um dia para outro. Estou vendo q a ACM (associaçao cristã de moços) é realmente uma sociedade filantrópica. Q tal vc enviar a foto para o Milton Jung da CBN? outra coisa é q daria para se transplantar e um pé desse deve valer em torno de 10 mil reais. Aliás vc saberia se a prefeitura sabe qtos pés de jabuticaba estão plantadas por aí? Já tentei plnatar em meu bairro prox a Interlagos e vejo q nao dámuito certo: roubam na maior cara dura
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Eu não aguento mais tenho vontade de me matar acham faço bem ou mal
Parabéns pelo blog maravilhoso
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