terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sorvete de cambuci em Paranapiacaba




Acima, o casario circundado de mata atlântica florida de manacá. Abaixo, a melhor casa da vila, que foi a do engenheiro chefe da ferrovia, construída em 1897, e hoje é museu
Durante o feriado de carnaval aproveitamos o domingo ensolarado para passear em Paranapiacaba, uma vila ferroviária pertencente ao município de Santo André. Construída pela São Paulo Railway em 1897, tem interesse histórico por ser a única vila ferroviária conservada no Brasil.
O lugar, encravado na serra do mar, é fantástico, mas ainda tão precariamente estruturado para o turismo. Uma pena. O restaurante onde comemos oferecia um peixe na telha até que bom (com frutas desnecessárias pra enfeitar) sobre toalha de plástico meio engordurado e comidas mexidas, frias e pouco atrativas em rechauds de aço inoxidável Os outros restaurantes parecem seguir o mesmo esquema de self service (nada contra, mas é preciso talento e cuidado dobrados para poder manter a comida atraente - mais fácil é manter um menu enxuto, com duas opções caprichadas, servidas em travessas refratários em vez de inox, pra que mais?). E também não gosto de comida apoiada em várias folhas de alface como elas fossem papel que depois vão murchas para o lixo em vez de chegar na mesa viçosas e temperadas com azeite e vinagre que seja. Acho que só falta por lá uma boa orientação para explorar todo aquela vocação para o turismo de um dia (fica só a 50 km de São Paulo).


Com Marcos, Darly e Suzana, minha irmã
Em compensação, andando a esmo pelas ruas depois do almoço, nos deparamos com uma casa com uma plaquinha pirografada no portão "sorvete de cambuci e outros". Dona Edina Leschice Santos, filha de mãe ioguslava fugida da guerra, mora em Paranapiacaba há 22 anos com o marido ferroviário Almir R. Santos. O casal nos recebeu na cozinha de sua casa, já com a louça do almoço lavada, o fogão fechado, o chão varrido e toalhinha com enfeite na mesa. Abriu o freezer de sua geladeira e nos serviu os potinhos de sorvete cremoso de puro cambuci. Ah, disto eu gostei! Quem quer, pode se sentar num banquinho do jardim.

O casal quis arrumar o cambuci pra foto. Seu Almir até foi buscar umas mudas que não se ajeitaram na produção. Tudo bem, para se tomar ali o sorvete poderia ser servido num potinho de vidro ou até numa xícarae e colher de verdade em vez da de plástico. Mas vale a pena assim mesmo. O pote que dá pra dois custa R$ 3,00.
Sorvete da Dona Edina e Seu Almir: Av. Fox, 435 - Paranapiacaba

O cambuci
está presente no imaginário e realidade do lugar (e também agora na Arca do Gosto, do Slow Food) e como é uma fruta que congela bem e que não se presta para comer in natura, pelo menos sorvetes e sucos podem ser encontrados praticamente o ano todo. Nativa da Mata Atlântica, o cambuci permanece verde mesmo depois de maduro - quando torna-se mais bojudo e com um verde mais amarelado. Tem sabor um pouco adstringente, principalmente se ainda imaturo, mas é extremamente saboroso e lembra um pouco a jabuticaba (mirtáceas as duas).

O salão do Confraria do Cambuci. Limpinho, agradável, só implico com estes plásticos todos

No caminho para o estacionamento (que fica na parte alta, antes da linha do trem), visitamos a Confraria do Cambuci (11-4439-0425), restaurante dedicado a alguns pratos feitos com cambuci, além da tradicional cachaça e peixe frito na hora todos os dias. Mas já não estava mais funcionando e só conhecemos o salão.

E tomamos suco de cambuci no Kiko de Oliveira, Arte e Café, na Pousada do Artista (11-4439-0437), um lugar simpático (o imóvel azul), com suco delicioso, já indo para a parte alta da vila.

O mercado foi construído em 1899 e restaurado em 2003. Servia para a venda de produtos alimentícios, como qualquer mercado. Mas, outra pena, foi desativado nos anos 70 e neste dia estava vazio, mas serve como espaço multi uso.


Há mais de 25 anos eu ia pra lá de trem, que saía da Luz. Agora o trem só vai até uma estação antes, Rio Grande da Serra. Outra pena pra o lugar. O relógio imita o Big Ben de Londres e foi construído em 1890.

Mais fotos, aqui:

paranapiaca

14 comentários:

Silvia - BH disse...

Este pessoal é receptivo aos seus comentários e sugestões? Poderiam aproveitar. Uma simpatia este casal do sorvete. Concordo totalmente com os plasticos - e mais ainda com a decoração de alface que sempre vejo nestes folhetos de supermercado. Uma alface fresquinha é tão boa pra se comer.
Não entendi o que sugere pro self service: não entendi a diferença do refratario para o inox que este é tão prático pra lavar. As duas opções seriam para os acompanahmentos? Quanto ao sorvete, também prefiro o vidro mas quanto à higiene, não é melhor que usem o plástico? Ao menos é o que imagino que os agentes da vigilância sanitária recomendariam.
Vi as outras fotos que disponibilizou-nos no seu album- e que falta de jeito na escolha das frutas junto ao peixe!

Dricka disse...

Neide, eu moro relativamente perto de Paranapiacaba, eu acho lá um lugar lindo, mas fico triste porque assim como você vejo lá um enorme potencial turistico desperdiçado.Lá no inverno é lindo, porque tem uma neblina que deixa um clima maravilhosamente nostalgico no ar, que é a cara do inverno, no entanto faltam bons restaurantes, boas pousadas e lá ainda não tem nenhum hotel, apesar de ter uma mata atlantica que oferece belissimas trilhas. Infelizmente lá acontece o que acontece no nosso pais de forma geral, não se dá valor a singeleza, aclamamos Campos do Jordão, (que sim é linda, mas muito fake pro meu gosto), e desprezamos a beleza histórica de Paranapiacaba. Mas dia mudaremos, com fé!!!
Bjs

Neide Rigo disse...

Silvia,
não sei se este pessoal é receptivo. Não tive coragem de falar. Só demos um toque da televisão no último volume. E pedimos feijão da cozinha na mesa.

Refratário seria uma tigelinha simples de cerâmica que fosse à mesa com arroz e feijão fresquinhos da cozinha. Uma carne de panela, um peixe, uma salada e pronto. Melhor que aquele monte de comida revirada. Inox é fácil de lavar mas não valoriza a comida servida. É o que acho e quando vai à mesa não conserva calor (por isto não é considerado refratário).
E quanto ao vidro, não há regra da vigilância que proiba o vidro - fosse assim não haveria potes de sorvete nas sorveterias. Acontece que ali não é um estabelecimento comercial e sim uma casa que vende sorvetes, como as que vendem sacolés, chupe chupe etc. Mas eu gosto da ideia. E o casal era tão simpático que não tive coragem de dizer. Mas da próxima vez quem sabe...

Dricka,
No dia em que fomos não teve neblina - esperamos até às 18 horas e nada. Mas eu já vi algumas vezes. Aquele relógio fica lindo e a passarela parece suspensa. E pra transformar aqueles mesmos em bons restaurantes nem precisaria muito. Tem ali gente que sabe cozinhar, tem o lugar, os equipamentos, falta só mudar o estilo e quem sabe oferecer uma comida caseira bem feita, com poucas opções (como naquelas tratorias italianas tocadas pela família, com o menu do dia escrito num papelzinho para se escolher entre duas opções). Enfim, a singeleza, como você diz.

Um abraço, N

Patricia Pê Lopes disse...

Eu tb ia de trem pra la e a situação era a mesma 20 anos atras. Que triste! Me lembro que levávamos pic-nic por falta de opções para comer. Quem sabe algum chefe moderninho não se anima e revitaliza pelo menos a área gastronômica por la!

Silvia - BH disse...

Ah, entendi o questão do inox e aprendi. Quanto à sua idéia de cardápio acrescentaria o que se vê muito aqui, uma fritura ou algo assado como acompanhamento. Mandioca frita, bolinhos de arroz, de legumes, de verdura. Ops, vidrofica mais bem lavado do que plástico mas não foi o que quis dizer. Entendi que ofereciam em pote plástico e colher de plástico que são descartáveis.
Tem razão, numa segunda vez talvez escutem com mais atenção suas recomendações.

Anônimo disse...

oi Neide que maravilha você ter vindo pros lados de cá, tambem como a Drika, moro em Santo Andre e fui até o Riacgo Grande neste dia, faço da Drika minhas palavras,so fiquei triste pois poderia ter indo um pouco mais à frente e quem sabe te conhecer pessoalmente.adorei este espaço falando de Paranapiacaba,quem sabe a Administração acorda e veja o potencial que la tem.e pertinho de Sampa, so falta a ferrovia colocar os trens até la. beijos(Diu)

clau disse...

Sabe Neide, o meu pai foi agente dos Correios la em Paranapiacaba, nos idos de 60.E a nossa empregada naquela época em que moravamos em Santo André, a Gracinha, tb vinha de la.
Lembro-me que estive ali umas tres vzs, qdo tinha uns 6/7 anos, mas me recordo sò da nevoa que recobria o lugar, que era lindo...
Valeu pela lembrança.
Bjs!

Patricia disse...

Olá Neide, acompanho seu blog há pouco tempo. Despertou meu interesse pelos ingredientes diferentes que vc utiliza e tb pelas postagens acerca de alguns passeios que vc faz.
Eu e meu marido mantemos uma produçao de mais de 200 tipos diferentes de feijao (muitos crioulos) e mais algumas espécies de milho e outras variedades de comestíveis como amendoim preto, jacatupé, etc.
Pra encurtar meu comentário, gostaria de dizer que, graças a vc, descobri o nome da frutinha mais esquisita que já deu lá em casa: chamávamos de disco-voador por sua aparência e sabor...aliás, ñ pudemos perceber o sabor dada a adstringência da fruta. Pois é, Cambuci!
Ah! Esqueci de dizer que estamos em Goiás e que, por isso, pode ser que o Cambuci tenha ficado tao intragável. Atualmente, meu pé está carregado e tentaremos degustá-las novamente.
Um grande abraço,
Patricia Lieko

Neide Rigo disse...

O papo está na mesa,
nem precisava ser um chef moderninho, bastava um filho da terra fazer como fez o Rodrigo na casa do Norte do seu pai. Quem sabe, né?

Silvia,
certamente é por isto mesmo, porque são descartáveis, mas pra que mais lixo, não é mesmo?

Diu, é exatamente o que penso. O trem até lá, como já existiu, resolveria parte do problema, que são os carros e o acesso demorado por estrada.

Patrícia, fico feliz por ter ajudado. E ficaria ainda muito mais se me mandasse uma foto com estes seus feijões crioulos. Adoraria ter sementes de jacatupé. Você vende?

Um abraço,
N

Patricia disse...

Olá Neide,
ainda ñ temos sementes de jacatupé pois as ramas estao em fase de floraçao.
Qto aos feijoes, vou providenciar algumas fotos.
Posso enviar para qual e-mail?
Patricia

Neide Rigo disse...

Patrícia,
meu email é neide.rigo@gmail.com. Vou adorar. Um beijo, n

CARLOS EDUARDO disse...

Olá
Sou morador aqui em Paranapiacaba e gostaria de recomendar um bom local para uma ótima refeição.
O Apiaca Restaurante que serve uma ótima chuleta na tábua acompanhada de legumes, fritas, um delicioso feijão, arroz branco e farofa.
Fica na Campos Salles, 400 bem perto da passarela.
Vale a pena.

lika disse...

neide, moro aqui em salvador e nunca vi esta fruta.
gostaria de saber quando é o tempo que ela está madura par visitar paranapiacaba. se possivel me passe o telefone de alguem que vende esta fruta.
obrigado

Fosca M.Varoli disse...

Passei minha infância aí em Paranapiacaba.Me emocionei ao ver as fotos das ruas, cachoeiras e casas onde eu brincava nos fins de semana. Hoje moro em Fortaleza, perdi contato com o único parente que talvez ainda more aí. Seu nome é Josias Baeta e seu filho, João Baeta. Meus tios trabalharam com os ingleses na construção da ferrovia...tenho muita vontade de voltar aí e mostrar esse paraiso ao meu neto e minha filha. Obrigada, muito obrigada por ajudar a conservá-lo