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Torcendo a mandioca ralada para extrair a fécula - que não conheciam |
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Numa aldeia, tirando água do poço a seis mãos |
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Lavando milho para o nixtamal |
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Limpando peixe seco para os fatayas - bolinhos fritos |
Mãos não são mero apêndices. Começam fofas e delicadas apoiadas às costas da mãe. Aos poucos roçam na areia, ganham textura, aspereza. E contornos de conchas, de pinças, de garfos, de facas, colheres, martelos. Ganham ritmos, destreza, precisão. E direção. Direita para comer, cozinhar, coisas boas e limpas. Esquerda para limpar, tirar lixo, assoar nariz. Às vezes escapam as duas. Mãos que se cumprimentam. Mas mãos femininas podem induzir desejos. Homens, melhor evitá-las ou terão que se lavar antes da oração. Comida se come com a mão. Um naco de carne pode ser dividido com a mão direita e generosa de alguém que distribui porções menores aos que compartilham o mesmo prato. Na falta de uma mão esquerda para cozinhar, juntam-se várias mãos direitas que são mais que um par delas. Mãos se ajudam em alternância nas mãos de pilão para o feijão e cereais para cuscuz. E nas cordas do poço d´água. Em ritmo perfeito, no intervalo sincrônico do vai e vem, meninas moças fazem sobrar tempo para mãos que se estalam em palmas brincalhonas. Mãos adornadas. Esmaltes que tingem unhas, aneis de pedra, pulseiras de prata, contas coloridas dão a dimensão da importância. O que mais me chamou a atenção foram mãos que se ajudam. Vai uma mãozinha aí? Veja outras fotos:
9 comentários:
obrigada pela curiosidade.
Neide, nao comento muito no seu blog, mas devo dizer que ADORO suas reportagens...
essas fotos das maos sao incriveis, adorei tudo, as cores, a mensagem...
mil obrigadas por mais uma viagem virtual por esse mundo afora!
linda!
Quanta poesia e beleza neste texto e nestas fotos...
Alias, seria uma ideia de projeto fotográfico: Maos mundo à fora...
Obr
Neide,
adorei tudo sobre sua viagem ao Senegal e este texto sobre as mãos, lindo! Acompanho outro blog,amiga que ficará Uganda 2 anos e amo ler as estorias das pessoas que trabalham com estas ONGs, comovente!
"Parece ser próprio do animal simbólico valer-se de uma só parte do seu organismo para exercer funções diversíssimas. A mão sirva de exemplo.
A mão arranca da terra a raiz e a erva, colhe da árvore o fruto, descasca-o, leva-o à boca. A mão puxa e empurra, junta e espalha, arrocha e afrouxa, contrai e distende, enrola e desenrola; roça, toca, apalpa, acaricia, belisca, unha, aperta, esbofeteia, esmurra; depois, massageia o músculo dolorido.
A mão tateia com as pontas dos dedos, apalpa e calca com a polpa, raspa, arranha, escarva, escarifica e escarafuncha com as unhas. Com o nó dos dedos, bate.
A mão abre a ferida e a pensa. Eriça o pêlo e o alisa. Entrança e destrança o cabelo. Enruga e desenruga o papel e o pano. Unge e esconjura, asperge e exorcisa.
[...] Apanha com gestos o eu, o tu, o ele; o aqui, o aí; o hoje, o ontem, o amanhã; o pouco, o muito, o mais ou menos; o um, o dois, o três, os números até dez e os seus múltiplos e quebrados. O não, o nunca, o nada.
É voz do mudo, é voz do surdo, é leitura do cego.
Faz levantar a voz, amaina o vozerio, impõe silêncio. Saúda o amigo balançando leve ao lado da cabeça e, no mesmo acina, estira o braço e diz adeus, urge e manda parar. Traz ao mundo a criança, esgana o inimigo.
[...] A mão, portadora do sagrado. As mãos postas oram, palma contra palma ou entrançando os dedos. Com a mão o fiel se persigna. A mão, doadora do sagrado. A mão mistura o sal à agua do batismo e asperge o novo cristão; a mão unge de óleo no crisma enquanto com a destra o padrinho toca no ombro do afilhado; os noivos estendem as mãos para celebrar o sacramento do amor e dão-se mutuamente os anulares para receber o anel da aliança; a mão absolve do pecado o penitente; as mãos servem o pão da eucaristia ao comungante; as mãos consagram o novo sacerdote; as mãos levam à extrema-unção ao que vai morrer; e ao morto, a benção e o voto da paz. In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum" (Alfredo Bosi, citado por Éclea Bosi. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p.468-9)".
Lindíssimos post, Neide. Me emocionou, assim como o das crianças. Um beijo, com muita saudade.
Sabe, a primeira coisa que publiquei na vida foi escrita aos 12 anos e se chamava: As mãos. Foi na revista Garotas!
Me emocionei. Aliás, sua experiência me impressionou tanto.. eu tinha lido a metade dolivro da ingrid Bittencourt, aí me lembrou. Resultado: sonhei que eu tinha ido pra lá também, e vc tava lá, claro. Sonho rico em detalhes.. mas eu não tinha levado toalha de banho, lata de leite, nada..
Sabor, Sally e Nana, eu que agradeço por estarem aqui.
Patrícia, o cenário era sempre muito lindo, só faltou uma boa fotógrafa com bom equipamento por lá. Fica a dica para os profissionais.
Marta, qual é o blog da sua amiga?
Fabiana, obrigadíssima por este texto lindo, que não conhecia. Queria ter tido esta inspiração!
Ângela, no sonho estávamos na Colômbia com a Ingrid ou no Senegal. Um toalha de banho é sempre muito útil, não pode esquecer.
Um abraço, N
Lindas as fotos das mãos.Ainda bem que existe este espaço para compartilhar tantas coisas bonitas.
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