terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sobre sagus e sagüis




Antes que minha amiga carioca/marajoara Kátia reivindique autoria, vou logo dizendo: o título é dela. É que fomos passear no Jardim Botânico, no Rio, e nos deparamos com as duas coisas: sagüizinhos comendo jaca e logo em seguida um lindo pé de sagu que eu não conhecia ao vivo. Mas a Cyca quase passa batida por mim e por ela. Quem a avistou foi a menina Mariana sabendo do meu interesse por gêneros alimentícios.
No Brasil, nossas bolinhas de sagu são feitas com amido de mandioca, mas as pérolas de sagu ou pearl sago, como são conhecidas na língua inglesa, originalmente são obtidas a partir do amido tirado da medula do tronco de algumas palmeiras dos gêneros Borassus, Arenga e Metroxylon, incluindo a Metroxylon sagu (veja o vídeo abaixo), encontrada na Ásia e Pacífico e também desta planta da foto, que não é uma palmeira, mas do gênero Cyca, Cycas revoluta, da Indonésia e do Japão.
Parece que o alimento começou a fazer parte da dieta da tripulação dos navios que voltavam da Ásia trazendo chá para a Europa, no século 19. Aos poucos ele foi sendo incorporado aos hábitos dos ingleses, especialmente os do norte industrial e, na última metade do século, passou a ser usado em pudim, manjar branco e alimentos infantis. Porém, com a alta demanda, as bolinhas brancas, que se tornam transparentes depois de cozidas, passaram a ser feitas com outros tipos de féculas (ou amido) com características similares, especialmente a de mandioca, o polvilho. Mas podem ser feitos também com uma mistura de amido de mandioca e de batata doce, como fazem os chineses. Ou ainda com araruta, usada em vários países da América do Sul. Féculas de batata, de feijão e de milho são outras alternativas. O importante é que resultem em pequenos grãos esféricos, transparentes ou translúcidos, com textura elástica e gomosa depois de cozidos. Receitinha com sagu com hibisco, AQUI.
Pela legislação brasileira, quando o produto é feito de outro amido que não o da palmeira, a informação deve constar no rótulo: “sagu de (o vegetal de onde foi extraído o amido)”. Por aqui, o mais comum é mesmo o sagu de mandioca, já que a raiz farta nestas terras. Mas no Pacífico, o amido das palmeiras tem tantas aplicações e produtos quando o nosso polvilho, entre eles o sagu. Com o amido obtido por sedimentação, como o nosso, também se faz um mingau elástico para comer com peixe e até uma espécie de tapioca.
Veja o vídeo que mostra a extração do amido da Metroxylon sagu. O feitio de uma espécie de "tapioca" é muito similar ao nosso. Vale a pena.



Ah, os sagüis do Jardim Botânico que encontram


Jacas à vontade, assentadas no chão

10 comentários:

Marcia H disse...

ai, agora eu quis ser um sagüi :-)

Neide, tenho aqui "pearl sago", tentei fazer igual a sagu na Bahia e nao consegui, acho q preciso deixar de molho por mais tempo. Vou testar, pois qd tentei estava meio nervosa (ainda grávida) e te conto, será que o gosto é o mesmo?

Marcia H disse...

ah, vi hibisco em conserva numa delicatessen, quase morri, 12 euros o frasco com umas 8 flores!

Daniel Brazil disse...

Lindas fotos! Aprendi esta do sagu da Cyca há alguns anos, com o Dr. Panizza, botânico da USP com quem trabalhei.
Você continua incansável no teu blog, né? Sorte nossa.

Gina disse...

Neide, tinha uma Cycas revoluta no meu jardim, até postei uma imagem dela com as folhas de desenrolando. É muito linda!
Belo post, como sempre.
Bjs.

clau disse...

Como uma exemplar de "louca por sagu", lembro que antigamente, e digo antigamente mm, se comia em SP o sagu aquele "original"...
E eu tb fiz pesquiza sobre isto um bom tempo atras, pq nada se iguala à textura dele, mm que a gente se conforme de comer aquele de mandioca...
Mas se pode encontrar, com sorte, em mercearias de produtos indianos tanto o sagu, sagu, qto a rapadura feita com açucar de palmeira, tb.
E mm uma longa viagem em trem para ir fazer a compra em Roma, nao me impede, hihihi!
Em tempo: hibisco ou karkadé é tudo de bom!
Bjs!

Neide Rigo disse...

Oi, Márcia, o nosso sagu quando deixado de molho se desmancha todo. Eu prefiro joga-lo em bastante água já fervente e cozinhar até ficar translúcido. Cruzes, que caro estes hibiscos, hem?


Clau, o sagu aqui no Brasil sempre foi feito com amido de mandioca. Qual será este a que se refere? Feito com vinho em vez de hibiscos? Nisto tem razão. Com hibiscos é invencionice minha.

Por aqui nunca vi sagu sagu, com o amido da palmeira, mas sim de batata doce, os chineses, nas lojas da Liberdade. Assim como o açúcar de palma, também encontrada nas gôndolas de produtos tailandeses.

Obrigada, beijos,
N

clau disse...

Bem, se vc diz isto, o fato é que meu avo usava aquele "verdadeiro", qdo eu era pequena...
Provavelmente os seus conhecidos, ali pelos lados de Buritama, tinham uma sua "produçao propria": e suas bolinhas eram transparentes, firmes e perfeitas!
E minha familia sempre o fez com suco natural de frutas acidas, principalmente daquela uva que tinge a lingua da gente,hihihi.
Mas o sagu de mandioca serve pra matar a saudade...
Bjs!

Neide Rigo disse...

Clau, agora fiquei curiosa. Porque o amido da palmeira é muito parecido com o nosso de mandioca e que eu saiba o sagu aqui sempre foi feito de mandioca, mesmo no nosso tempo de criança. Na aparência, imagino que os sagus pouco se diferenciam. Tem como confirmar isto? Seria interessante saber que algum dia já se usou amido desta palmeira aqui no Brasil. Depois me conte. beijos,
n

clau disse...

...memoria de criancinha e avòs que ja nao estao mais aqui, beh, terei que me revolver à minha mae para ver o que ela sabe, ok?
Pode até ser que fosse, realmente, importado...
Faz assim, nao queria transformar este post em um "forum", rss, "email me" através o meu blog,pq eu nao consegui faze-lo aqui, 'ta bom?
Bjs!

Anônimo disse...

Olá, tenho uma duvida que gostaria de sanar Neide, estando grávida eu posso tomar sagu de vinho? nas primeiras semanas de gestação para ser mais exata?