O terreno em Piracaia continua ruim, pedregoso, terra não corrigida nem adubada nem afofada. Enquanto vigora o vai e vem de pedreiro por lá, não estamos tendo tempo de pensar nisto, no bate-e-volta dos sábados. Mas, como diz minha mãe, não existe terra ruim. Claro que ela quer dizer que toda terra pode ser melhorada com bom composto, mas mesmo sem ser, desde que haja água, alguma coisa sempre há de vingar. E é pensando assim que, sempre que vou pra lá, vou enterrando algum galho no chão duro para enraizar ou lançando ao acaso algumas sementes. E toda vez trago uma marmitinha com temperos para a semana. Pouca coisa, mas suficiente para o tanto que cozinhamos em casa - sálvia, coentro, salsinha, erva-doce, alecrim, pimenta dedo-de-moça. folhas de limão kafir, manjericão, tomilho e até flores de lavanda para enfeitar a cozinha.
Verdadeiras ervas finas, dadivosas. Finíssimas, de bons modos, que se prestam a boas combinações. E toda vez que penso em ervas finas me lembro de anos atrás, mais de dez anos talvez, quando fomos a Goiás Velho e lá já estava chegando a onda de bistrôs e restaurantezinhos metidos a besta. Num dos dias em que saímos, Marcos, eu, Ananda e o namorado, para almoçar, tínhamos duas opções. Ou comíamos aquela comida de bufê - um monte de travessa de barro vitrificado (devidamente temperado com chumbo) disposto sobre um fogão de lenha que só serve para ressecar a comida remexida e dar cara de comida goiana/ mineira/ caseira, ou enfrentávamos o tal metido a besta. O fogão de lenha já conhecíamos do dia anterior. Quando entramos no restaurante veio nos receber o dono. Já chegou perguntando: o que vem a ser nosso menu? Primeiro temos uma salada rica. O que vem a ser uma salada rica? Ele perguntava e respondia na sequência, sem intervalos para interpelações. Se deixasse espaço, eu tentaria acertar a resposta. E continuava: Vem a ser uma salada com radicchio, endivias e brotos temperada com ervas finas. O que vem a ser ervas finas? É uma mistura de ervas frescas colhidas na horta das mais requintadas, como tomilho, orégano, manjericão roxo e salsa crespa. Nesta hora deu muita vontade de rir, mas resistimos e pedimos o prato do dia e, por favor, não precisa explicar mais nada, não. O serviço era péssimo e a comida, pior ainda. Só no preço havia capricho. Agora não podemos ouvir este termo, fines herbs ou ervas finas, que temos vontade de rir. A sorte é que na hora do jantar resolvemos apostar todas as fichas naquela porta escura, sobre a qual se lia em letra de mão "pensão, servimos comida". Subimos, só havia nós, fizeram tudo hora: frango caipira, angu, couve, abóbora, quiabo, linguiça frita etc. Ficamos esperando por uns 40 minutos acomodados em uma mesa coberta com toalha de plástico, mas foi, sem exageros, a melhor refeição de toda a viagem por Minas e Goiás.
Mas tudo isto é só pra dizer que estas ervas finíssimas e resilientes, já que têm se adaptado a condições bem inóspitas, entraram no prato da quinta sem trigo fazendo a maior diferença naquela velha massa de idli com farinha de arroz e de feijão. Só não soube dar um bom nome. Aí vai:
Assado de arroz e feijão com ervas
Coloque numa tigela 1 xícara de farinha de arroz, 1 xícara de farinha de feijão fradinho, 1 xícara e meia de água, 1 colher (chá) rasa de sal, 1 de açúcar e 1 de fermento químico em pó e misture bem. Despeje numa forma redonda baixa, pequena, de pizza, untada e polvilhada com farinha de arroz. Ajeite a massa com uma colher e espalhe por cima ervas frescas como tomilho, manjericão, salvia, salsa, alecrim, erva-doce. Espalhei por cima também umas pétalas de rosa carmencita que tenho no quintal, só para o prato ficar mais colorido, já que não fez a menor diferença no sabor. Deixei assar em forno médio por meia hora. Quando a massa começa a se soltar da assadeira e a rachar na superfície, tire do forno. Reguei com um pouco de azeite, polvilhei flor de sal, cortei, passei um pouco de nata e nhac.
Flora, minha sobrinha, disse que é um ótimo aperitivo para acompanhar cerveja. Mas pensei também que pode ser útil para se levar de lanche, no piquenique, ser servido com chá.
Com queijo da Canastra e tomate
Ganhei um queijo da Canastra da Fazenda do Zé Mário, da leitora Claudia que muito gentilmente se lembrou de mim quando esteve no Mercado de Belo Horizonte, e resolvi testar sobre a mesma massa. Um pedaço de 100 g do queijo já meia cura foi ralado por cima. Juntei tomate, orégano, manjericão e pimenta ardida vermelha em flocos. Assei até o queijo derreter e a massa ficar firme e nhac! Não tinha como ficar ruim.
Um comentário:
Oi Neide,
outro dia fiz os tais Idlis, que processo demorado,levou quase dois dias,entre deixar de molho o arroz e o urad dal (é um feijão?), passar no liquidificar e depois deixar fermentar e depois a melhor parte,fazer o comer os bolinhos.Vi que vc.fez com farinha de arroz e farinha de feijão, aqui consigo a farinha de arroz,mas não tenho a farinha de feijão, vc.teria outra sugestão para substituir este processo que fiz com o tal urad dal?eles ficaram bons, mas pelo receita que segui, coloquei Fenukrek (feno grego?) e vi que vc.não usou,achei que os meus ficaram um pouco acidos, na proximo vez, não vou usar.Lendo seu post anterior,dias atras a respeito destes bolinhos (idlis), tentei faze-los normais,isto é,cozidos no vapor, gostei, fiz tb.como paqueca, tb. gostei, soh não gostei deles fritos,acho que absorveram mto.oleo.Agora, vc.deu a dica com ervas (fines herbes), vou experimentar.Bom, obrigada,por todas as suas sugestões.
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