Quando eu ainda era adolescente uma de minhas irmãs comprou este utensílio, o da foto, de um vendedor de produtos de catálogo ou daqueles que vendem de porta em porta, não me lembro bem. Era pra ser uma nhoqueira, segundo ela, mas ninguém nunca conseguiu usar como tal e ele rodou pra lá e pra cá sem uso. Talvez minha irmã nem saiba que está aqui, porque assim que saí de casa aos 19 anos, levei o apetrecho até então intacto comigo, mesmo sem saber para que me serviria. Tenho esta mania: porque um dia pode ser útil. Pois ele ficou guardado durante anos até que descobri a serventia do aparelhinho num livro de culinária alemã. Depois disso, ele saiu do armário e já usei muitas vezes - sempre que quero um prato rápido e substancioso. Agora já tem dele, muito mais bonito, todo de inox, nas lojas de cozinha como Spicy, Rauls, Espaço Santa Helena. Dá pra fazer estes inhoquinhos alemães, de farinha, água e ovo, pingando a massa na água com saco de confeitar, espremedor de batatas, passador de legumes ou até empurrando com uma faca cobrinhas de massa que é colocada sobre uma tábua. Mas com esta pequena geringonça fica tudo mais rápido. Em questão de minutos, terá uma travessa de cobrinhas de farinha cozidas, que pode ser servida com algum tipo de carne com molho. O meu, que comemos no jantar de ontem, foi acompanhado de fígado da marca Korin, que estavam fresquíssimos. Também vapt vupt. Na semana retrasada fiz com carne e tomate para os amigos gaúchos. Aqui, a receita de ontem, facílima.
Spätzle com fígado de galinha
250 g de farinha de trigo (cerca de 2 xícaras)
1/2 colher (chá) de sal
1 ovo grande
3/4 de xícara de água (ou mais, se necessário) Leve ao fogo uma panela com 2 litros de água e 1/2 colher (sopa) de sal. Enquanto isto, numa tigela, coloque a farinha e o sal. À parte, misture bem a água e o ovo e junte à farinha. Mexa bem com colher de pau até virar uma massa elástica. Se precisar, junte um pouco mais de água. A consistência é macia, mas firme, que não escorre facilmente da colher. Quando a água ferver, coloque 1/3 desta massa no compartimento do aparelho de fazer spatzle e vá deslizando pra frente e pra trás para que a massa pingue aos poucos na água. Se não tiver o aparelhinho, coloque a massa sobre uma tábua, apoie na borda da panela e, cortando com uma faca ou espátula, vá empurrando para a água cobrinhas de 1/2 centímetro de massa. Se quiser, use ainda passador de legumes ou espremedor de batatas. Ou coloque a massa num saquinho de plástico bem reforçado e vá espremendo cobrinhas na água. Não é tão rápido, mas também dá certo. Se você quiser, pode temperar esta massa com um pouquinho de queijo ralado, pimenta-do-reino, noz moscada. Assim que subirem à superfície, tire com uma escumadeira. Repita isto com o resto da massa. Depois de todos prontos, despeje um pouco de manteiga derretida ou azeite para não grudar. E sirva com algum tipo de carne molhadinha. Como os fígados abaixo.
Rende: 4 porções
Fígados de galinha refogados com cebola
2 colheres (sopa) de azeite
1 colher (sopa) de bacon picado
3 dentes de alho picados em fatias
1 cebola roxa picada em cunhas
400 g de fígado de galinha limpo e picado em pedaços grandes
2 colheres (sopa) de vinho do Porto (opcional)
1/2 colher (chá) de sal ou a gosto1 colher (chá) de páprica picante
Folhas de manjericão a gosto (ou salsinha, se preferir)
Numa frigideira grande, aqueça o azeite e doure nele o alho e o bacon. Junte a cebola e deixe murchar. Acrescente o fígado, polvilhe com sal e a páprica (e o vinho se for usar) e deixe cozinhar, mexendo de vez em quando com cuidado, até mudar de cor (cerca de 7 minutos). Prove e corrija o sal, se necessário. Espalhe por cima umas folhinhas de manjericão ou salsinha e sirva com o spatzle.
Rende: 4 porções
8 comentários:
isso deve ter ficado MUITO bom!!!
oi, neide, pra mim,isto ficou com cara de jantar húngaro de mãe. a diferença é que ela, em geral, faz com frango com paprika (da húngara, que você nem gosta tanto). lá em casa, a gente chama o tal do nhoque de farinha de nokedli. minha mãe tinha uma lata de goiabada, ou marmelada, que meu pai furou, com uns buracos de meio centímetro, e minha passava a passa com uma espátula. hoje, ela tem uns desses de camelô. mas acho que foi algum camelô húngaro...
beijo.
ih, saiu anônimo o post. agora assino: veronika
ando suplicando por um fígado de galinha,hora dessas não resisto e vai o comunzão do super mesmo,que uma vez por ano não mata ninguém..
Veronika, eu sabia que era você. Eu gosto, sim, da páprica húngara (só não é tão boa quanto à De La Vera rsss). Gostei de saber no nokedli (pra inhoque foi um passo, hem?). Juro que vou tentar esta engenhoca do seu pai. Vou agora comprar uma goiabada só pra ganhar a lata!
Mariângela, faça isto mesmo. Não vai ser um fígado de vez em quando que vai te matar, não? Aqui uso da Korin, que me entrega fresquinho em casa. Mas, se não tivesse, compraria também um bem fresco no supermercado mesmo. E comeria sem culpa. Porque com culpa também não vale.
beijos,
N
Prezada Neide,
É minha primeira vez aqui. Acabo de encontrar seu blog por acaso. Parabéns, gostei muito. Te encontrei por causa do spätzle: procurava uma imagem para mostrar a uma amiga para quem eu passava a receita, pra ela ver como é que fica no final, mas não imaginava encontrar a receita num blog brasileiro. E como já deu pra perceber que você é um espírito aberto, farei aqui um comentário. Minha mãe foi cozinheira em um restaurante em Zurique, na década de 50. Ela era italiana e foi morar na Suiça depois da guerra, onde conheceu meu pai. Ela era responsável por preparar a massa do Spätzle que, aliás, segundo meu pai, é um prato tipicamente suiço!, porém, há uma diferença na nossa receita: a massa é levedada com cerveja!
Segue a receita que mamãe me ensinou:
- Para cada 100 a 200 gramas de farinha vai 1 ovo.
- Em uma tijela grande, coloca-se a farinha peneirada, misturada ao sal.
- Faz um buraco no meio da farinha, onde são colocados os ovos.
- Geralmente faço com 800 gramas de farinha e 6 ovos.
- Então você começa a mover a massa com um garfo, de baixo para cima, ou seja, você enfia o garfo por baixo da farinha e traz para cima, em linha reta.
- Vai virando a tijela e repetindo o movimento.
- Ai, então, você começa a colocar a cerveja (sem gelo), bem no meio da mistura.
- Vai colocando e vai mantendo o mesmo movimento (de baixo para cima).
- Com 800 gramas de farinha, você vai colocar quase meia garrafa de cerveja.
- Continue sempre o mesmo movimento até ver que a massa esteja lisa e homogenea, sem gruminhos
- Ai, cobre com um pano e aguarda, pois a massa vai fermentar
- Você vai saber que a massa está no ponto certo, quando começar a fazer uma bolhas enormes, que vão subindo e estourando bem devagar.
- Ai, o resto você já sabe, colocar a massa no aparelhinho e fazer os nhoquinhos dentro da água fervente.
- Eles vão afundar e, após uns 30 segundos, vão subir; quando subirem, estou prontos.
Espero que você prove e aprecie a receita de minha adorada mãe.
Um abraço,
Silvia
Em tempo:
Vou, com certeza, experimentar o seu spätzle de taioba. De taioba eu conheço somente o efó baiano, que considero um manjar. Portanto, acho que vou gostar da sua invenção.
Sds.
Silvia,
obrigada pelo comentário. E que ótima receita. Vou testá-la com certeza. E lhe dar créditos, claro. Obrigadíssima!
Um abraço, N
Postar um comentário