Já havia feito várias experiências com amaranto outras vezes – nenhuma muito satisfatória. Em sopas, como fazem os bolivianos, as bolinhas milimétricos desaparecem. Las calaveritas de amaranto para o dia dos mortos mexicano tampouco me atraíram. Já as pipoquinhas (aquecidas na panela quente até virarem do avesso) até que são interessantes para decorar saladas, sanduíches, cremes gordurosos, mas é um uso quase recreativo. O que eu queria mesmo era algo mais substancioso, já que o grãozinho é bastante nutritivo, e neste último final de semana comprei novamente um pouco dele na feira boliviana, no bairro do Pari, aqui em São Paulo, disposta a novas aventuras. A vendedora disse que ficaria melhor se o colocasse de molho antes de cozinhar. Deixei coberto por água durante uma noite – a água praticamente não penetra nos grãos que têm pele resistente, lisa, nada porosa, de modo que sempre ficará al dente. Depois de cozido por mais ou menos meia hora, temperei com sal e fui ver tv com o potinho na mão, mastigando uma a uma das bolinhas, tentando advinhar sua vocação. De repente quebrei um grãozinho crocante por fora e macio por dentro e me veio a imagem do caviar. Claro, como não pensei nisto antes? Era só cozinhar com a tinta de lula que tinha acabado de congelar – tenho vários pacotinhos no freezer, que guardo quando limpo lulas- , salgar e pronto. Foi tão óbvio que duvidei que alguém já não tivesse tido a idéia (como eu já fazia com bolinhas de sagu há 15 anos cozinhando-as com cúrcuma para imitar ovas de salmão para fotos – hoje há versões super sofisticadas e pretas destas ovas de amido). Deixei de molho ¼ de xícara de grãos, dissolvi 3 bolsinhas de tinta de lula em água quente, cobri o amaranto com ela e deixei cozinhar, sem sal, até os grãos ficarem macios internamente e a água toda evaporar (fui juntando mais água quente, até que os grãos estivessem macios). Salguei, provei e achei que ainda faltava gosto de mar. Lembrei do vidrinho de anchovas em óleo que estava ali, fácil, na geladeira. E bastaram umas gotinhas para dar o brilho e o sabor da enganação. Se você tem em mente um fino beluga, pode se decepcionar, mas é um destino bastante nobre para um simples amaranto - que alimentou o povo azteca antes que os espanhóis ordenassem destruir toda a plantação porque os grãos eram usados em rituais religiosos, considerados pecaminosos pelos europeus.
Bem, fui ver na internet se havia algo parecido com este caviar, já que me pareceu uma descoberta tão óbvia. Bingo! Um restaurante argentino, um vegetariano espanhol e a nossa própria Embrapa Cerrados, que apresentou o produto num congresso no ano passado. Não sei como são feitos estes outros, mas não devem ser muito diferentes da minha receita.
Junto com a quinoa e a cañahua, o amaranto faz parte da alimentação andina. Rico em fibras,super protéico e com indícios de que reduz colesterol, a espécie Amaranthus cruentus é estudada na USP e plantada no Cerrado. Para servir, batatinhas cozidas no vapor e fatias de pão cobertas com kefir drenado e gotinhas de limão. Só faltou uma taça de champanhe ou vodka.
15 comentários:
Neide, o amaranto deve ser o amaranth, nao? eu ja tentei usar esse grao e falhei miseravelmente.. compro umas bolachas naturebas feitas com ele. A ideia do caviar foi supimpa! ;-) beijo,
Oi, Fer,
é isto - amaranth. Ele não é mesmo um grão muito fácil. Mas desta forma ficou uma delícia. Tente e depois me fale. beijos, n
Deve ser muito dificil!! Mas ficou tão bonito!! :)
Oi Eliana,
difícil é encontrar o amaranto - em feiras de produtos orgânicos ou na tal feirinha boliviana (aos domingos à tarde, na praça Kantuta, no Pari - estação armênia do metrô). De resto, é facílimo. Não tem segredo nenhum. Bjs, n
http://www.cerealistasaojose.com.br/
encontrei este site que tem varios graos organicos a venda...pena que estou tao longe de sampa...
beijos meninas
En Bolivia e Perú se conhece o amaranto com o nome do idioma queshua de "kiwicha" e quando era bem pequena escutava dizer que poucas pessoas sabiam utilizar de diversas formas te felicito
parabéns e que entre as diversas razões estaba desaparecendo por completo, em Mexico com o nome de amaranto se faz um docinho chamado "alegrías de amaranto"
rNeide estou adorando suas receitas,
mas qro falar sobre kefir,procuro a mto tempo,pois tenho problema de intestino e vc falou nele,onde posso acha-lo.
Muito Grata
Maria da Graça,
obrigada. Escreva para o meu email.
Um abraço, N
não tenho tinta de lula, poderia usar outra coisa? ah to amando seu blog!!
beijão
oiii! nao tenho tinta d elula, poderia usar outra coisa??
Beijos!
Katharina,
obrigada! Quanto à tinta de lula, não me vêm à mente nada que a pudesse substituir. Um abraço, N
Neide, como vc cozinhava o sagu para fazer as falsas ovas de salmão? Não entendo muito de caviar mas existe várias cores não é? preto e vermelho. Poderia eu usar o açafrão para o amaranto também?
Lamentável a referência pseudo-histórica aos espanhóis, mesmo porque o povo que habitava os Andes eram os incas e não ´aztecas`. Falta estudo sério para afirmações desse naipe.
Luiz, desculpe se veio aqui em busca de referências históricas. Este é um blog de comida e o post é sobre como fazer amaranto com tinta de lula. Ainda assim mencionei algum fato histórico sem pretensão maior que não a de dar algum norte para quem não sabe o que é amaranto e sua história. Não é o seu caso, parece. Embora, pelo que vi, tenha lido o post na diagonal pois é fato que o amaranto era cultura importante para os aztecas, tendo o México como centro de origem. Sugiro se informar em artigos fartos por aí, como este: http://www.scielo.org.mx/pdf/remexca/v2n3/v2n3a5.pdf.
Ou, se já sabe tudo, que leia ao menos este post por inteiro.
Neide
Oí Neide adorei eu tenho caruru e outras plantas frescas disponivel e vc puder me passear mais receitas
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