sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Quem diria, temos vinho na região de Fartura


Ao fundo, a ponte que separa Fartura de Carlópolis, Paraná. Esta é a nossa praia (Represa de Xavantes)

No fim do ano passado fiz uma reunião do Slow Food em Fartura-SP, cidade onde moram meus pais e onde também temos uma casa e uns pezinhos de café. Levei algumas sementes e recebi em troca outras e ainda um vinho feito por um professor de Taguaí, trazido pelo Olivier, um amigo jornalista de lá, que hoje mora na vizinha Piraju. Taguaí fica a uns 13 km de Fartura e este pedaço de São Paulo, que beira o Paraná (da minha casa até a divisa são 8 quilômetros) tem a peculiaridade de ser ainda um dos poucos redutos de pequenas propriedades rurais (não sei não, agora, no carnaval, já vi lavouras de milho de grife, com plaquinha e tudo, chegando bem perto). Só em casa fui degustar o vinho de rótulo muito simples, já esperando o pior. Não sou nenhuma grande entendida de vinhos, mas comigo os fracos não têm vez (talvez depois da terceira taça). Foi uma surpresa porque o vinho suave lembrava um bom fortificado para tomar depois das refeições.
O vinho, na cesta, junto com produtos da região e do Terra Madre
Reproduzo aqui o texto que o Olivier escreveu ontem sobre ele, no Rol - Região On Line.

VINHO ARTESANAL: OPÇÃO DE UM PEQUENO PRODUTOR

Olivier Vianna

Escrito por Olivier Vianna, de Piraju/SP especial para o ROL
quinta, 07 fevereiro 2008


O conhecimento acumulado como professor de química, já prestes a se aposentar, e a experiência trazida da Itália há mais de um século pela família da esposa garantem bom resultado para um pequeno proprietário rural de Taguaí, Sudoeste paulista. Suas uvas, cultivadas inicialmente apenas para consumo próprio, hoje têm colocação garantida, tanto “in natura” como transformadas em vinho, cuja qualidade vem melhorando a cada ano. A idéia era bem mais arrojada: formar uma cooperativa de produtores de vinho. Ainda não deu certo.



A chácara Sul Paulista, de apenas 4,50 hectares, possui seis mil videiras de 10 variedades diferentes. São plantas bem aclimatadas, uma delas ali plantada há mais de 80 anos. Das três variedades próprias para vinho, uma foi trazida da Argentina por um padre amigo da família, especialmente para obter um sabor da bebida por ele apreciado. Existem ainda várias árvores frutíferas, que fornecem matéria prima para a produção de doces caseiros, atividade que também ajuda a complementar o salário de professor da rede pública.
Experiência é o que conta

Amparado na experiência e na vitalidade do sogro, Sírio Batista Alves, produz vinhos tintos, brancos e rosados, secos e suaves. “Professor Sírio” pretende também fabricar espumantes, apesar da menor demanda. Nesta safra, deve obter quase seis mil litros, principalmente de vinhos tintos.

Os doces caseiros, as uvas e os vinhos são vendidos em feira-livre, na propriedade e na residência da família, em Piraju (SP). A maioria dos seus fregueses são pessoas que já conhecem os produtos e que também se encarregam de divulgá-los.

O sogro de Sírio, Victorio Meneghel, neto de italianos, é nascido e criado naquele mesmo imóvel. Conserva sotaque carregado e, apesar dos seus 83 anos, conserva também muita disposição. É quem executa boa parte das tarefas e quem orienta o serviço de trabalhadores temporários utilizados apenas para ajudar na manutenção da chácara, principalmente, no período da colheita.


Vinho artesanal

A produção do vinho é artesanal. Mesmo com instalações ainda provisórias, o zelo com a higiene é uma das preocupações. Outro cuidado é com o uso de agrotóxicos. Sírio prefere adubos e inseticidas orgânicos, limitando ao máximo o emprego de produtos químicos. “Nesta safra, fomos favorecidos pelo clima, conseguimos boa produção e frutos de excelente qualidade com apenas uma pulverização à base de cobre”, assegura.

Depois de amassar a uva manualmente, o suco (mosto) “descansa” por quatro dias. Em seguida, é transferido de tonel e fica por mais uns dois meses em processo de fermentação e decantação. Só é engarrafado por ocasião da venda. Não tem embalagem nem rótulos próprios.

A diferença entre um vinho seco e o suave, esclarece Sírio, fica por conta da quantidade de açúcar que conserva após o processo de fermentação. Mais açúcar resulta em vinho suave e menos açúcar, em seco.

Tradição

A família Meneghel veio para o Brasil há mais de um século, conta Victório. “Com menos de sete anos eu já ajudava meu avô a fazer vinho. Naquele tempo, ele mandava as crianças se lavarem bem e a gente amassava a uva com os pés”.

Pequenos detalhes influem na qualidade do vinho, ensina Victório. “E não é só cuidado no trato da parreira”. A umidade do ar e até o horário da colheita influem. A vindima tem de ser manual e feita com tesoura para não ofender os frutos. O transporte deve ser feito de forma menos traumática possível, em caixas pequenas. Os frutos feridos devem ser eliminados e os demais, processados imediatamente. Deixar para o outro dia compromete a qualidade da bebida.

“Meu avô era muito cuidadoso com o vinho”, desde a maneira de produzir até a forma de servir, conta Victorio. E descreve um ritual quase místico, que bem retrata o zelo de seus ancestrais com a bebida: “ele dizia que cair raio por perto ou apenas bater nos tonéis estragava a bebida. Comparava com o susto que a gente leva e que agita nosso sangue. Por isso, não deixava ninguém chegar perto dos tonéis”.

Viveiro de mudas

Para o próximo ano, quando já estiver aposentado, Sírio pretende produzir mudas a partir das variedades aclimatadas que tem na chácara. “São ótimas e produtivas. Tem pé que chega a produzir 100 kg por ano”.

Ele ainda alimenta o sonho de formar uma cooperativa ou associação de pequenos produtores de uva e tornar a região um centro vinícola.

Para se informar a respeito, informe-se pelo telefone 14 – 3351.3560.

6 comentários:

Laurinha disse...

Como bom saber que o artesanal continua, e bem!
Beijinhos,

Ana Canuto disse...

Neide:
Sempre vou ao interior de São Paulo e também tenho reparado nos milhos de grife como vc disse. Fico sempre fascinada por aquelas lavouras. Além do milho tenho notado que também existe sorgo e não sei se vc já provou, mas também podemos estourar o sorgo como "pipoca". O gosto é quaseo o mesmo, mas ficam mais pequeninas, bonitinhas e delicadas.
Bem, como acabo utilizando algumas estradas pelas quais vc também passa (a João Mellão por exemplo), espero que desta vez, você tenha comprado milho verde que estava à venda bem em frente ao Posto Zanforlin em Taquarituba (tenho certeza que vc sabe onde). Custava apenas R$ 2,00 a dúzia e duas delas se juntaram às mudas de manga bourbon, pitanga e carambola que eu já estava trazendo.

Um grande abraço.

Neide Rigo disse...

Ana,
Quanto aos milhos de Taquarituba, nao vi, nao. Perdi. Comi muita manga bourbon no sítio neste carnaval. bjs, n

Guto Costa disse...

Olá Neide, muito interessante o seu blog, principalmente porque você está citando a minha cidade (Fartura). Meu nome é José Augusto e trabalhei um tempo no Jornal Sudoeste do Estado...abraços

WALTER disse...

SOBRE O VINHO ARTEZANAL FEITO PELA FAMILIA MENEGHEL , CONHEÇO BEM O SR ARNALDO , JÁ CONSUMI MUITO COM MODERAÇÃO, VAMOS PRESTIGIAR O QUE É NATURAL , FABRICADO POR FAMILIA DE TAGUAI , ONDE RESIDI POR MUITOS ANOS , E FIZ GRANDES COLABORADORES , TRABALHEI NO RAMO ALIMENTÍCIOS , TRANSPORTE DE SUÍNOS .......WALTER VIEIRA .........

WALTER disse...

VOU ANOTAR MEU EMAIL OK ABRAÇO E SUCESSO SEMPRE ..........