quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Fui ao Mocotó

Caju com sal e boa cachaça, costume nordestino. Combinação perfeita.

A tal da lei seca que vigora em São Paulo serviu para dar mais trabalho pelo menos para uma categoria profissional – os motoristas de vans. Quem se arrisca a ir a um boteco e voltar dirigindo? A nossa se chamava Bala de Prata. Nossa bala seguiu lenta, mas chegou ao alvo. Cruzou São Paulo no horário de pico, o que já foi uma aventura, mas ao mesmo tempo um programão. Da próxima vez, sabendo que se pode passar até duas horas no trânsito, o melhor é levar cestinha de piquenique e começar o come-e-bebe ali mesmo. Eu cheguei verde de fome ao Mocotó. Estávamos em dez: Mari Hirata, suas duas irmãs e cunhado; Ana Soares, marido e filha; Betty Kövesi, Nina Horta e eu. Fomos conversando e rindo e nem vimos o tempo passar (só minha barriga reclamou). Eu conheci o Rodrigo no evento do Caderno Paladar, mas não o seu palco, que é um verdadeiro sucesso na zona norte, num bairro fora do circuito gastronômico – pelo menos por enquanto. Nos fins de semana tem fila de 2 horas para conseguir uma mesa. O lugar é simples e agradável. Logo na entrada, dezenas de reportagens emolduradas, o orgulho da vizinhança. As pessoas chegam a pé para tomar uma cerveja e comer um torresminho, bater uma mocofava ou beliscar as deliciosas lingüiças artesanais tira-gosto com pimenta biquinho.

Ali funcionava, desde 1973, uma simples casa do Norte do Seu Zé como tantas outras que há na Lapa, no Rio Pequeno, na Freguesia do Ó ou vila Nhocunhé. Elas pipocam longe de nossas vistas, acreditem. Mas Vila Medeiros nem é tão longe assim, vá. É pertinho da estação de Metrô Tucuruvi. Um taxi dali até lá deve ser baratinho. Foi dia de jogo, tinha muito trânsito, um homem tentou se matar na torre de energia da Barra Funda, cortaram a luz. Do caos ao paraíso fomos nós, pois chegando lá já saiu uma caipirinha de caju, outra de limão cravo e assim foi (ninguém ia dirigir mesmo), com as melhores cachaças, dentre as centenas do menu. O seu Zé e a dona Lurdes, que trabalham até fechar o boteco, deram sorte grande, que o filho bonitão leva jeito pra coisa. Estudou gastronomia, incrementou as receitas de família e passou a tocar o negócio com o maior carinho. Caiu nas graças do chef Laurent, Alex Atala e de tantos jornalistas e críticos que por ali passam e depois recheiam páginas de renome com elogios.
E, além da comida deliciosa e cuidadosa, não adianta fingir que não vi: o moço é um pitéu. E pura simpatia. Quem faz cara feia pra mocotó (perna e pé do boi), lá come sem reclamar e ainda lambe os beiços que grudam de puro colágeno e prazer.

Comemos, bebemos e adocicamos com tudo o que tínhamos direito. No final, a conta: R$ 37,00 por pessoa! Um nada.

Em vez de ficar me exibindo aqui de ter comido isto e aquilo, atiçando cobiças de quem ainda não foi ou não vai ter chance de ir um dia, vou passar nas postagens seguintes as receitas dos pratos que comemos – só uma pequena mostra da cozinha farta. Elas me foram mandadas gentilmente pelo próprio Rodrigo. Não testei nenhuma, mas ele não é o tipo de cara que esconde o jogo. Já comprei fava-manteiga do Piauí que ele usa na Mocofava e espero arriscar a receita em breve.

Então, amanhã, receitinhas do Mocotó com todas minhas dúvidas esclarecidas, antes que me perguntem detalhes. E depois tem mais e mais.

Mocotó
Avenida Nossa Senhora do Loreto, 1100 – Vila Medeiros
Tel. (11) 2951-3056 www.mocoto.com.br.

Pra não ficar batendo cabeça, no Google maps , digite exatamente como está aqui: Av. Ns. do Loreto
e terá o mapinha das redondezas.

Só elogios!



Rodrigo servindo a Betty Kövesi

Boa comida e boa companhia: A turma da Van Bala de Prata com Rodrigo (atrás da Nina Horta, que se esconde atrás da Betty). Eu, de verde.

3 comentários:

Ana Paula de Andrade Torrica disse...

sou aluna do curso de gastronomia da universidade anhembi morumbi. recentemente, no módulo de cozinha brasileira, nosso chef instrutor, mauricio, nos levou ao mocotó. realmente, experiência inesquecível! o que é aquele caldinho de feijão? e o escondidinho de carne seca, então?
sem palavras!
recomendo!

Mari Rezende disse...

Neide, adorei o passeio! É tão legal descobrir lugares que ainda servem a boa comida brasileira, feita om tanto carinho...
Ah, gostei muito do post sobre a araruta! Minha família é do interior de Goiás, e é muito triste ver que muitas receitas se perderam porque as pessoas pararam de cultivá-la para cultivar a mandioca comum...

Beijinhos!

Agdah disse...

Bem, da cachaça não sei, mas o caju com sal e o mocotó com certeza têm lugar especial no coração e na pança.