segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Laranjas de chupar ou o mercadinho do português


Seu Emílio é o português que há pouco tempo abriu um sacolão aqui perto de casa. Moramos numa zona residencial estrita e não há nenhum comércio muito perto. Agora, é só andar um pouco que eu chego lá e compro as melhores laranjas do bairro. Afinal, ninguém mais dá importância para laranjas de mesa. Até os produtores estão na fila para comprar mais mudas visando o próspero comércio de suco para exportação. Ninguém mais quer saber de morder e mastigar uma laranja suculenta. Estamos criando uma geração de crianças que só conhecem frutas pelos melados sucos das caixinhas de tetra-pack. Pois eu gosto de levar uma tigela para a frente da televisão com laranjas de vários tipos e comer inteiras umas 3 ou 4. Nós todos aqui em casa temos este hábito esquisito. Aliás, minha família toda faz isto e a gente acha que é a coisa mais normal do mundo (hoje sei que não é). Desde que me conheço por gente não me lembro de um só dia na casa de meus pais em que a cesta, ou a gaveta da geladeira, não estivesse cheia de laranjas. Minha avó paterna se sentava embaixo de uma limeira da pérsia e chupava limas até não poder mais. Uma vez passou mal e teve que ir para o hospital. Meu pai chupa umas 8 por dia. E quando é época delas no sítio, até mais. Mas o Seu Emílio têm sempre ótimas frutas – laranja-lima e bahia, lima-da-pérsia e pêra, todas suculentas e doces. Sabe-se lá onde ele vai buscar. Só sei que no Hipermercado Extra, o comércio mais próximo daqui, as laranjas são horríveis. E quase tudo o mais. As limas são sempre murchas, os melões, aguados e os pêssegos, esponjosos. Minha implicância é mais pelo tamanho monstro daquilo que devorou todo o pequeno comércio do redor. Por isto, estou feliz com o mercadinho do português que vende, além de frutas e hortaliças, vinhos lusistanos e produtos de supermercados. Um adeus ao Extra e a todos os hipermercados. Viva o mercadinho do português que sempre me cumprimenta “bom dia, ó filha”. Torço para um dia aquilo vire um Santa Luzia e vivo perguntando como está indo o negócio. Responde sempre que o importante é o cliente, ó filha - seja lá o que isto queira dizer (acho que está indo bem). Por enquanto o que tem lá é o essencial, mas do bom e do melhor. E é assim: chego, compro uma porção de coisas e ele manda entregar. Às vezes vem ele mesmo dirigindo o carro e ainda pergunta se quero carona (além de proprietário, é caixa, empacotador, entregador e ótimo anfitrião). Peço apenas que dê um tempo para minha caminhada de volta, prefiro, quando tenho esta vista do Pico do Jaraguá.


Minha rua, fim de tarde, vista para o pico do Jaraguá

9 comentários:

Sill disse...

Esquisito? Não sabia que isso era esquisito! Minha mãe descasca tanta mexirica sentada no sofá desde qdo eu era criança!! E meu pai comia laranhas bahia com tanto apetite que nunca vi esquisitisse nisso. E você sabe que somos urbanos totais lá em casa... Eu mesma só não como muito de preguiça, confesso...mas se alguém descasca pra mim...rs... Mas acho que neste apecto tive sorte mesmo... Embora a lonjura do meu bairro sempre tenha me estrassado tanto, ainda tem quitanta de japonês e padaria de português. Vocês bem que podiam vir chupar uma laranja por estes lados quaquer dia, heim? bj Sill

Neide Rigo disse...

Oi, Sil,
que bom saber que estas esquisitices não são tão esquisitas assim. beijos, n

Fer Guimaraes Rosa disse...

Neide, laranja sempre foi "sobremesa" na casa dos meus pais. Eu amava a lima e sempre chupava muitas, quando tinha. Tambem gosto da baiana. Desde que casquei fora do Brasa que nao sei o que eh uma laranja lima... :-( ganha-se e perde-se, nao eh?

Outro dia eu estava tentando lembrar de quando foi que os supermercados comecaram a substituir as feiras e os mercadinhos. Eles facilitam a vida, tah certo, pois voce vai la e tem tudo: padaria, acougue, quitanda, farmacia. Mas por outro lado, ficou tudo massificado. Meu filho me falou que nao consegue mais comer fruta de supermercado, pois elas nao tem o mesmo sabor das organicas do mercado local. Ainda bem que ainda existe gente assim como voce, que compra no portugues! ;-)

Nada a ver com o post, mas a foto do pico do Jaragua me fez lembrar uma experiencia tenebrosa que eu tive la, com minhas primas. Meu tio levou a gente num passeio e foi ali que eu descobri minha fobia por alturas, que eh uma das muitas fobias que eu tenho... ai, ai...

Beijo! ;-**

Neide Rigo disse...

Fer,
Pra quê iria querer limas com estas nectarinas maravilhosas que tem no quintal de casa? E esta fartura de pistaches? Ah, certamente você mais ganhou que perdeu.
Eu também já tive experiência traumática no pico. Descemos por uma trilha, alguns adultos e algumas crianças, no fim de tarde. A noite sem lua chegou de repente, no meio do caminho. Momentos de desespero, fome, frio, medo. Sorte que alguns amigos desceram de carro e vieram com cães e guardas nos resgatar. Mas, passou...

Agdah disse...

Lá em casa, as laranjas são do sítio e meu pai colhe sempre. Também fomos acostumados assim, comendo frutas de verdade, descascando laranjas e fazendo tudo para não quebrar aquelas cordinhas da casca. Ainda estou para provar uma dessas de supermercado que seja tão doce como um laranja de umbigo colhida no pé. Tenho pena das crianças que só conhecem suco de caixinha ou de máquina.

Neide Rigo disse...

Oi, Agdah,
que inveja! Ah, se eu pudesse ter sempre as laranjas do sítio. Foi-se o tempo em que laranja de umbigo do mercado ou da feira era tão boa quanto a do pé. Agora é uma coisa seca. As do português ainda são boas. bjs, n

Anônimo disse...

Olá. Aqui em Portugal também é difícil arranjar fruta boa... felizmente ainda restam umas lojas pequeninas, espalhadas pela minha cidade (Guimarães) onde é possível encontrar fruta boa e barata, sem comparação com a dos hipermercados: demasiado perfeitas, demasiado lustrosas, demasiado iguais. Infelizmente a União Europeia está a fazer com que as frutas e os vegetais tenham que obedecer a tamanhos, calibres, acabando assim com a boa fruta portuguesa: os agricultores substituem as plantações de produtos autóctones pelas espécies que obedecem às regras do mercado, e desta forma vão acabando os produtos próprios de cada região...
É uma pena... ainda me lembro de quando a minha mãe comprava maçãs para todo o ano numa quinta ao lado de casa: ficavam no escuro cobertas por um pano... eram deliciosas!

Neide Rigo disse...

Oi, Carla,
adorei sua visita e ainda mais saber como são as coisas aí em Guimarães. Se me permite, vou reproduzir seu depoimento no blog.
Um beijo, n

Projeto: Um comodo por mês disse...

Neide, ainda tem esse mercadinho? Onde fica?