Faz tempo que Slow Food não é só sinômimo de comida lenta ou oposição pura ao fast food, como muitos ainda acreditam. Tem mais a ver com uma comida boa, limpa e justa. Por isto não me intimido em dizer que às vezes ou quase sempre minha comida do dia-a-dia, da hora do almoço, é sim uma comida rápida e prática, mas nem por isto feita nos moldes fast food da comida padronizada, monótona e tudo o mais que isto representa. Acho mais fácil fazer o que fiz que botar uns nuggets no forno ou descongelar uma lasanha no microondas.
Tem dias que passo horas ininterruptas trabalhando no escritório e quando vejo se passaram 4, 5 horas sem que me desse conta. Paro quando me vem a fome e só aí me lembro que não sei o que teremos de almoço. A única coisa que faço é tirar alguma proteína do freezer pela manhã, quando não compro algum peixinho fresco no Mercado da Lapa. Chego então à cozinha e improviso com o que tenho na geladeira ou no quintal. Prefiro sempre o quintal (por isto as comidas de provisão, as conservas e que tais acabam embolorando na geladeira). Não que meu quintal seja grande, pelo contrário, é um ovo. Mas dali pra cima é todo meu e as coisas vão ganhando o céu como conseguem. Passei as taiobas para um corredor com pouca luz e elas crescem vigorosas. Assim como o ora-pro-nobis que, se a gente descuida, ele lança um galho sorrateiro e espinhento no meio da noite a espiar o vizinho. Estas duas mais a couve me dão matéria verde orgânica e nutritiva durante o ano todo.
Voltando, foi nestas circunstâncias que cheguei a cozinha sem nada além de umas sardinhas graúdas do Sul e o saco de farinha polvilhada que trouxe de Florianópolis sobre a pia. Eliana já verdejava de fome, embora nunca admita, talvez porque morra de medo de cozinhar de mim, bobinha. Mas ando descobrindo que a danada cozinha bem e com capricho (aguardem boas comidas por aqui ). Então foi tudo vapt-vupt. Acendi o fogo sob a chaleira com água antes de pensar num bom acompanhamento para aquelas sardinhas. A farinha me fez lembrar dos bons pirões que comi em Florianópolis, mas não havia sequer um caldo de feijão.
Foi aí que me veio à mente a página inteira de uma receita de mingau de folhas de taioba que tinha visto há um tempo no livro de Ana Judith de Carvalho (Cozinha Típica Brasileira - sertaneja e regional), que ganhei do meu amigo Felipe Miguez. Constava como receita do Sudeste, para se comer com peixe frito. Nem precisei voltar à receita, pois lembrava que tinha medidas imprecisas e, sem fotos, já havia formado a ideia do que seria. O fato é que fiz do meu jeito, com três folhonas de taioba verdinhas, e ficou muito bom. Leve, nutritivo e ao mesmo tempo substancioso. Checando depois a receita, percebi que dei uma incrementada com temperos que não haviam, mudei um pouco a técnica, mas a taioba e a farinha estavam ali e era o que importava. Medi, porém, tudo o que usei e aí está a receita. A farinha polvilhada foi essencial para a liga cremosa do mingau a que vou chamar de pirão. A mesma farinha usei para empanar a sardinha que, antes de qualquer coisa, temperei com sal, pimenta-do-reino, alho e gotinhas de limão-rosa. Fritei, na hora de servir, em imersão no óleo quente. Em 15 minutos estava tudo pronto na mesa. Fast food Slow.
Pirão de taioba com farinha de mandioca 3 folhas grandes de taioba (ou ¾ de xícara já cozida, escorrida e picada)
2 dentes de alho
2 dentes de alho
2 colheres (sopa) de azeite
1 colher (chá) de sal
1 pimenta dedo-de-moça vermelha sem sementes picada em quadradinhos mínimos
2 xícaras de água fervente
½ xícara de farinha de mandioca bem fina e polvilhada (de Santa Catarina)
1 colher (chá) de sal
1 pimenta dedo-de-moça vermelha sem sementes picada em quadradinhos mínimos
2 xícaras de água fervente
½ xícara de farinha de mandioca bem fina e polvilhada (de Santa Catarina)
Cozinhe as folhas de taioba em bastante água salgada (só tire a nervura central). Escorra quando as folhas estiverem molinhas (cerca de 10 minutos) - aferventar e escorrer reduz bastante o teor de ácido oxálico, que pode pinicar a língua. Pique as folhas cozidas até ficarem bem trituradas. Deve render cerca de ¾ de xícara. Reserve. Numa panela doure o alho bem picadinhos no azeite. Junte a pimenta picada e a água quente. Em seguida, junte a taioba e espere ferver. Junte, aos poucos, a farinha de mandioca, mexendo sempre. Deixe engrossar. Prove o tempero e corrija o sal, se necessário. Sirva com peixe frito. Rende: 4 porções
7 comentários:
Posso dizer que é uma alegria ter um quintal, por menor que seja, pra colher e comer pratos simples e deliciosos. Estou pensando em fazer mais 1 jardineira de ervas.
Bjs.
Pois eu não tenho um quintal, com muita pena, mas vou tendo na minha varanda ,uns vasos já com umas ervas aromaticas e outras já em franco crescimento.
Adorei a receita, não conhecia.
bj
Eu também tenho um quintal, em que planto uma infinidade de coisinhas. Mas ainda quero plantar o jambu paraense. Aquela muda que você achou no Mercado da Lapa vingou?
Neide:
Minha comida também é assim. Ultimamente temos comido muita rúcula do quintal, embora a geada tenha detonado minha hortinha. Às vezes, feijão e arroz vão junto para a panela de pressão, com legumes e alguma carne de frango, vaca ou uma deliciosa linguiça caseira.
E viva a criatividade.
Beijo.
Gina, é uma alegria, sim.
Pois, é, Abelha, mesmo uma jardineira ou alguns vasos já quebram um galho, não?
Elis, meu jambu está invadindo o quintal. E foi daquela mudinha.
Ana, eu sou rainha de fazer isto. Aliás, hoje comi linguiça caseira. Amanhã, aqui.
Beijos, N
Gostei muito do seu blog e ele foi onde achei muita coisa sobre taioba. Você poderia me informar onde posso encontrar uma muda de taioba? Já plantei vários inhames e qdo crescem vi que não é o que tem folhas comestíveis e sim da taioba brava. Agradeço se me der um retorno. Meu e-mail: vilmacont@gmail.com
Ola. Meu nome é Josi e moro em Sp. Estou pesquisando sobre taioba comestível; a procura de muda, mas estou tendo dificuldade de encontrar.
Como conseguir... tem como ser enviada pelo correio em tempo de chegar saudável???
jozi.anjos@gmail.com
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