A Rose, vizinha e também nutricionista, me ligou logo depois de termos nos encontrado no portão, no fim da tarde, durante meu passeio com a Dendê - que gosta muito do gramado da calçada dela. É que a filhinha Amanda ficou brava por não ter falado comigo e, como um dia eu havia dito que ela poderia ficar aqui enquanto eu trabalhava, estava cobrando agora o convite. Está certo que eu estava atolada de trabalho e não poderia me distrair de jeito nenhum, mas a presença de uma criança é sempre um refresco para um dia estressante. Expliquei que não poderia conversar, que tinha que me concentrar e que ela teria que ficar quietinha. Duvidei que conseguiria. Mesmo assim ela topou - veio de banho tomado, cheirosa e já com pijaminha, ficar só um pouco antes do seu jantar. Nas mãos, um caderno de desenho e um estojo de princesa estofado de lapis de cor. Depois de um tempo desenhando em silêncio numa mesa do escritório, ela finalmente falou: "eu tô quietinha, não tô?". Por sorte precisei esperar um telefonema para terminar um trabalho e resolvi adiantar as coisas na cozinha, de modo que a meninha agora poderia sair do "vaca-amarela" e se divertir um pouco. Afinal, qual criança não gosta de botar um avental e uma touca e ajudar na cozinha? Botei na vitrola um vinil de músicas infantis do Toquinho e Vinicius, arrumei pra ela um canto na mesa e vamos ao trabalho. Comecei dando as formas de pão para untar e o trabalho foi feito rapidamente. Em seguida, uma tábua, uma faca cega e uns vegetais já cozidos e macios para cortar. No começo estranhou as mãozinhas melecadas, mas após o terceiro ou quarto pedaço pegou jeito e, como qualquer cozinheira com prática, empurrava os pedaços de inhame e mandioquinha de uma só vez para a palma daquela mínima mão e colocava todo o conjunto na tigela. Depois que elogiei ela aperfeiçoou ainda mais o gesto. E pensei, poxa, o gesto! Coisa bonita no cozinheiro é o gesto, alguns aprendidos, outros descobertos com a repetição para facilitar o trabalho. O natural para uma criança desta idade, penso, seria pegar pedaço por pedaço e colocar na tigela. Já vi gente que não leva jeito pra cozinha (e às vezes pensa que leva) agir assim. Coisas do tipo picar um pimentão milimetrica, demorada e maniaticamente, para que todos os pedacinhos saiam do mesmo tamanho, antes de bater tudo no liquidificador. Puro desperdício de energia, coisa que provavelmente esta menininha já aprendeu a evitar. E cortou tudo rapidinho. Um pedaço de queijo e um ralador aguardava na fila da exploradora do trabalho infantil, mas a mãe a veio resgatar antes.
8 comentários:
Neide, tambem sou das que adora criança na cozinha, se tem alguma delas aqui em casa e vou cozinhar, a cozinha é sempre liberada.
E você sabe que eu tambem já percebi esse negocio do gesto? Meu sobrinho de 7 anos, tambem tem gestos precisos demais quando está ajudando na cozinha, eu me encanto.
Bjs
Linda, essa menina!
E acho que ela vai voltar.
Manuela Soares
Neide,que fofura!!!
que touca linda, que menina linda, que pijama lindo
espero que ela seja agora parte integrante da equipe do come-se e tenha várias participacoes neste blog
bom fim de semana
Coisa liiiiiiiinnnnnndaaaaaa!!!!!!!!! pura poesia. Meu sonho era ter uma menina e tive um menino Deus sabe , o que faz a coitadinha iria viver emperequetad e de avental.Beijos Denise.
Neide, já ouviu isso?
http://www.ted.com/index.php/talks/birke_baehr_what_s_wrong_with_our_food_system.html
Birke Baehr: What's wrong with our food system
Um abraço e parabéns pelo excelente Blog
Georges
Neide, Criança na cozinha é pura poesia, e com uma touca linda como essa fica melhor ainda. Meu Lucas adora me ajudar na cozinha, e eu sempre permito, porque quero que ele saiba se virar, quando quiser e ou precisar. No blog dele tem fotos nossas na cozinha, depois nos faça uma visitinha: lucas-vieira-fernandes.nafoto.net.
Abraço.
Querida Tia Neide, postamos uma mensagem que acabou não aparecendo. Hoje, a Amanda pediu para ver as fotos dela novamente, no site. Aproveitei para ler todo o texto que havias escrito e expliquei o conteúdo. Ela ficou sorridente e acompanhou tudinho.
Nós duas, acabamos de sair da cozinha e fizemos biscoito de Natal. Contamos, até, com a ajuda da Vovó Mercedes. No RS, nesta época, costumávamos fazer bolacha pintada para o Nataltoda pintada e com confeitos coloridos. Nestes últimos anos, percebi que estas delicias estão sendo feitas o ano todo.
Agradecemos toda a tua gentileza para com a Amandinha. Beijos de todos nós.
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