quinta-feira, 26 de junho de 2008

Arroz de grelos



Eu tinha acabado de me formar na universidade e trabalhava numa cozinha experimental. Isto tem mais de 15 anos. Estávamos testando receitas portuguesas e minha função era coordenar o trabalho das cozinheiras, organizar as compras e resolver pepinos como encontrar ingredientes inusitados. O primeiro deles foi descobrir onde encontrar os tais grelos para um arroz lusitano. O primeiro lugar que me ocorreu ligar foi para a Casa Santa Luzia, a quem sempre recorríamos no desespero. Grelos? frescos? hahaha./ É, grelos frescos sim, vocês têm? E o moço só fazia rir. Eu insisti e ele passou para outro com sotaque nordestino ainda mais carregado. Este riu como o quê. E quando repetiu: grelos?frescos?, um eco de gargalhadas entrou pelo telefone. Não conseguiam nem falar. Por fim, desligaram o telefone na minha cara de paisagem e devem ter passado a tarde rolando de rir. E eu lá sabia que em algumas regiões do Brasil grelo era um dos apelidos mais chulos para clitóris? Só descobri anos mais tarde e aí fui entender a algazarra e excitação toda dos moços. Bem, se no Santa Luzia não havia grelos frescos, onde mais encontrar? Acabamos usando folhas novas de mostarda e de brócolis no arroz de grelos. Não me lembro, mas acho que deu certo.
Pois outro dia estive no Santa Luzia e encontrei finalmente estes grelos da Galicia, com um pouco de atraso para os meus testes mas não para matar minha curiosidade. Não frescos, mas congelados. Chegando em casa, a primeira coisa que fiz não foi preparar a iguaria, mas sim repetir a mesma ligação de 15 anos ao Santa Luzia para conferir se alguma coisa mudou de lá pra cá. Alô, por favor, o senhor tem grelos? Um silêncio.......... , nenhuma risada. Ela vai estourar, pensei. Repeti com outro acento. Ah, sim, acho que tem, um minuto. Ufa! Voltou. Olha, tem dele congelado, um quilo R$ 20,80. Ah, tá bom, obrigada! Todo mundo sabe que os funcionários do Santa Luzia são educadíssimos, treinadíssimos, super gentis. Mas grelos foi demais para eles naquela época. Fiz o arroz adaptado da receita da amiga portuguesa Elvira, do Elvira Bistrot, que adaptou do livro da Maria de Lourdes Modesto (Cozinhar com Vegetais) e servi com os agulhas fritos, cuja receita e a promessa do arroz estão aqui. Ficou muito bom, imagino que melhor se os brotos fossem frescos. Mas combinou muito.

Da Galicia, onde são verduras de inverno, consumidas frescas. As folhinhas descongeladas, abertas. No sabor, lembram nossas folhas de mostardas, só que mais suaves.
Ah, grelos são brotos ou folhas bem novas de verduras. As que comprei são de nabo. Mesmo congeladas, mantém o aroma de brotos de mostarda somados com folhas novas de couve. Se não encontrar grelos facilmente, não saia por aí perguntando que poderá se dar mal. Procure por brotos novos de verduras como nabos, rábanos e rabanetes (ou use as folhas bem frescas e jovens destes legumes orgânicos) e tudo dará certo.
Arroz de grelos

Meia cebola picada
1 dente de alho socado
1 colher (sopa) de banha (por minha conta) e 1 de azeite
1 xícara de arroz cateto (ou tipo batatais, mais cremoso que o agulhinha)
1 xícara de grelhos congelados - descongelados, espremidos e picados 1 colher (chá) de sal
2 xícara de água fervente

Numa panela, em fogo alto, refogue a cebola e o alho na gordura com azeite até começarem a dourar (sem deixar escurecer). Junte o arroz e mexa por 1 minuto. Junte os grelos e o sal, mexa e adicione a água quente. Quanto estiver fervendo, tampe a panela, abaixe o fogo e cozinhe por cerca de 15 minutos ou até que a água tenha sido absorvida e o arroz esteja macio e úmido.

Rende: 4 porções

Nota: gosto de arroz meio malandrinho, molinho, cremoso. Mas, se quiser, use arroz agulhinha para deixa-lo mais solto.

10 comentários:

Anônimo disse...

hahahaha
Por essa eu não passo.Minha mãe é do nordeste, essa expressão eu conheço.

Marcia H disse...

eu quase morri de rir ao ler o título no meu "reader"
sao coisas tao peculiares, né
ao ler entao, imaginei vc, sem malícia da palavra, perguntando e eles rindo, por nao conhecer um segundo significado.
minha prima foi comprar pao no Rio e pediu 10 cacetinhos, o padeiro respondeu q só tinha cacetao e riu muito, ela nao entendeu nadica
vou tentar fazer isso com brotos de rabanete, deve ser muito bom
bj

clau disse...

Oi Neide.
Por aqui, na Italia, se chama "cime di ràpa". Mas sao sempre frescas, que eu nunca tinha visto congeladas.
E fazemos um belo refogado, que usamos tb em massas, risotos, enfim...
E minha mae disse que enquanto os nabos, beterrabas e rabanetes ainda eram vendidos com as folhas ai em SP (coisa rara, hoje em dia), que ela tb sempre usava.
E eu que nem mesmo tinha reparado nisso antes, distraida que sou.
Bom...assim posso dizer que "sempre gostei" muito delas!

Bjs!

Pedrita disse...

eu tenho vários amigos portugueses que visitam meu blog e nós volte e meia nos surpreendemos com termos específicos de cada país. beijos, pedrita

Agdah disse...

Deveras... como diz meu pai "quem não sabe é como quem não vê". Imagino os dois rindo a valer.

Anônimo disse...

Neide, também comprei os grelos há uns dois meses ( no Sex Shop também e sem nenhum duplo sentido, rsrsrs) e experimentei. Não gostei pois achei muito fibroso. Depois disso, li na própria embalagem que deveria ter tirado os talos grandes e utilizar somente os pequeno e as folhas. É isto mesmo ?

Odete disse...

Hehehe, boa historia!
Agora, arroz de grelos eh muito bom mesmo.
bjs

Artsy Now! disse...

Olá,

Muito bom o seu blog!

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Tem diversas matérias sobre Gastronomia. Dá uma passada lá!

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Abraço,

Priscila

Anônimo disse...

parabéns pelo seu blog e pela gente boa que juntou. Agora, experimente fazer o arroz de grelos como se se trata-se de um risotto. Azeite, alho, grelos e só depois o arroz...

Já agora,ao servir experimente temperar com um toque de vinagre de cidra. Só para apreciadores.

Paulo Ferroni

Anônimo disse...

Aproveito para perguntar: sabem me dizer o que são conigos aqui porque eu comprava na Espanha e aqui não se conhece?