Orvalho é, sobretudo, questão de pele. Porosidade, pilosidade, vilosidade. E claridade do dia, umidade do ar, friagem da noite. Em Fartura fez muito frio neste final de semana que passei por lá, para festejar dia dos pais. As manhãs foram geladas de céu limpo, a terra vermelha fazendo barro e as plantas marejadas de emoção até a chegada do sol de secar. Sereno que vira sal cristalino sobre folhas aveludadas ou diamantes reluzentes em superfícies ásperas. Tudo depende da pele. E ainda há pérolas de cristal, lágrimas, lagos, lantejoulas, luzes da cidade vista do céu, espelhos, bolas de natal. Tudo conforme a pele. E eu me enrosco feito toco de enchente, mas vou só, sem pressa, clicando mil almeirões roxos, embevecida. Molhando a barra da calça nos matinhos úmidos, na roça, na horta. Almeirão roxo que enfeitiça, folhas e flores de limoeiro, beldroegas e beldroeguinhas, serralhas e serralhinhas, mentruz, folhas de couve, flores de brócoli. De tudo cheirei ou comi, temperados com olhos de orvalho extra-virgem.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Come-se com olhos de orvalho
Orvalho é, sobretudo, questão de pele. Porosidade, pilosidade, vilosidade. E claridade do dia, umidade do ar, friagem da noite. Em Fartura fez muito frio neste final de semana que passei por lá, para festejar dia dos pais. As manhãs foram geladas de céu limpo, a terra vermelha fazendo barro e as plantas marejadas de emoção até a chegada do sol de secar. Sereno que vira sal cristalino sobre folhas aveludadas ou diamantes reluzentes em superfícies ásperas. Tudo depende da pele. E ainda há pérolas de cristal, lágrimas, lagos, lantejoulas, luzes da cidade vista do céu, espelhos, bolas de natal. Tudo conforme a pele. E eu me enrosco feito toco de enchente, mas vou só, sem pressa, clicando mil almeirões roxos, embevecida. Molhando a barra da calça nos matinhos úmidos, na roça, na horta. Almeirão roxo que enfeitiça, folhas e flores de limoeiro, beldroegas e beldroeguinhas, serralhas e serralhinhas, mentruz, folhas de couve, flores de brócoli. De tudo cheirei ou comi, temperados com olhos de orvalho extra-virgem.
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12 comentários:
que lindo Neide,é um texto que mais parece poesia.Delicado como tu.Beijos!!
Ah! Mas ela é poetisa...
E as fotos também são lindas!
Um abraço
Manuela S.
Neide.
Estou simplesmente encantado, com a alma alimentada pela beleza das imagens e de teu texto. Imagino as vivências irrepetíveis de um tronco descambando rio abaixo.
Hummm... Catando a poesia que entornas no blog.
Fêssora!
Hoje vc veio nos alimentar os olhos e a alma! que lindo!!!
Boa semana!!!
Além de tudo é poetisa. Senti até o frio de Fartura vendo as fotos. E você ficou tão inspirada que nos transmitiu seus sentimentos. Lindo.
Mari, Manuela, Rui, Daniel, David, Gilda, obrigada. É impossível não se meter a poeta diante de tanta beleza que quase sempre se nos mostra à grande, mas que está também tão à miúda, escondida nas coisas que às vezes só notamos através das lentes.
beijos, n
Que lindo!
Fotos e texto!
Alimentou-me a alma...
Beijo
Neide,sempre te visito e continuo admirando o teu trabalho.
Mas, hoje não posso ficar calada diante da beleza das fotos,da sensibilidade do olhar e do falar/escrever....
Me senti em Fartura com fartura de tudo, de cores e de vida.
Muitos leitores estão certos, é pura poesia.
Parabens!!!um grande abraço
Cristina
um grande abraço
Neide,
Descobri seu blog a dois anos e desde então tenho aprendido, com você, a olhar "com olhos de orvalho extra-virgem" ... Parabéns por tão delicadas e enigmáticas imagens. Elas grudam no olhar...
Sarita
Neide!
Amei a fotos! Estão sensacionais!!!!
E o texto, então! Uma delicadeza, como o orvalho! Beijos Kelly
Que delícia. E eu aqui, há trinta anos sem palmito amargo. Será que me vou para a outra vida sem esta delícia mais uma vez? Parece.
Adorei o texto do orvalho. Que escritora, meu Deus!
Sonia
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