Tenho uma mania feia de compor e divulgar receitas que nunca fiz. Só entre amigos, é claro. Invento, falo com empolgação e o ouvinte pergunta: ah, é? e fica bom? - Não sei, nunca fiz, mas deve ficar.
Na praia fiz um arroz e, assim que desliguei o fogo, joguei por cima uma abobrinha italiana ralada. Isto não é nenhuma invenção, já vi em vários lugares, já comi no Tordesilhas e eu sempre gostei de incrementar o arroz branco com legumes quando o menu está fraquinho em hortaliças. Aprendi com minha mãe que, quando estava com pressa e com costura para entregar, cozinhava com arroz folhas verdes de repolho, quartos de tomate, pedaços de palmito fresco ou rodelas de batata-doce (meu preferido). Não juntos. Cada dia uma coisa. Era uma forma eficiente de alimentar 5 crianças comilonas de forma rápida, econômica e saudável. Ideal também para os dias de hoje em que vivemos num mundo obrigado a pensar na sustentabilidade e onde o tempo é um luxo para poucos (não são necessários mais sal, nem água, nem óleo ou mais tempo no fogo para cozinhar estes legumes com o arroz).
Mas, deixando de falar abobrinhas para voltar a elas: o Guilherme, namorado na Ananda, que mora em república e está adorando cozinhar, ao comer o arroz feito desta forma quis saber mais sobre a abobrinha comida assim, quase crua, crocante, cheia de sabor. Então, comecei a viajar: “dá pra fazer assim e assado, crua na salada e na massa”. E dei uma receita, tintim por tintim. Aquilo me pareceu tão óbvio e certo como aqueles pudins de maria-mole com pó de caixinha, leite moça, creme leite e leite de coco sococo. E veio a pergunta: fica bom? - Não sei, nunca fiz, nunca comi, mas deve ficar, ué! Que segredo tem? Mas só porque ele desconfia de tudo e me olhou com cara assustada, resolvi fazer uma coisa que nunca faço: assim que cheguei da viagem, testei a receita no jantar. E, por sorte, tinha tudo aqui – uma abobrinha voltou da praia; gorgonzola, tinha congelado; massa curta, nunca falta e manjericão, tenho no quintal. Em 15 minutos o prato estava na mesa. E ufa, a receita funcionou.
A receita
Leve 300 g de massa curta para cozinhar em água fervente e salgada (se for uma massa de trigo duro, pouca água basta, não precisa aquele caldeirão que leva um século para ferver). Enquanto isso, rale grosso uma abobrinha italiana bem verde, fresca e firme e coloque no escorredor de macarrão. À parte, rale grosso 50 gramas de gorgonzola (ou mais, se quiser um sabor mais forte ou se fizer pouco caso da balança) e separe e lave folhinhas de manjericão a gosto. Quando o macarrão estiver cozido, despeje-o sobre a abobrinha, deixe escorrer bem, junte o queijo e as folhinhas de manjericão. Misture com cuidado e está pronto o macarrão para 4 - ou 2 marmanjos moradores de república. Para ficar melhor: um fio de azeite, vinho bom e boa companhia, nem que seja a sua.
Variações que dão certo: mais abobrinha; abobrinha+cenoura ralada; abóbora madura ralada; nozes picadas e o queijo que quiser. Se fica bom? Fica, claro! (não, não, nunca fiz e daí?).
14 comentários:
Neide, finalmente descobri a "ração humana" que resolveu meu problema: tabule. Dois pratos no almoço e dois no jantar. Frederica não me faz mais inveja...
Nunca fiz o seu mas que fica bom, ah fica!!! Adoro abobrinha!
Beijinhos,
Claaaaaro que fica bom! Vou fazer! bj Sill
ah geralmente nossa memória gustativa faz boas compinações no chutometro e esa é mais uma prova disso!! adorei! bjos
k belo macarrão adorei......bjokitas grandes
Abobrinha é o máximo, vai bem com tudo, até em massa de bolo!
Sabe que eu tenho essa mania, o meu irmão está em Londres e por vezes mete conversa comigo para dizer que tem isto ou aquilo para cozinhar, e eu ponho-me a inventar na hora, depois fico anciosamente a aguardar pela opinião.
Beijocas
Eu cada dia estou mais fã de aboborinha. Antigamente achava um sabor meio sem graça, até ter experimentado uma sopa de aboborinha com manjericão e um risotto de abóborinha com tomate seco.
Adorei esta sua receita, sobretudo pelo modo de "cozinhar" a aboborinha (deitar a água de cozinhar a massa por cima).
bjs
Neide querida já dei boas risadas com seu post! A massa está uma maravilha!
Neide que delícia....fazemos uma versão parecida aqui em casa e adoramos. Agora estou viciada em massa fresca....aprendi o caminho e não quero parar de seguir em frente.
Bjcas.
Isto significa ter muito "know-how"!
Estes dias peguei minha mãe lendo um blog e anotando a receita
"Mãe, vai fazer a receita?"
"Não, estou adaptando para sua prima da Alemanha"
" E como você sabe que vai dar certo?"
"Vai dar certo!"
Obs: Ela praticamente inventou outra receita...
Ou isto é coisa de mãe, ou coisa de quem sabe muito.
: )
Hum, ontem mesmo estava fazendo um macarrão ao pesto e, inspirada por sua idéia, coloquei uma abobrinha ralada por cima. Uma delícia! Beijo, Lud
Neide:
Bem, eu já desconfiava que pudéssemos ser meio "parentes" mesmo, pois além de gostos parecidos, minha bisavó tinha o sobrenome Righi (se for do marido...cancele o parentesco).
Quanto a mãe ter de entregar costuras, a minha sempre e até hoje ainda as tem e muita pela sua idade de 70 anos (parece uma mocinha).
Pois em casa o que gostávamos era das batatas no arroz, imagine amido + amido e aquela "papa" com caldinho de feijão bem temperadinho.
Acho que mais do que o sabor é a saudade que nos leva, como já musicou o Lupicínio: "O pensmento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar..."
Um beijo.
Já vi e fiz uma receita muito parecida com essa. As únicas variações é que ao invés de ralar a abobrinha, eu dou uma leve refogada nela com azeite. E ao invés do manjericão eu uso hortelã. Pode provar, fica uma delícia! :-) Meu único problema é pra ralar o queijo quando ele está muito macio.
A minha era no pão italiano. Também nunca fiz! :D
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