quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Gororobe-se. Arroz com feijão

Aqui, já hidratado, feijão roxinho que comprei em Carlópolis-PR

Nada de dourar ossos no forno, clarificar o caldo de aves numa panela, reduzir o molho em banho-maria, fazer a emulsão em bowl, pilar ervas no pilão de pedra ou glacar legumes em brunoise em frigideira antiaderente. Gororoba é coisa para uma panela só, pra quem tem pressa mas não abre mão de comer bem. Gororoba não é só para solitários, mas para aquela hora de aperto em que a criança está atrasada pra escola, ou quando a gente não quer perder aquela sessão de cinema, está com fome e não quer se entupir de pipoca gordurosa. O bom é que gororoba não produz louça suja nem pode levar mais que meia hora pra ficar pronta. E, claro, dispensa mise en place.
Para fazer uma boa gororoba, basta que sua geladeira não esteja totalmente vazia de legumes e que na despensa não falte arroz ou macarrão. Para a refeição ficar completa, alguma leguminosa cozida - grão-de-bico, lentilha, ervilha inteira, feijão-fava, feijão comum, soja e até amendoim. Um gororobeiro profissional é precavido e sempre terá em seu freezer porções pequenas destes grãos cozidos. E nada de congelar grandes alturas, em potes fundos. Os grãos devem estar macios, mas íntegros, sem caldo e frios. Assim, são colocados em sacos plásticos próprios para congelamento e ajeitados de modo que fiquem em placas achatadas. Assim, não vai precisar nem de tempo para descongelar. É colocar a placa direto na panela e os grãos se soltam rapidamente. É só dar um tempo maior para aquecer. E alguma proteína nesta gororoba também vai bem - podem ser cubinhos do bife do dia anterior, lascas de frango assado, rodelas de linguiça, pedaços de atum ou sardinha em lata, cubos de queijo ou simplesmente um ovo cru jogado na etapa final. Ah, e se tiver um torresminho ...
Minha gororoba geralmente leva alguma gordura animal - costumo guardar na geladeira gordura de carneiro, de pato, angola, mocotó; no freezer conservo pedaços de toucinho que tirei do pernil. Quem vai lembrar de miojo com estes sabores?
É só juntar ao arroz que está acostumado a fazer o grão, os legumes da geladeira, a proteína e alguma erva fresca ou seca. Se tiver arroz já cozido, também vale e o processo é ainda mais simples. Neste caso, deve-se usar legumes que cozinham mais rapidamente ou finamente picados ou ralados. Se não, a primeira coisa a fazer é colocar para aquecer um tanto de água caso não tenha torneira de água quente. Deixe o fogo fazer a primeira etapa enquanto você adianta a segunda, de modo que terminam quase ao mesmo tempo. Aí é só arrumar uma mesa bonita, botar vinho no copo e nhac.
Arroz com feijão roxinho e queijo de coalho
Levei ao fogo um cubo de toucinho finamente picado (picar enquanto está congelado é muito mais fácil) com alho picado do mesmo jeito. Enquanto isso, fui picando cebola e pimenta. Juntei meia cebola picada, 1 pimenta dedo-de-moça madura, picada e meio pimentão verde em cubinhos (mas também poderia incluir pedaços de cenoura ou quadrados de repolho). Adicionei 1 colher (chá) de colorau, o sal a gosto (um pouco mais do que está acostumado para a quantidade de arroz que vai fazer) e 1 xícara de arroz. Mexi e juntei 2 xícaras de água quente. Quando ferveu, abaixei o fogo e deixei cozinhar com a panela tampada. Depois de cinco minutos, juntei 1 xícara de feijão cozido (deve estar macio, mas inteiro e sem caldo) e voltei a tampar a panela. Quando a água secou e o arroz ficou macio, juntei 100 g de queijo de coalho. Desliguei o fogo, acrescentei salsinha picada e nhac. Dá pra quatro comilões apressados.
Nota: poderia ter refogado linguiça em azeite antes de tudo. Poderia ter juntado cubinhos de frango com a cebola. Poderia ter colocado frango assado com o arroz ou peixe enlatado já no final, só para aquecer. E usado um macarrão de formaturo curto em vez de arroz. Poderia, poderia, poderia. É assim, gororoba não tem receita.

16 comentários:

Carlos disse...

Neide, uma dúvida...
È verdade que tomate verde faz mal a saúde? Eu adoro...
Abraço!

Mariângela disse...

queria almoçar esta gororoba hoje,deveria estar deliciosa!beijo!

Neide Rigo disse...

Carlos! Talvez pela acidez e pela quantidade maior de glicoalcaloides (tomatidina) se comparado com o fruto maduro. Mas usado em pequena quantidade, como as batatas da mesma família (tem solanina), tudo bem. E na gororoba também fica ótimo.
Um abraço, N

Neide Rigo disse...

Mari, ao menos sinal de uma visita inesperada corre-se o risco de uma gororoba assim surgir à mesa. Portanto, nem precisa avisar. É só aparecer (se fosse mais perto, né?)
bjs,n

Anônimo disse...

Boa tarde Neide, adoro gororoba, vc tem razão na pressa e gostoso e rapidinho, se tiver mais receitas desta manda ver noís agradeçe(rsrsrs), Neide como vc faz com a gordura dopato, pois a minha sempre acho que está queimada, queria fazer como o porco lembra que é colocado em um galão e as carnes fica dentro depois e so tirando e esquentando,acho que hoje é confitar mais chique,no meu tempo era pra não estragar. beijos.(Diulza)

Anônimo disse...

a-do-ro gororoba também! semana passada que fiquei trabalhando em casa rolou uma de arroz 7 cereais, feijão azuki, cenoura, beterraba, shitake e missô... mas como tava numa onde de dieta não refoguei nada, amassei o alho e cozinhei junto mesmo. essa é a vantagen da gororoba também, né?
bjs, Leticia

Neide Rigo disse...

Akemi! No inverno, a gororoba aqui é tipo sopa, minestrone, coisas assim.

Diulza, se sobra gordura na assadeira, junto água para diluir tudo, passo no chinois, coloco líquido e gordura num vidro, tampo bem, viro o vidro de cabeça pra baixo e deixo na geladeira. Quando a gordura resfriou, viro o vidro, jogo fora a parte líquida (ou uso numa gororoba)e fico com a gordura. Se o pato for cozido, a mesma coisa - sempre desengorduro o caldo, para usa-los separadamente. Pois é, nossa carne de lata é como o confit.

Letícia, deve ter ficado bom. De fato, nem precisa refogar.

Um abraço, N

fénix renascida disse...

Come-se, e com gosto!!!

Parabéns por esse teu dom!

Em luta pelo direito de acompanharmos as nossas crianças, o nosso futuro!!!
A começar por esta petição. Um outra se seguirá, pedindo apoio ao Governo Português para acompanharmos os primeiros anos dos nossos filhos.
Tivesse eu mãos assim tão prendadas!!!

Mas o meu assunto é outro. Trata-se de saber a quem cabe a guarda dos filhos, em caso de separação: se à mãe (que é, regra geral, a sua figura primária ou de referência, por ser aquela que lhes presta praticamente todos os cuidados diários), se ao pai (que, regra geral, pode ser o que reúne melhores condições), ou se a ambos (estejam ou não de acordo, e independentemente de terem ou não uma boa relação).

Palavras sábias de um pai que ganhou, em tribunal, a custódia dos filhos: A tutela dos filhos é um empreendimento para a vida; não pode ser gerido por dois sócios que não se entendem. As pessoas não conseguem deixar de usar o seu poder para anular decisões e exercer pressões. É preferível que só um dos pais tenha a tutela, por muito que isso custe ao outro. A educação de uma criança não é passível de falhas.'

Ponhamos a mão na consciência: se a lei não permite que se separe as crianças de junto dos seus pais, mesmo que estes vivam em fracas condições, porque razão há-de um juíz atribuir a guarda ao progenitor que ofereça melhores condições? É este o superior interesse da criança?!

Urge reabilitar a maternidade, fazer com que as mães possam acompanhar mais de perto o desenvolvimento dos filhos!!!!

http://www.peticaopublica.com/?pi=P2009N575

veronika paulics disse...

gororobar-me-ei...
bj. v.

Anônimo disse...

Cara Neide:
Você não se esqueça de me responder: dá para comer o feijão da fava (verinho) da pata de vaca?
Quanto à gororoba, faço uma que denomino misturadinho:
Coloco o s bora de feijão já temperado, ervas, deixo esquentar, coloco sobras de linguiça, bife ou frango. Deixo apura um pouquinho, coloco o arroz, quebro dois ovos, misturo e adiciono um pouco de farinha de mandioca (grossa), misturo mais um pouco e nhac (sic)
Abraços.
Hayrton Prado
hayrton@uol.com.br

Neide Rigo disse...

Hayrton, mandei resposta sobre a pata-de-vaca para o seu email. Mas se outros quiserem saber, a conclusão de um trabalho feito em Campina Grande conclui o seguinte sobre a Bauhinia variegata:

"1. As sementes de Bauhinia variegata apresentam alto valor energético e níveis de minerais dentro dos padrões de outras leguminosas que são utilizadas na alimentação humana e/ou animal.
2. A análise das frações protéicas das sementes de Bauhinia variegata permitiu determinar a presença de pelo menos uma lectina.
3. Estudos detalhados sobre possíveis fatores tóxicos ou antinutricionais presentes nas referidas sementes devem ser realizados, portanto é necessário tomar cuidados no uso das mesmas como material alimentício."

Ou, seja, pode mas não muito.

O trabalho completo pode ser visto aqui: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-43662005000300014&script=sci_arttext

Quanto à sua gororoba, deu vontade!

Um abraço, n

Pepino disse...

Ush! Que foto apetitosa! Hummm com gordura animal ainda, que delícia! Ai... e pensar que em casa a janta vai ser pizza requentada =(

Anônimo disse...

Oi Neide,
Parabéns pelo seu blog. Eu o encontrei por acaso enquanto navegava pela internet tentando saber o que é um turu (que nao é pro meu paladar...rsrs) mas suas informações foram muito interessantes!
Adorei o seu blog, as fotos, as receitas e o seu amor pelos alimentos. É tão cativante que nao consigo parar de ler e estou adorando suas dicas, e aprendendo uma coisa nova em cada um dos seus posts. Espero que o seu joelho tenha melhorado.
Obrigada pelo seu trabalho e como os americanos dizem: "Keep up the good work!"
Claudia Yamamoto
clauyamamoto at msn dot com

Pedro Botelho disse...

Neide,

bem dizer um baião de dois ..né

abraços

Pedro Rui

Adi disse...

Não sou tão fã assim do feijão, então a minha "gororoba" está mais pra arroz frito japonês, e entra de tudo, principalmente cebolinha, ovo mexidinho, cenoura raladinha... minha filha também adora. Quanto ao feijão, prefiro ele como um tutuzinho ou o "feijão gordo".

Luiz Nicoletti disse...

Tão antiga quanto gostosa essa receita .
Quando minha mãe fazia , era festa . Mas se colocar ovo , eu dispenso.
O interessante é que se usa de tudo nessa receita . me lembro que minha mãe colocou flor de abóbora ou cambuquira , ou os dois ( os anos levam parte de nossa história ).
LUIZ NICOLETTI
alnicotti@gmail.com