quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Chá de congonha-do-campo



O presente veio da Tanea Romão, do restaurante Kitanda Brasil, de Gonçalves-MG, meses atrás: "Neide, você já tomou chá de congonha do campo? Sabe se tem algum parentesco com o mate? Estivemos no festival da quitanda em Congonhas e tomamos o chá. A folha torrada lembra chá mate. Um senhor me prometeu umas mudas. Por enquanto temos as folhas secas para fazer o chá. Lá eles secam as folhas frescas em forno de barro e depois fazem o chá com açúcar queimado e fica uma delícia, apesar de eu tomar chá sem açúcar esse ficou muito bom."
 
Ontem ainda restavam algumas folhas e fiz novamente o chá, que é como um mate fresco, com aroma mais delicado e adocicado com um amargor muito discreto. Mas a característica, a lembrança imediata, é mesmo do chá mate. Confesso que havia me esquecido da erva. Na época pesquisei um pouco e logo depois fui atropelada por outros assuntos.
Mas descobri que é, sim, parente do mate, da mesma família e mesmo gênero. É uma espécie do gênero Ilex (o mate é Ilex paraguaiensis, da família Aquifoliaceae). Pelo que consegui apurar, pode ser da espécie Ilex conocarpa. E você, leitor, se tiver outra informação mais precisa, fique à vontade para me contestar (nota pós-post: João Luis, leitor, me corrigiu, como pode ver aí nos comentários - na verdade, trata-se da planta 
Luxemburgia polyandra )  
Agora, uma coisa é certa, foi ela quem deu nome à cidade mineira Congonhas do Campo, hoje abreviada para Congonhas - que tem origem no tupi "ko'gõi", que quer dizer algo como "o que sustenta e alimenta". Esta erva era abundante nesta região do rio Paraopeba, onde está a cidade. E embora o chá das folhas secas à sombra ou em fornos seja comum por lá, quando visitei a cidade não fiz outra coisa que não me encantar com as esculturas do Aleijadinho. Prometo que ficarei mais atenta da próxima vez.
O próprio mate é originário da América do Sul, entre sul do Brasil e Paraguai. Mas, por aqui, goianos, mineiros, mato-grossenses, paulistas, baianos e paranaenses tem alguma espécie do gênero Ilex que cresce espontâneamente em seus territórios. E várias plantas recebem o nome de congonha, inclusive a erva-mate chamada às vezes de erva-congonhas. Todas elas são aromáticas e usadas na terapêutica caseira contra dores de estômago e males dos rins - são tidas como diuréticas. Entre outras substâncias, contém cafeína e princípios amargos em comum com o mate genuíno. Eu gostei porque faz um chá aromático, melhor que aquele feito com o mate tostado.
Como preparei: como recebi a erva já seca, apenas juntei 2 folhas por xícara de água já aquecida para que ficassem uns 5 minutos em infusão com a xícara tampada. E fiz outros dois tipos de chá, ambos adoçados, combinando as folhas, que juntei sempre no final, com outros aromas. Um comecei com açúcar caramelado e canela e ao outro juntei gengibre e cravo. Deliciosas formas de espantar o frio.
Alguém aí conhece?

20 comentários:

Nadia Marrach disse...

Comendo (ou bebendo) e aprendendo! Quanta informação atrás de um simples chá!!! Por acaso você teria uma foto da planta ou poderia me indicar onde tenha? Qual o porte, ou seja, será que dá pra plantar na minha hortinha??

Anônimo disse...

Oi Neide,

Aqui em Minas há um refrigerante chamado Mate Couro feito, segundo a fabricante, com as folhas de chapéu de couro, erva mate e extrato de guaraná. Nunca provei, mas quem tomou gostou! Segue a página do fabricante:www. matecouro.com.br
Parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Oi, sou de Congonhas; legal vc ter vindo aqui. O nome da Congonhas é Luxemburgia polyandra mas nunca provei o chá dela.
Ela e muito comum aqui na minha cidade por isso ela tem o nome de Congonhas, vou procurar uma mudinha dela.
João Luis
joao-luis-lobo@live.com

Neide Rigo disse...

João Luis,
super obrigada pela informação!Vou arrumar o texto. Um abraço, N

Anônimo disse...

Neide, fiz uma pesquisa na internet para saber como preparar a congonha e cheguei no seu blog. Acho que você vai gostar que eu repasse o que já pesquisei sobre o chá. Em BH você acha no Mercado Central, como "Congonha do Bugre", ou só "Bugre". Este chá simplesmente era o que se bebia em Minas diariamente até meados do séc. XIX. Era comum em quase todo o estado, deixando seu nome em muitos locais: Congonhas do campo, Congonhas do Norte, Ilicínea(do gênero Ilex), Congonhal. Alguns se perderam: a serra do Curral, em BH, era serra das Congonhas. Até há pouco tempo era o "café dos pobres". Foi um hábito de índios tupis e brasileiros mestiços, ridicularizado pelos portugueses. Bebia-se em cuias. Na metade do séc. XIX, o hábito diário da congonha perdeu terreno para o café. Tenho algum material histórico sobre isso, inclusive envolvendo curioso episódio da Inconfidência. Se quiser, posso enviar por e-mail. Rogerio Araujo, de BH. mazombo@oi.com.br ou rsaraujo@pbh.gov.br

Neide Rigo disse...

Rogério, que informações preciosas. Obrigada pela contribuição. Um abraço, N

Unknown disse...

Ela é boa pra pedra nos rins???

Anônimo disse...

Onde encontro o cha de congonha do campo em minha região caçador SC?Soraya da silva

Unknown disse...

FAZEM QUASE SETE ANOS QUE VC PUBLICOU ESTE ARTIGO.
LI, HOJE.
EXISTES RESTOS DESDA PLANTA NOS CERRADOS NO MUNICIPIO DE COROMANDEL.
ESTOU PLANTANDO SEMENTES NA TENTATIVA DE PRESERVAR
ESTOU NA FASE INICIAL.
TENHO IDO NO CAMPO E COLETADO FOLHAS DE ALGUMAS ARVORES REMANESCENTES, NORMALMENTE EXISTENTES EM RESERVAS.
SE SOUBER ALGUEM QUE TEM MUDAS NA REGIÃO DE UBERLANDIA, FV ME INFORMAR.
gmachado
pingagmachado@gmail.com

Unknown disse...

Meus amigos, a congonha é uma ervauito apreciada aqui em MG. Ela na roça ou como dizem aí no sul na campanha, substitui o café no café da manhã. E muito boa para os rins, e tb para quem tem o problema de intolerância a lactose. Gosto muito de chá de Congonha e sempre tomo com leite e ótimo. Se quiserem saber mais estou e disposição. Pois adoro a arte da fitoterapia. Obrigado.
cleitonvitalino@yahoo.com.br

Unknown disse...

Meus amigos, a congonha é uma ervauito apreciada aqui em MG. Ela na roça ou como dizem aí no sul na campanha, substitui o café no café da manhã. E muito boa para os rins, e tb para quem tem o problema de intolerância a lactose. Gosto muito de chá de Congonha e sempre tomo com leite e ótimo. Se quiserem saber mais estou e disposição. Pois adoro a arte da fitoterapia. Obrigado.
cleitonvitalino@yahoo.com.br

Anônimo disse...

Estava lendo o livro "Vida Quotidiana da Capitania de São Paulo, 1722 - 1822" de Aluisio de Almeida e lá ele diz que antes de 1800 não era habito desta região tomar café e sim o chá de congonha com açucar. Vim pesquisar como é a congonha e vim parar neste post aqui. Obrigada!

Dodô disse...

Para que serve essa planta e tem efeitos colaterais?

Unknown disse...

Tenho lido sobre a congonha do campo, moro em Cuiabá aqui tbem tem, mas são raras.gostaria de saber como fazer mudas?

Unknown disse...

Mate Couro é numa delícia!!!Sou mineira,da cidade de São João del Rei,onde o Mate Couro é vendido em todos os mercados e bares.Delicioso! Vale a pena experimentar.

Unknown disse...

Minha mãe toma pra circulação. Muito boa pra quem tem problema de veia.

Unknown disse...

Q legal tbm sou de são João dela rei

Luciene Snitram disse...

Esse chá tira dores,antiflamatorio,excelente pra prisão de frente,eu amo esse chá

Unknown disse...

Também sou de São João del Rei e adoro Mate Couro.

Anônimo disse...

Excelente postagem! Parabéns!
Em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, há a Academia Feminina Sul-Mineira de Letras, a Afesmil. A Patrona da Cadeira 8 é a Narradora América Krauss. Ela compilou, preservou, propagou a LENDA DA CONGONHA. E dois de seus netos Geraldo e Omar desenvolveram alentado trabalho sobre o tema e que acompanha a narrativa da avó.
O chá de congonha e muitas quitandas seculares, a partir da obra de América Krauss, foram resgatados e fazem parte do atual Cardápio da Cozinha Literária Sul-Mineira, sediada no Museu Literário da região.
Vale a pena conferir!