sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Era uma vez umas bravas batatas orgânicas e um lindo pé de raiz-forte


Folhas vistosas de raiz-forte (Armoracia rusticana)

Batatas orgânicas da feira do Parque da Água Branca
Sexta feira é dia de tirar tudo da geladeira e matar todas as sobras. Uns inhaminhos salteados no tutano e umas tirinhas de frango com pimentão do jantar de ontem; uma porção de canja do almoço ainda cheirosa e outra de salada de pepino desanimada. Escolhi para mim a canja e só isto já estaria bom, mas, no caminho do escritório até a cozinha, passei pelo quintal ensolarado e umas lindas folhas felizes com o sol pós-chuvas me chamaram, já quase passando da hora delas. Era a folhagem da raiz forte, aquela que ganhei da Verônika (veja AQUI) e plantei no jardim. Da mesma família dos brócolis, da couve, da mostarda, a raiz forte - armorácia, rábano-picante, rábado-bastardo, rábano-de-cavalo, horseradish - é originária da Europa Oriental e Ásia Ocidental, mas vai muito bem por aqui. E, embora às vezes seja tingida para se fazer passar por wasabi, a raiz forte dos japoneses é de espécie diferente. Também diferente da batata-crem, sobre a qual também já falei AQUI.
De qualquer forma, as folhas de raiz-forte me empolgam mais que propriamente suas raizes; já tinha preparado delas refogadas; foi quando a Verônika me deu raizes com folhagem. Lembravam muito as folhas de mostarda, um pouco mais firmes na textura e picantes na boca, talvez. É um sabor que me faz salivar só de pensar nele. É aquela coisa da hidrólise da sinigrina para formar alil-isotiocianato que invade os seios da face, faz a gente corar e às vezes até lacrimenjar. Gosto muito desta sensação. Quando era criança, comia toda e qualquer sobra de mostarda na panela e ainda bebia o caldinho (está certo que também fazia isto com jiló, almeirão, abobrinhas, chuchus.... mas mostarda me desperta uma certa natureza ardente).
Bem, é claro que arranquei as folhas, três apenas, sem muito saber o que fazer com elas. Mas, já na cozinha, olhei para a cesta e lá estavam, querendo se acabar num banho quente, umas barrentas batatas orgânicas que comprei na feirinha da Água Branca. Resolvido estava. Uma salada super manjada que eu adoro é de batata com folhas de mostarda, nozes e molho de azeite com mostarda de cachorro quente. Em meia hora estava montada. Fiz com pouco molho e achei que tudo bem, mas, se quiser, poderá dobrar o volume. E também achei que as folhas, por serem mais durinhas que as de mostarda, mereciam ter sido picadas mais finamente. Fica aqui a opção. Agora, é lógico, como a receita original é com folhas de mostarda, não vai precisar se descabelar pra encontrar folhas de raiz forte - mais fortes e picantes, só isto. Só sei que ainda assim a salada ficou muito boa. Só ela e um pedaço de carne bastam para uma refeição completa. A minha, com canja, estava pra lá de desbalanceada.




Salada de batatas com folhas de raiz forte (ou de mostarda)
Ingredientes
500 g de batatas de preferência orgânicas
50 g (3 folhas) de raiz forte (armorácia) ou de mostarda
2 colheres (sopa) de azeite de oliva extra-virgem
4 colheres (sopa) de mostarda preparada
20 g ou 4 nozes picadas ou a gosto
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Modo de fazer: l
impe bem e tire machucados das batatas, mantendo pelo menos parte das cascas. Corte em pedaços regulares. Coloque 1 litro de água e 2 colheres (chá) de sal numa panela e leve ao fogo. Quando ferver, coloque as batatas e cozinhe por cerca de 15 minutos ou até que estejam cozidas, mas ainda firmes. Escorra e espere esfriar. Se preferir, cozinhe no vapor. Coloque a mostarda numa tigelinha e, com batedor de arame, vá batendo à medida que junta o azeite aos poucos. Até formar um molho emulsionado. Tempere com um pouco de sal e pimenta-do-reino. Coloque numa tigela a batata, as folhas de mostarda, as nozes e o molho de mostarda. Misture com uma espátula delicadamente e sirva.
Rende: 4 porções

Refogadas, estas folhas ficam muito boas

7 comentários:

Fer Guimaraes Rosa disse...

diosmio, que delicia de comidinha! acho que essa devo fazer, com mostarda. hmmmm! :-)

beijoo,

Anônimo disse...

Olá Neide
Cheguei há pouquinho a casa,cirandei,esparvoei e vim dar aqui.
O engraçado é que fico com a sensação estranha de que a sua voz,que desconheço por completo,me bichana o texto ao ouvido!
Foi a primeira vez que tal me aconteceu e é para lá de alucinação auditiva.
Quanto à sua receita de hoje,achei-a um milagre de economia doméstica...Só visto!
Também quero dar parabéns pela beleza da prosa.Ela é tão bela,perfumada e apetitosa quanto os seus aclamados cozinhados.
Sua fã incondicional.
Dri

Neide Rigo disse...

Fer, esta salada tem mesmo a sua cara.

Dri, obrigada. Se na sua alucinação auditiva minha voz aparece melodiosa como as músicas de que gosta, continue alucinando. Melhor pra os seus ouvidos (risos). Beijos, N

Anônimo disse...

Neide, este teu blog é uma perdição e até faz mal porque aguça as vontades das gostosuras. Você nunca pensou em montar um espaço gastronômico? Eu seria uma habitual frequentadora. Se não pensou mesmo, comece a, por favor!

Patrícia disse...

Neide,
Adoooro o seu blog. Parabéns!
Sobre a raiz forte, tenho plantada em minha horta, mas nunca uso. Será que posso refogar as folhas como fazemos com a nossa couve mineira? O que mais podemos fazer com ela? Obrigada pela atenção.
Um abraço.
Patrícia

Neide Rigo disse...

Oi, Patrícia!
Pode refogar as folhas como couve, sim. Ficam deliciosas. E também usar em minestras e fritadas, por exemplo. Um abraço, N

carollaram disse...

Gostaria de saber como posso conseguir uma muda de armoracea rusticana (raiz forte)Voce poderia me ajudar?
Grata