segunda-feira, 17 de maio de 2010

Delícias de Silveiras: Parte 1 - Comendo Içás



O pratinho é brinde do restaurante em Silveiras
(Referindo-se à formiga tanajura) "[...] milhões são consumidos pelo homem e pelos pássaros. Torram-se com gordura os grossos abdomens das fêmeas, cheios de ovos, que segundo a opinião de todos, é um verdadeiro petisco. O tórax com a cabeça e asas, joga-se fora. [...] Muitas tribos dos indígenas comem a formiga mencionada e é provável que os portugueses aprendessem com eles." FREIREYSS, G. Wilhelm. Viagem ao Interior do Brasil nos Anos de 1814-1815. vol. XI, São Paulo, Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, 1906. p. 184-5
Para este final de semana, o amigo João Rural nos convidou para a Festa da Broa que acontece há mais de 20 anos no bairro de Bom Jesus, em Silveiras - SP, uma cidade pequena com pouco mais de 5 mil habitantes e muita tradição tropeira.
Embora pequena, Silveiras é a cidade mais importante do tropeirismo, segundo Guia Nascentes do Paraíba do Sul. No começo do século 17 foi criada a Estrada Real que servia de caminho para tropeiros que vinham de Minas, passando por Cachoeira Paulista, Lorena, Guaratinguetá e Cunha, antes de chegar ao Porto de Paraty. Silveiras nasceu na passagem de uma das inúmeras rotas alternativas criadas para driblar salteadores e os impostos.
Por volta de 1800 a família Silveira instalou um rancho para dar abrigo a tropas em sua propriedade. Logo, outros ranchos se instalaram por ali. É que com a abertura em 1725, de um novo caminho, Caminho Novo da Piedade do Nordeste de São Paulo, Silveiras havia ficado no cruzamento das trilhas que iam e vinham de Minas e São Paulo ao litoral, passando pelo Vale Histórico. Mas, antes mesmo do surgimento de Silveiras, dois dos seus atuais bairros, Bom Jesus, onde foi a Festa da Broa, e bairro dos Macacos, onde fiquei hospedada, já haviam surgido durante o ciclo do ouro, também em função dos tropeiros.
De 1842 a 1844 a Freguesia dos Silveiras, recém-promovida a vila, vivenciou terríveis combates na Revolução Liberal, com vários homens mortos. Em 1864, virou oficialmente cidade e 24 anos depois chegaria a ter 25 mil habitantes. Mas, com o fim do ciclo café, abolição da escravatura e a construção da estrada de ferro que deixou de fora o município, Silveiras foi encolhendo. Felizmente encontrou seu caminho com o artesanato em madeira, a valorização da história do tropeirismo e o turismo rural - afinal a cidade fica nas encostas da Serra da Bocaina, um mar de montanhas de tirar o fôlego, de tanta beleza.
Ainda resistem bravamente nas montanhas algumas araucárias, de modo que por ali o pinhão é presença frequente nos pratos de inverno. E é um dos poucos lugares nesta porção sul do país, onde içás vão pra panela. Tanajuras ou içás são formigas fêmeas da espécie Atta sexdena, a saúva (do tupi ïsa 'uwa), das quais só o abdome é aproveitado - pelo menos na região. Asas e cabeças são dispensadas. Portanto, nada daqueles aromas herbáceos das formigas amazônicas das quais já falei aqui.
Antes de seguirmos para o bairro dos Macacos, passamos na Fundação Nacional do Tropeirismo, presidida por Ocílio Ferraz, que mantém no local um restaurante com pratos típicos e serve içá em farofa durante o ano todo. Ocílio diz que compra de todo mundo que queira vender para ele na época da revoada (entre setembro e outubro) e mantém a iguaria congelada para a entressafra.
Marcos e eu comemos apenas a porção de farofa com cerveja como aperitivo, pois já havia combinado com a Marina, do Sítio do Pinhal, que almoçaríamos lá. Não sei explicar o sabor de içá, mas posso dizer que não se parece com nada que eu conheça ou já tenha comido, que tem um sabor muito marcante e bom, que dá vontade de comer mais, que tem um excelente retrogosto e que mesmo comendo uma só uma vez você nunca mais esquece. Quem come no restaurante ainda leva um pratinho como lembrança.
Próximo capítulo: a festa da Broa.

20 comentários:

Dricka disse...

Neide eu acho que não encaro, não. mas minha mãe ama tanajura, uns tempos vieram umas para cá, já torradas, mas estavam inteiras e ela as comeu assim mesmo. Pra tirar a duvida pergunetei o que eles comem da tanajura e ela respondeu: -Ela toda ué! Onde tem?
rsrsrsrsrs
Bjs

Dricka disse...

inteiras, mas sem asas. Alias eu nem sabia que tanajura tinha asas.rsrs

Mariângela disse...

eu adoraria provar.Beijo!

Filipe disse...

Como isso direto. Eu mesmo as cato do chão de meu pequeno sítio em Chã grande Pernambuco. Dia que chove pela manhã e vai chover no final da tarde elas brotam do chão lindamente. A meninada toda corre para a rua com uma garrafa de refrigerante e começa a encher de Tanajura. Como uma só garrafa de Tanajura dá para a meninada toda a maioria vende facilmente em qualquer casa de morador da região.
Fazer uma farofa de Tanajura e beber com uma cerveja artesanal de estilo bem Lupulado é coisa dos deuses.

Nina disse...

Faz muito tempo que não vejo "chuva" de Içá por aqui, será que estão em extinção?
Quando pequena, eu ajudava a pegá-los, olhava o preparo, mas nunca comi... Quem sabe um dia?
É um costume que por aqui está desaparecendo, não conheço mais quase ninguém que ainda prepare farofa de içás. Pena.

Beijo

Andréa Potsch disse...

Neide!
Faz tempo que estou querendo provar uma farofa de iça. De todos os animais exóticos esse é um dos poucos que tenho coragem de provar (ou acho que tenho hihihi)... Se você ou alguém souber como posso conseguir iça aqui no Rio me fala, ok?
bjs e obrigada

Neide Rigo disse...

Dricka, há quem coma inteira mesmo. Eu gostei de comer só a bolotinha. Mas já comi as do Norte inteira - as patinhas enroscam no dente. Pois é, são as tanajuras aladas que saem em revoada que são apreciadas no Vale do Paraiba.

Mari, acho que iria gostar.

Filipe, obrigada por me contar. Não sabia que por aí o costume ainda vive.

Nina, que surpresa saber disso. Pensei que Guaratinguetá fosse a terra do pilão, da paçoca e do içá!

Andrea, no Rio não conheço. Mas Silveiras não é longe daí.

Um abraço, N

laura disse...

EU ADORO Içá QUAL O MÊS QUE VCS TEM A FESTA DO IÇÁ?
pODERIA ME INFORMAR POR FAVOR.. OBRIGADA

Unknown disse...

EU ADORO Içá QUAL O MÊS QUE VCS TEM A FESTA DO IÇÁ?
pODERIA ME INFORMAR POR FAVOR.. OBRIGADA

delto disse...

Aqui em Pedralva, Sul de Minas Gerais, tem uma época do ano, entre maio e agosto, que elas saem em revoada. As crianças e os passarinhos, ficam "loucos" atrás delas. Isso só acontece uma vez por ano, durante no máximo uma semana - acho que as tanajuras e os vaga-lumes, estão mesmo em extinção, porque quando eu era criança, tinha aos zilhões, e agora é muito raro encontrar... P.S. - Pedralva é a cidade, no Brasil, que tem o maior número de gêmeos, e até a TV Globo e a RedeTV, já vieram aqui fazer reportagem... - veja no meu videolog, a matéria que postei; http://videolog.uol.com.br/deltocoelho/videos/269538

Marcio Maciel disse...

No restaurante do Ocilio em Silveiras -SP tem iça o ano todo.. Vale a pena conhecer..

Ateliê La Casa Nostra disse...

TENHO IÇÁ, QUER COMPRAR?

Marcao disse...

Quanto custa ? Fica congelada ou algo assim ? Onde você mora ?

andreia disse...

como faço pra comprar o içá???meu e-mail:ticotiririco@hotmail.com,por favor,pois é pra minha mãe que é de idade....

tjs10anos disse...

galera terei iças ou tanajuras no inicio do ano que é quando sai aqui na minha regiao quem tiver interesse em encomendar curte essa paginaa no face que qdo estiver com elas em maos repasso.
e explico o procedimento.

https://www.facebook.com/Tanajurass?fref=ts

Anônimo disse...

Tenho muitos litros de iça pra vender kem kizer comprar entre em conta 012996088136 ou 012996607975 falar com o gleison.

jose benedito rosa disse...

IÇA É BOM DEMAIS. UM DIA IREI VISITAR SILVEIRAS!!!

Unknown disse...

A comida é uma das maiores marcas da identidade de seu povo.Aqui no vale do Paraíba paulista temos o costume herdado de nossos ancestrais indígenas de comer Içá, que é muito saboroso , assim mantemos viva esta tradição desde os tempos do descobrimento, caipiras, com orgulho

Anônimo disse...

Eu quero. Como faço para entrar em contato?

Anônimo disse...

Eu amo