Aproveito para copiar aqui o texto sobre o movimento que escrevi para a Revista Bons Fluidos (ilustração e texto da Revista).
Tatiana Paiva
Educação para o gosto
Curtir o preparo de uma receita, com apuro na escolha dos ingredientes e em seu próprio tempo, ganhou caráter de movimento na Europa. É o Slow Food, que entre nós já reúne muitos adeptos. Caso da nutricionista Neide Rigo, que participou do encontro Terra Madre, realizado em Brasília. Aqui, ela conta como atitudes ecológicas se relacionam com o prazer à mesa
Por Neide Rigo, especial para a Bons Fluidos
Revista Bons Fluidos - 12/2007
Você já deve ter visto por aí o caracolzinho, símbolo do Slow Food. O movimento, nascido na Itália em 1986, está presente em 122 países, com 83 mil membros. Até há pouco tempo, eu achava que tudo não passava de um pequeno grupo de sonhadores com idéias opostas ao modelo do fast food. Jantares longos e agregadores, celebrações do prazer de comer, degustações de raridades harmonizadas com vinhos caros e piqueniques bucólicos povoavam minha imaginação. Só até eu me associar e descobrir que a filosofia do movimento é muito mais nobre que a simplória contraposição ao fast food. É principalmente a luta por uma alimentação boa, limpa e justa e tudo o que isso envolve. Embora cause grande impacto na Europa, ao Brasil o caracol vem chegando no ritmo que lhe é próprio. Mas acabo de voltar do Terra Madre, em Brasília, com a certeza de que, ainda que devagar, encontrará um terreno muito fértil.
AFINADO COM O MEIO AMBIENTE
Essa foi a primeira vez que o encontro aconteceu no Brasil e estava integrado à IV Feira Nacional de Agricultura Familiar e Reforma Agrária, organizada pelo Ministério de Desenvolvimento da Reforma Agrária. As duas versões anteriores do Terra Madre, em 2004 e 2006, foram na Itália. Trata-se de um dos projetos do Slow Food para integrar gente do setor agroalimentar de norte a sul. Todos afinados com o ideal de preservação ambiental, produção sustentável e respeito ao homem e suas tradições culturais. Resumindo: valorização dos produtos, dos produtores e da terra que os mantêm.
INTERCÂMBIO DE SABERES
A experiência foi ainda mais enriquecedora porque, nos quatro dias em que estivemos reunidos, o debate envolveu detentores do saber tradicional, como índios, assentados de reforma agrária, pescadores artesanais e representantes de comunidades do alimento com antropólogos, cientistas, cozinheiros e associados do Slow Food. Hoje, mesmo entre os mais reticentes, já está ficando difícil dissociar o ato de comer da responsabilidade que se estabelece com a produção do alimento: de onde vem, quem produziu e qual o impacto ambiental e social gerado na sua produção. E isso de forma alguma exclui o prazer de comer. Pelo contrário, reforça nossa auto-estima como produtores, recupera nossas referências gastronômicas, destruídas em nome da globalização, e nos devolve uma relação saudável com a comida. Quem sabe, voltaremos a ter aquele saber natural acerca do ciclo da vida e da sazonalidade das coisas. Nesse caso, é importante o papel de chefs e donos de restaurantes, que deveriam valorizar produtos regionais e da estação em seus cardápios.
PARA SABER MAIS
Um dos pontos altos do Terra Madre foi o Intercâmbio de Saberes e Sabores, em que os participantes tiveram contato com pequenos produtores de alimentos, entre os quais os catalogados pela Arca do Gosto*, caso da marmelada de Santa Luzia, e os protegidos pelo projeto Fortaleza**, como o feijão canapu, do Piauí. Grandes lições!
* ARCA DO GOSTO
O projeto identifica, cataloga e divulga alimentos vegetais e animais em risco de desaparecer, mas que ainda conservam algum potencial comercial. No mundo todo, são mais de 750 itens relacionados.
** FORTALEZA
Diferente da Arca do Gosto, esse projeto auxilia de forma prática grupos de produtores artesanais. Isso envolve a ajuda financeira para a implementação de melhorias e o desenvolvimento da qualidade dos produtos, assegurando a sustentabilidade e a viabilidade comercial.
SLOW FOOD
No site http://www.slowfoodbrasil.com/, é possível saber se há algum núcleo de associados perto de sua cidade. Se não, você pode reunir pessoas simpáticas ao movimento e criar o próprio convívio.
6 comentários:
Neide, que notícia fantástica!!
Fui membro do Slow Food por muito tempo, e sempre me acabei de tentar entrar em contato com alguém do convivium de SP, que de todos os do Brasil sempre achei o mais xumbrega. Cheguei a trocar e-mails com a antiga "presidenta" do convivium, sugerindo eventos, disponibilizando meus trabalhos GRATUITOS como designer para a causa, e NADA. NENHUM MOVIMENTO por parte da mulher para melhorar o convivium. Cheguei a reclamar direto com os caras da Itália, mas eles só podiam sugerir que eu mudasse de convivium... Pouco prático.
Adoraria colaborar de alguma forma mais prática, não só com a contribuição anual. O que posso fazer?
Beijos!
Olá convivas! Estou só no aguardo para os eventos farão mto sucesso em 2008!!! Já tem algum marcado??? Tb posso ajudar, se precisarem! bj Sill
Neide
Estive um dia na Feira, parece que estava linda e interessante. para quem participou deve ter sido mesmo interessante. Achei o site complicado quando entrei mas vou tentar novamente. Obrigada pela indicacao!
Neide, querida, obrigada por me incluir nesta lista "coletiva, escolhida a dedo!".
Bem, eu me associei no ano passado, como já havia te falado...e estou muito interessada em participar ativamente!
Poderíamos visitar as propriedades, trabalho este q já tem calendário, mais ou menos organizado através da Viva com Orgânicos. Vamos ver o q podemos fazer, tá? Quero muito cooperar e divulgar!
Bjs...
Alessandra Madeo
Não sei se em Portugal há algum movimento slow food, mas o que é certo é que mesmo sem dar por isso eu sigo essa filosofia.
Parabéns amiga!
Beijocas
Nunca había escuchado ni leído nada de este movimiento... De que trata? me gustaría conocer más del Slow Food aunque sea de otro país, quizás pueda ayudar o colaborar desde aquí o incluso viajar hasta allá! se que es un post antiguo, pero si aún está activo el movimiento me gustaría participar
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