quarta-feira, 23 de março de 2011

Tâmaras em Paris

Claro, as tâmaras não são de Paris, mas estão presentes nas feiras e mercados parisienses frequentados por imigrantes árabes. No Dezoito, em Belleville, em qualquer canto que tenha um árabe, tem tâmaras por perto. São frescas, amarelas e crocantes ou secas no próprio cacho, brilhando de doces e douradas como como carameladas.
A planta: Palmeira originária do Golfo Pérsico, a tamareira (Phoenix dactylifera L.) era considerada como a árvore da vida pelos Caudeus, que comiam os frutos e botões, bebiam a seiva, usavam a fibra para tecer e as amêndoas como combustível. Por causa da grande quantidade de açúcares é muito usada no preparo de geleia, licor, aguardente, vinagre, álcool e as passas, mais comuns por aqui. Da palmeira pode ser extraído ainda o palmito, também usado na alimentação humana.
No Brasil há plantações de tâmaras especialmente no Nordeste, mas embora tenham se adaptado bem ao solo e ao clima, não é ainda uma cultura de relevo. Parece que duas variedades, a medjool e a azahidi, chegam a frutificar aos dois anos, sendo que na região de origem isto só acontece aos oito.
Como é bastante rústica no cultivo, a tamareira dese
nvolve-se bem em terrenos arenosos ou salinizados, alta luminosidade, baixa umidade e temperaturas altas, hoje as maiores plantações de tamareiras situam-se em regiões de pouca chuva como no Irã e Iraque, que são considerados os maiores produtores. E também no norte da África e países de climas desérticos.
Nas regiões de origem há muitas variedades, sendo que apenas algumas poucas são exportadas para a Europa. Os gregos chamavam-na de daktulos (dedos) por causa de seu formato, daí o date do inglês ou dactilylifera do nome latim.



Parêntese 1: Em Paris comprei nesta banca tâmaras frescas e passas, levei pra casa (da Leda, minha amiga e mãe dos meus sobrinhos) e fotografei. Comemos com vinho de sobremesa, as crianças se fartaram, gostamos muito mais das passas, mas guardamos as frescas para amadurecer um pouco mais, já que tinha lá no fundo ainda um certo travo. No outro dia, a Leda foi trabalhar e eu tive vontade de comer as tâmaras frescas. Procurei por todo canto, até no quarto das crianças e nada. Pensei: tudo bem, comeram tudo. Não perguntei no dia porque esqueci.
No outro dia falamos de tâmaras e me lembrei de perguntar se haviam deixado algumas para mim. A Leda riu e mostrou o altar. Estava lá o cacho inteiro para Buda. Tenho certeza que ele escondia o cacho toda vez que olhava pra ele, porque como posso não ter visto? Eu podia agora comer, mas preferi deixar os frutos ali pra ver se viram passas - aliás, está na hora de perguntar se ainda resistem.
Parêntese 2: Esta tamareira fica na praça perto de minha casa. Não sei quem plantou, mas acompanho ano a ano para ver se frutifica. Até agora, nada.
Parêntese 3: sempre que falo de tâmaras lembro da minha amiga Silvinha. Como não tenho nenhuma lembrança infantil destas frutas que só conheci na maturidade, uso memórias alheias talvez com uma ou outra fantasia. Nesta casa em Castro Alves - BA, que conheci em 2005, morou vovó Diva, como Silvinha se refere a ela - cheia de zelos e baús de enxoval bordado em Paris. O melhor da casa não eram as salas de tábua corrida nem a ducha forte do banheiro grande como sala. Era sim o pequeno pomar no fundo da casa com tudo o que era fruta: sapoti, graviola, carambola, laranja lima e lima da pérsia, pinha, laranja de chupar e de fazer doce, tangerinas, mangas, entre outras. Vovó Diva, mulher das geleias e das compotas, gostava de fazer compota de figo e comer manga carlota, redondinha, muito doce e fiapenta. Silvinha, menina, gostava de manga espada, doce no ponto certo e com um certo azedinho. E sapoti, muito sapoti. Agora, o que fazia mesmo sucesso entre a família toda eram as tamareiras com seus cachos de dedos amarelos, que ninguém tinha paciência de esperar madurar por completo. Adultos e crianças devoravam os frutos doces, crocantes e úmidos. E tudo começou porque um agrônomo, um certo Dr. Heguet, começou ali na cidade um cultivo grande de tâmaras num terreno público. Anos 50 talvez. Foi um sucesso, as tamareiras se sairam bem, mas todas foram derrubadas para dar lugar a um campo de pouso que parece que nunca foi muito usado. Sorte que algumas mudas já haviam se espalhado pelos quintais. Hoje também quase todas, inclusive as da vovó Diva, foram derrubadas - o terreno do pomar foi vendido e o novo proprietário passou o facão. Azar dele.

31 comentários:

Andréa Potsch disse...

Adorei o post! Outro dia mesmo estava pensando como seria o sabor da fruta fresca...
bjs

nana tucci disse...

que texto gostoso! não consigo imaginar um pomar com pé de sapoti! minhanossasinhora!

Izabel disse...

No antigo colégio das Doroteias, que agora é o Conservatório Estadual de Música, aqui na minha cidade, havia um pé de sapoti. Nunca esqueci o sabor da fruta. Outro dia encontrei tal fruta à venda em um supermercado e comprei, salivando na esperança do sabor guardado, dei a primeira mordida... que decepção! não era o mesmo sabor da minha infância. Será a fruta que se corrompeu ao sabor dos fertilizantes ou meu paladar que perdeu a inocência? Obrigada pela dose diária de posts magníficos.

Anônimo disse...

voce este ano , ta se superando nas lindas palavras para discrever as maravilhas desta nossa natureza , linda e saborosa que Deus nos deu. Beijos Denise

Claudia disse...

Adoro ver tuas postagens, uma melhor que a outra...realmente ver as frutas ao natural é fantástico...parabéns por todas as últimas postagens, uma melhor que a outra...bjs

Dricka disse...

Ai Neide só você para matar minhas curiosidades.
Sou louca por tamara e sempre me perguntei se era uma fruta cultivavel por aqui. Por isso esse blog é sucesso absoluto.
Bjs

Anônimo disse...

Quando não estamos familiarizados não prestamos tanta atenção: foi assim que aconteceu desde a nossa peregrinação à Terra Santa. Comemos e vimos tantas tamareiras que no retorno minha mãe resolveu semear algumas sementes que catamos no Mar da Galileia e para nossa alegria brotaram todas!!! e começamos a prestar atenção se havia tamareiras no Brasil e elas estão por todo lado em São Paulo (nas ruas), no interior do Paraná e assim por diante...adorei seu texto! bjs

Kenia Bahr disse...

Neide, texto muito legal!
Com sua licença e respondendo à Izabel: acho que o sabor da fruta foi corrempido, assim como o de tantas outras que na nossa infância tinha um gosto indescritível. Muito agrotóxico e hormônio. E também nosso paladar corrompido por tantos "saborizantes" sendo colocados em tudo, né...

Beijos

Anônimo disse...

Ha, Neide estive no Mercadão e tinha umas tamaras de Esrael, estavam lindas, mais o preço estava horroroso fiquei só na vontade(Diulza)

silvia lopes disse...

Amiga,realmente o quintal de vovó era uma atração a mais nas nossas férias!Ela chamava sapoti de "doce pronto".
Gostava de contar uma historinha curiosa: umas freiras européias receberam de presente no momento do embarque no navio uma cesta de sapotis.Quando foram experimentar a tal fruta... aquele aspecto escuro como uma pera ou maçã estragada ...ah! que pena, estragaram!.E assim jogaram todas no mar.Anos depois quando conheceram o sabor da fruta ficaram a se lamentar: e pensar que jogamos fora essa maravilha!

David Ramos disse...

Oi Fêssora!
Menina! tenho um sonha a mais de 20 anos de provar uma Tamara fresca, queria muito saber qual o sabor dela!

Beijos Neide!

marta disse...

Oi Neide,
como sempre amei a tua materia.,a maneira como vc.escreve,dah ateh para sentir o gosto das tamaras,como estou com um pacote na geladeira,jah comecei a comer!!!Adoro tamaras,mas nunca tentei a fresca.,agora lendo tua materia,assim que achar uma vou tentar!!!!

Nina disse...

Hum... será que eu ia gostar das tâmaras frescas? Das secas, embora lindas, não consigo gostar!

Já os seus textos, devoro sempre!

Jussara disse...

Oi, Neide,
Cheguei aqui pelo post do protesto dos estudantes de Nutrição, que está "linkado" no blog da Sonia Hirsch. Desde então, venho lendo vários dos seus posts. Infelizmente, sei que não vou conseguir ler todos, mas já andei lendo um bocado. Vc escreve de forma leve e cativante, de maneira despretensiosa, mas com estilo.
E o bom é que aqui tem comida natural, mas tem comida "normal" tb. hehe
Adoro suas quintas sem trigo. Estou tentando diminuí-lo na minha dieta, embora nem coma tanto assim.
Sobre esse post das tâmaras, nunca vi tâmara fresca, fiquei com vontade de experimentar.
Acho que te vi na chamada do Globo Repórter que vai passar amanhã. Não gosto mto do programa, mas como vai falar sobre orgânicos ( e quase certeza que vc vai aparecer), vou tentar assistir. ;)

Abraços.

Neide Rigo disse...

Andrea e David,
achei a textura da tâmara parecida com a do caqui duro. Aliás, pensando bem, lembra o caqui no sabor - meio sem acidez, muito doce, com um ligeiro tanino.

Nana, bom te ver por aqui. Um pé de sapoti deve ser um sonho, não?

Izabel, sapoti bom é o maduro no pé! Também já me decepcionei com os que comprei por aqui - colhem muito verde para suportar o transporte.

Denise e Claudia, obrigada!

Drika, pois é, a gente viu que é possível.

Cristina, pois é, há vários pés disfarçados por aí. Quero ver são aqueles cachos enormes de tâmaras! Torço para encontrar ao menos um.

Kenia, acho que é principalmente porque colhem antes da hora. E por tudo isto também, claro.

Diulza, realmente os preços do Mercadão são abusivos. O mesmo produto pode ser encontrado mais barato nas mercearias ali da zona ceralista do lado.

Silvinha, que deliciosa crônica!

Nina, as frescas são muito diferentes das secas, então talvez goste. Obrigada!

Jussara, que bom saber que está gostando do Come-se. Hoje devo fazer uma pontinha no Globo Reporter. Depois você me conta porque sempre tenho medo de me ver na tela :)

Um abraço, N

Paulo Otton disse...

Oi Neide,
tava pesquisando sobre tâmaras no google, e pra variar acabei no seu blog. Adoro estas frutas e sempre acabo comprando algumas quando encontro. Já consegui germinar algumas sementes com uma certa facilidade. Então, esta semana dei uma passada naquele armazém judaico q tem na esquina da rua sergipe com a itambé, e encontrei lá umas tâmaras gigantes q nunca tinha visto. Apesar do preço, 6 reais por uma bandejinha com 5 frutos (!!), não resisti à tentação e comprei, principalmente pq sabia q as sementes de tâmara germinam facilmente. Mal sabia eu q estava prestes a me apaixonar por elas...hehe...apesar da aparência de bicho embalsamado, o sabor das frutinhas era diferente de todas q já havia experimentado. A polpa, se posso chamar assim a parte comestível, tinha consistência cremosa, algo assim como um mussi, ou de leite condensado cozido na panela de pressão por bastante tempo...confesso q foi difícil dar um pedaço da fruta pra diarista q trabalha aqui em casa, e que estava observando a minha experiência degustativa...até a casca era delgada, quase derretia na boca...bom, plantei as sementes, e descobri q as tamareiras só começam a produzir seus frutos depois dos dez anos...se tudo der certo, minha aposentadoria vai ser deliciosa....kkk
Abraço!
Paulo Otton

Neide Rigo disse...

Paulo,
você me deixou com água na boca descrevendo esta tâmara. Quem sabe eu não apareça por lá procurando a tal tâmara-doce-de-leite. Um abraço, N

Anônimo disse...

Olá, Neide! Sempre achei as tâmaras sem-graça. Num mercadinho apertado de produtos sírios perto do Mercadão vi um pote de vidro com as maiores tâmaras secas e "gordas" que jamais havia visto. Lia-se Tâmaras palestinas (kg 50,00 ou cada 2,00). Pedi 3 grandes e creio terem sido da mesma variedade que o Paulo Otton encontrou (senti tudo o que ele descreveu, em comparação com o pegajoso e ressecado que encontramos nos supermercados). Pesquisando, acredito serem as tâmaras MEDJOOL, as mesmas da foto de Paris que você postou. Hoje no Mercadão comprei umas produzidas na Califórnia (gigantes) e outra vinda dos países árabes batizadas como Tâmaras de Salomão (um pouco menores, mas infinitamente mais doces): ambas são iguarias magníficas, assim como o seu texto!!

Anônimo disse...

Neide, postei sem assinar: sou
Regina Endo, que agora adora tâmaras.

Anônimo disse...

Estava eu pesquisando sobre tamaras, querendo saber se podia prová-las direto do pé e me deparei com todos estes comentários e cheguei a conclusão de que sou abençoada. Explico, minha curiosidade se dá pelo fato de há quinze anos morar ao lado de uma avenida repleta de palmeiras, que por uma estação do ano se enche de cachos de um fruto amarelo, e eu não sabia que fruto era este. Ainda hoje disse ao meu filho vou pesquisar que fruto é este, agora que sei, vou experimentar.

Patricia disse...

plantei daquelas tamaras que se compra de bandejinha na época do natal,e nasceram todas,tenho no terreno e num vaso,só que aqui,zona sul,perto da represa Guarapiranga,faz muito frio,será que verei fruto algum dia?Tomara que sim,este texto me animou...

Luciano Vivo disse...

Neide Parabéns pelo post!

Sou Tamaromaniaco ou melhor Medjoocinado gostaria de saber onde encontro medjool para comprar na região de Fortaleza?

Sei que existe em Curitiba e São Paulo mas por aqui só vi a caixa vazia das que sobraram de quando eu trouce de lá.

Beijão querida!

Keep in touch

Neide Rigo disse...

Luciano,
eu adoraria poder lhe ajudar, mas não conheço nada de Fortaleza (falha de currículo).
Um abraço, n

Anônimo disse...

Neide adorei seu post !!
Moro em Israel , e estou vendendo sementes organicas de tamareira Medjool de Israel no ebay.
Ja fiz alguns envios pro Brasil , e chegou sem problema .
Quem estiver interessado e 'so' procurar no google :
Israeli tree medjool ebay

Abs a todos


Anônimo disse...

Olá Neide,
Quanto ao parentese 2, no qual voce observa uma tamareira se dará frutos. Pelo que sei (e sei pouco)a tamareira é uma planta dioica, ou seja precisa de uma planta macho e outra fêmea para polinização e dai vir os frutos. Se a planta em questão for uma fêmea e em algum lugar próximo (segundo a literatura,menciona, polinização de uma tamareira até 11km)tiver uma planta macho, ai sim voce terá frutos, caso contrário,não. São mais ou menos 1200 variedades de tamareiras. A mais comercializada no mundo é a Deglet Noor e a mais apreciada, pelo sabor e tamanho, é a Medjool.Abs Acir.

Anônimo disse...

Tenho plantado sementes das tâmaras que consumo e tenho conseguido fazer várias mudas. O problema é que só saberei o sexo das mesmas quando vier a florada.
Abs.
Acir.

Anônimo disse...

Estava pesquisando tâmaras e encontrei seu post, também planto sementes das frutas que como, e as tâmaras germinaram. Aqui no interior de SP faz muito calor. Vou replantá-las e esperar pela floração.
Majô

Anônimo disse...

Sábado! Aproveitei para conhecer o mercado municipal de SP. provei frutos de todo canto do mundo. O vendedor me ofereceu uma junção de tâmara Árabe com morango, dizendo me que tinha sabor de primeiro beijo. O gosto era suave e incrivelmente delicioso. Claro comprei uma bandeja de cada. Viva a diversidade e os sabores da vida

BIOFONTES disse...

moro no RJ sou biologo e estou em busca de sementes de tamareira arabe, sabes como posso obte-las?

Anônimo disse...

Então cantzda!! Estive no Egito "comi muita tâmara no café da manhã muito gostosa aí fui pra lsrael fiquei encotadA com as roças de Tâmara peguei 12 sementes em gerico já plantei se nascer vou PIB de lantar no meu racho?,

En

Anônimo disse...

Gostaria de passar minhas experiências com tamareiras, bem como adquirir novas variedades através de troca ou de compra. Diga-se passageiramente que tenho tamareira com 4,5 anos já com dois "off shoots". Desejo quebrar o dito popular que diz que "Quem planta tamareira não colhe tâmaras". Isto é coisa das "Mil e Uma Noites". Coloco-me à disposição de quem ama esta palmeira tão singular, e gostaria que dessem uma olhadinha na OLX sobre "Rebento e pólen de tamareira". Clécio Carvalho, Amado Bahia, Mata de São João, Bahia.