O pão tipo baguete chamado de tapalapa é feito com trigo branco em fornos de barro e é facilmente encontrado nas aldeias. Para acompanhar, margarina feita em Dakar que não derretia nem depois de um dia inteiro sob sol quente. No começo estranhei bastante, mas depois inventei um jeito de tornar a refeição mais atraente. Como não gosto de margarina, para não comer o pão seco, preparava um copo de nescafé com leite, adoçava com um cubo de açúcar e ia comendo nacos de pão encharcado até me sentir satisfeita. Dava pra começar bem o dia assim, mas ficava pensando porque não o café touba? Ele aparecia de vez em quando, mas era raro diante da onipresença do nescafé.
Por lá não se bebe bebida alcóolica. As rodinhas são formadas por outro motivo. Durante o dia, no fim da tarde ou à noite, nas vilas ou nas aldeias, é possível ver grupos de homens, mulheres, jovens e até crianças sentados em cadeiras em volta de um braseiro com uma chaleira de água quente. É momento de descontração e alegria. Fazem ali o chá da China adoçado e perfumado com menta. Mas não é simplesmente fazer a infusão e beber. Há um ritual. Primeiro que ninguém faz chá para beber sozinho e depois, precisa de muita paciência para ficar passando parte do chá de um copo para outro até formar bastante espuma. Quando a espuma está branca, volumosa e densa, despeja-se tudo de novo na chaleira e a bebida quente é servida em copos pequenos como de licor. Quanto há menta, bem, colocam-se as folhas. Se não, uma balinha tipo walda resolve. Veja uma das fotos do álbum. Diante dos elogios do chá fortemente mentolado, embora super doce como sempre, o rapaz desembrulhou o segredo de um guardanapo de papel às gargalhadas pela malandragem inocente. De vez em quando as rodinhas mudam o repertório e preparam café touba.
Falando em chá, num dos dias quando dormimos na aldeia, o café da manhã foi servido no quarto de alguém. Eu havia acordado muito cedo, já tinha passeado bastante e estava morrendo de fome. Já eram quase nove horas quando nos chamaram para o café no quarto de alguém - nos sentamos na cama e o café foi posto no chão. Tudo igual aos outros: pão, margarina, cubos de açúcar e sachês individuais de leite e nescafé. Mas, para nossa alegria, entrou em cena um chá pelo qual me apaixonei. Era o Kenkiliba, folha de uma árvore da espécie Combretum micranthum, parente da planta que temos aqui na caatinga, a Combretum leprosum ou mofunbo, cujas folhas são usadas por seus efeitos anti-asmáticos. No Senegal, o chá é usado como digestivo, contra malária, hipertensão e há quem a indique até conta HIV e doenças de fígado. Mas também pode ser servido por ser gostoso no lugar do chá da china. Achei aromático quase como um chá mate e, junto com leite, me fez lembrar os chais indianos.
Amarrados de Kenkeliba encostados à árvore |
Nas estradas ele é vendido amarrado em grandes cilindros afunilados como uma grande baguete amarrada. Fiquei arrependida por não ter trazido um desses amarrados, mas comprei na feira um pouco das folhas soltas e já estou lamentando que logo vão se acabar.
Ninguém pediu minha opinião, mas se pedissem para sugerir um café da manhã senegalês bem gostoso, ele teria pães feitos com milho, milhete ou sorgo, como os feitos pelo Michel e James, com manteiga de amendoim, farta por lá, café touba, beñes de banana e milhete e amendoim sem fritura, infusão de kenkeliba com leite, melancia e refrescos de hibisco, de baobá e de tamarindo. Eu ficaria bem feliz em começar assim meu dia.
Veja as fotos:
6 comentários:
Oi Neide!
Me apaixonei com essa viagem ao Senegal compartilhada conosco. Acho que li todas as postagens e gostei de todas.
E depois desta sobre o café da manhã senegalês fiquei pensando como as grandes marcas anda influenciando no mundo. Não imaginei que Nescafé fosse tão usado assim na África. Como estes países sofrem por "depender" dos outros desenvolvidos, como li em outra postagem.
Nas notícias dos jornais, nas revistas, em sala de aula sabemos dessa dependencia mas não imaginamos que seja tão enraizada assim.
Adorei tudo dito sobre o Senegal, os tecidos são maravilhosos, gamei!
Beijos!
Oi Neide, Que barato esse seu relato sobre o café da manhã! É muito bom poder compartilhar contigo dessa viagem. Um verdadeiro tratado antropológico. Rsss. E além do texto gostoso de ler, vc é uma fotógrafa de mão cheia. Continue nos brindando com esses insights sobre os hábitos alimentares.
e cachaça, cerveja? não entram nas rodinhas?
Que caderno LINDO!!!!!
Bruna, nescafé é unanimidade nos cafés da manhã. Uma pena, né? Os tecidos são lindos mesmo.
Rod, que bom que está gostando. Eu também fico feliz de poder partilhar a experiência com vocês. Obrigada!
Angela, cachaça? cerveja? Eles são muçulmanos. Bebida alcoólica está fora. Só nós, os gringos, encontrávamos umas flags e gazelas. Um caderninho desse por viagem, e volta um lixo.
Um abraço, N
Muito bom o blog,meu amigo que recomendo,ai vir conferir e eu vou recomendar tb,e acompanha..me recomendaro esse site de rastreamento pois eu tava precisando de um rastreador http://rastreamentodecelular.net sera que é bom? rsrsrsrs abraços..parabens pelo blog
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