quarta-feira, 9 de março de 2011

Suco de bissap: hibisco, rosélia, fruto de vinagreira, quiabo-de-angola, caruru-da-guiné...


Hibisco ou bissap: frutos frescos e secos daqui e, em pó, do Senegal
Para quem acredita nisto, esta bebida poderá servir para "desintoxicar" seu organismo depois das cervejas do carnaval. De qualquer modo é uma bebida saudável, nutritiva e gostosa que poderá dar o descanso necessário ao seu estômago castigado pelo exagero etílico. Não, não é meu caso e pode não ser o seu. Apenas bebo porque sempre bebi, muito antes de conhecer o suco no Senegal. E é sempre por prazer, porque é gostoso, embora sejam atribuídos aos frutos deste tipo de hibisco poderes medicinais e até afrodisíacos. Exageros à parte, há vários estudos fitoquímicos sobre seus princípios ativos.

Plantação de hibiscos em Pirenópolis
No Senegal, onde a maioria da população é muçulmana, não é costume acompanhar a comida com bebidas alcóolicas. Também vi menos refrigerantes que aqui. Em compensação, tomei muito jus de bissap, além de tamarindo, fruto de baobá, gengibre e ditax (Detarium senegalense). Já falei do hibisco em vários posts aqui no Come-se, como neste, naquele e nestas receitas).
O jus de bissap, que é como é chamado o suco de hibisco por lá, é vendido em garrafas pet, mas também em pó (seco e triturado) para diluir em água quente - pode ser tomado como chá ou na forma de refresco gelado, que parece ser o mais comum. Há ainda o produto granulado com açúcar, como um Q-suco com cor e sabor naturais. Trouxe os dois tipos.
Por aqui, encontramos facilmente as flores secas (também usadas no México para "água-de-jamaica"). Compro sempre no Sacolão do Seu Emílio (Hortifruti Fazenda) ou no Mercado da Lapa, e costumo preparar um dia antes de receber uma visita ou para levar ao piquenique, para que fique bem gelado. Se tenho as flores frescas (no sábado, por exemplo, comprei no feira de orgânicos do Parque da Água Branca), preparo do mesmo jeito. Quando meu pai planta no sítio, costumo colher e secar.
Gosto de acrescentar algumas especiarias. É só ferver as flores secas com água - um punhado por litro - temperada com uma casquinha de laranja, uns 3 cardamomos, um pauzinho de canela e uns 3 cravos da índia. Depois de ferver, basta deixar na chaleira (de preferência não de alumínio, já que o suco é ácido e pode reagir com o metal) tampada até esfriar. Agora é só coar e adoçar a gosto (faço sempre duas jarras porque há quem prefira sem açúcar ou adoçante, que também é bom, mas eu gosto com um pouco de açúcar e bastante gelo, que é pra ficar mesmo como um refrigerante bom).
Ele é naturalmente ácido (tem ácido málico como a maçã), tem uma cor linda dada pelos derivados antociânicos e é saboroso. Muito melhor que refrigerantes. Com ele a gente pode pintar o sete dando-lhe uma cor acerejada. E o sete pode ser gelatinas, bolos, infusões e até tapioca.



Usei o pó que trouxe do Senegal para tingir a água que hidratou o polvilho para a tapioca. Podemos usar diferentes concentrações para variar a tonalidade. Recheei com goiaba cremosa que minha mãe fez em Fartura e me trouxe neste feriado. Enrolei e cortei em pedacinhos, que é pra não comer muito.


Em Dakar já tinha feito umas tentativas, que viraram beijus crocantes (não ficaram muito bons porque sequei em frigideira quando o certo seria em chapas ou no forno, mas ficam lindos)


Em garrafas, para o piquenique

17 comentários:

Claudia disse...

Sou apaixonada pelas tuas postagens...esta fruta que aparece na primeira foto eu já tinha na minha casa e a gente achava que era groselha...rsrsrsrs....bjs e parabéns!

Gina disse...

Aqui encontro a rosélia desidratada, doce, tipo cristalizada, porém macia.
Curioso que esse é o nome da minha irmã e ainda farei um post em homenagem à ela, fazendo essa alusão ao fruto.
Bjs.

Anônimo disse...

Oi,Neide,
Obrigada por partilhar seu diário de viagem conosco.Visitar seu blog é uma aventura diária e um aprendizado constante.
Só para constar a cidade é
Pirenopólis porque dizem que seus montes lembram os Pireneus, acredita?
Abraços,
Thania
P.S: Ouvi,de um egípcio de passagem por Goiânia, sobre um tal café branco. Você conhece?

Chris L. disse...

Eu já fiz geléia de rosela, (Roselle, Hibiscus sabdariffa) e fica linda e gostosa. Mas cuidado:por ser ácida a calda quente ataca superfícies esmaltadas e as deixa opacas.

Edna Martha Queiroz Pereira disse...

Olá Neide.
Desde que conheci o Come-se venho constantemte beber das suas palavras. Se alguma vez elogiei, foi de forma bem contida. Mas divulgo sempre. Meu marido sempre que quer algo bem da terra, fala pra eu procurar aqui. E ele está certo. Fiquei feliz com as oportunidades durante sua viagem, mas confesso que todo dia entrava pra ver se tinha post. Senti falta sim.
Continue nos abastecendo com todas essas informações e mostrando como são valiosos, os frutos da nossa terra.
Parabéns

Neide Rigo disse...

Claudia,
um dos nomes deste tipo de hibisco é mesmo "groselha", talvez por causa da cor e do nome roselle ou rosélia.

Gina, nunca vi cristalizada. Deve ser uma delícia.

Thania, já arrumei o nome da cidade no texto. Obrigada pela lembrança. Quanto ao café branco, não, não conheço, mas gostaria de.

Chris, também já fiz geleia, mas em panela de inox. Obrigada pela dica em relação aos esmaltados.

Marthinha, ganhei o dia. Obrigada!!

Um abraço, N

Kenia Bahr disse...

Oi Neide,
adoro chá e suco de hibsico, curti as dicas de fazer com especiarias, vou experimentar em breve.
Sabe que fiquei sensibilizada com a proposta da não utilização de farinha de trigo e considero um passo largo rumo à melhora alimentar a abordagem do assunto e participação de vcs no FSM. Nesse carnaval aproveitei a chuva que não parou para fazer pesquisas, ler e dentre outros, encontrei na pousada de uma amiga o livro Pão da Paz, escrito pelo Paulo Braga, vc conhece? A questão é que encontrei algumas (16, se não me engano)receitas de pães sem trigo e anotei algumas, pensando em você e em suas postagens de quinta-feira (vc acha estranho eu ter lembrado de vc no carnaval? hahaha). Sei que nesse momento deve ter uma montanha de receitas e assuntos da viagem para postar durante um período longo ainda, o que é excelente. Nada melhor que conhecer hábitos e culturas através de olhares interessantes como o seu.

Bjs e tudo de bom!
Kenia

Neide Rigo disse...

Kenia!
Obrigada pela lembrança. Não acho estranho o pensamento, não. É normal, visto que passei o carnaval inteiro na cozinha, com a casa sempre cheia. Eu preciso comprar este livro. Já me falaram das receitas. De fato, tem muita coisa que gostaria de contar sobre a viagem, mas há tempo para tudo. Obrigada, beijo, N

Angela Escritora disse...

AAA"!! que legal!! vou fazer com abóbora:-))))))

Anônimo disse...

Olá Neide,

É sempre ótimo visitá-la, parece que o mundo se abre, eu que sempre olho essa florzinha e lembro da minha infância minha mãe fazendo conserva, que eu sempre fui apaixonada, agora posso aproveitar melhor o seu uso.

Um muitíssimo obrigada Miti

Unknown disse...

Eu também fiquei maravilhada com o chá de flor de hibiscus quando provei a primeira vez, no Egito. Lá eles chamam de karkadê e tomam como refresco ou como chá quente mesmo. No verão é uma delícia. Depois de algum tempo, descobri que é o que conhecia daqui como pará-umê, cujo fruto é usado para fazer uma conserva azeda e salgada pelos japoneses. Como a Miti, tenho lembranças boas de minha mãe colhendo as frutinhas no mato nos fundos do terreno ou comprando na feira e fazendo a conserva que eu quando pequena, achava muito azeda, mas ficava bom com o niguiri (bolinho de arroz).
Recentemente fiz uma receita da Marisa Ono de gelatina de agar-agar com o chá de hibiscus. Ficou muito bom.
Vou ficar atenta para ver se acho a fresca, pois costumo comprar seca e importada, em empórios árabes da 25.

Anônimo disse...

A rosélia é realmente surpreendente, além do seu sabor fantástico, podemos fazer geléias, recheios de bolos, sucos é uma planta com várias finalidades, acabo de ganhar de presente semente desta planta que há muito tempo tentava encontrar não vejo a hora de poder vê-las dando seus frutos. Adorei sua postagen.
Abraço.
Almir
almirs@itelefonica.com.br
Vinhedo SP

Aletea disse...

Olá Neide,
Acompanho seu Blog algum tempo e no último final de semana, fui até o Pelezão (na Lapa) à procura dos hibiscos com a esperança de identificar o "pé" que produz a "iguaria" que conheço como "umê" e GOSTO MUITO, mas fiquei na dúvida se seriam as plantas que margeiam os caminhos cimentados a poucos metros da entrada, onde estão as primeiras quadras de tênis. Bjs e Parabéns pelo Blog.

Neide Rigo disse...

Oi, Aletea, faz tempo que não vou lá e não sei onde nasceram agora, pois são plantas anuais. Geralmente estavam perto do campo de bocha.
Um abraço, N

OberPsyk disse...

Bom dia Neide, entrei no teu blog por curiosidade sobre o quiabo de angola que e como se diz na minha familia, na minha casa nasce anualmente um monte no quintal, minha mae sempre faz refogados, com arroz e como salada cozida, mas fiquei preocupado sobre a possibilidade de ser toxico, apesar de ter achado delicioso. Contudo notei que existem umas arestas como espinhos e que machucam a garganta. sera que vc tem algumas receitas de como se fazer e como se deve comer para que nao fiquem esses espinhos? Em tempo, Parabens pelo blog, excelente leitura. Abraco, Ober Fernandes.

Unknown disse...

No Maranhão usamos a folha com quiabo e abóboras só, chamamos de Cuchá.

Unknown disse...

Eu tenho essa planta em casa. Mas tenho uma dúvida. O suco se faz antes da Flórida, ou depois que a flor caiu?