Sopa gelada de abóbora pra doentes dos dentes ou dias quentes

Hoje, enquanto estava lá naquela cadeira reclinada com a bocarra arreganhada, aparecendo só ela ali no buraco do campo cirúrgico, o resto todo coberto de verde, me senti boca-e-pés, gastrópoda se desmanchando de fome sonhando com meu peixinho. Não devia ter ido com fome, mas achei que seria rápido, é aqui do lado, e voltaria pra preparar e comer um filezinho de truta que deixei programado pro almoço. E também, quanto maior o sacrifício, mais prazer na recompensa, afinal. Mas, depois de quase três horas voltei murchinha, com dor na boca querendo inchar, com pontos, com gelo e recomendação de comida líquida e gelada nos dois primeiros dias. Esta foi a pior parte. Quer me deixar frustrada é me negar um prato de comida salgada e quente no almoço. E ela tem que ser reconhecida como comida, que vá ao prato, que possa ser devorada com garfo ou colher. Pelo menos uma vez ao dia. Nada de shake, sanduichinhos, sucos e gororobinhas prontas. Sem mãe por perto pra preparar, o que adianta fazer cara de coitada? Aguentei um pouco com o suco que Eliana preparou e disse "hoje você se vira aí com a truta que eu não quero nem sentir o cheiro pra não cortar os pulsos" (depois fiquei sabendo que ela chapeou o peixe e comeu com salada de repolho; o meu teria preparado com purê de batatas rescendendo a gema e manteiga leitosa). Mas foi me dando uma fome de comida, não teve jeito. Abri a geladeira e fiquei pensando numa solução que nem precisava ser muito criativa, mas que fosse prática e sossegasse minhas fomes. Lembrei da abóbora que havia cozido e congelado ontem. Tirei do freezer e deixei em temperatura ambiente por meia hora, só para perder a dureza. Bem, tinha kefir fresquinho e gelado e umas ervas no quintal. O vento me levou para o pé de menta. E, com umas folhinhas na mão, abri a lata de especiarias. O cominho, fazendo psiu. Já tinha pensado em casquinha e suco de limão. Bati, provei e ainda faltava um azeite, uma pimentinha, um tico de açúcar.

Deixo aqui a receita pra mim mesma pois é bem capaz que amanhã já não me lembre exatamente do que joguei no liquidificador. E porque ficou muito bom para doentes ou não, como uma entrada leve para dias quentes. Ou para substituir um pratão de comida no jantar. Com umas torradinhas quentes bem que satisfaz.

Sopa gelada de abóbora e kefir com limão e menta

Para a sopa
1 xícara de kefir ou iogurte natural
1/2 xícara de abóbora cozida bem gelada (pode ter sido congelada e descongelada só um pouco) - cerca de 110 g
1/4 colher (chá) de sal ou a gosto
1 colher (café) de grãos de cominho
1 colher (sopa) de folhinhas de menta ou hortelã comum
1 colher (chá) de azeite de oliva
1 colher (café) de açúcar
1 colher (café) de raspinhas de limão Taiti
1 colher (chá) de suco do limão Taiti

Para enfeitar (e encrementar o sabor)
1 colher (sopa) de folhas de menta
1 colher (chá) de azeite
1 colher (chá) de pimenta vermelha picante picada
1 pitada de sal

Modo de preparo
Para a sopa, bata todos os ingredientes no liquidificador e teste para conferir o tempero. Corrija se achar que deve, juntando mais azeite, mais sal, mais suco de limão. Para enfeitar, soque no pilão as folhinhas de menta com o azeite, a pimenta vermelha (se não tiver problema com elas, aumente a quantidade) e uma pitada de sal. Coloque a sopa num prato, espalhe a misturinha de menta e nhac. Rende 1 porção