quinta-feira, 15 de maio de 2008

Porto Alegre, parte 9 – Arroz de carreteiro



Meu fogãozinho de lenha do quintal foi usado aqui só pra fazer tipo: eu cozinhei de verdade no fogão comum.

Pura coincidência: hoje tem arroz de carreteiro no caderno Paladar, do jornal O Estado de São Paulo, com ótimo texto e receita do Dias Lopes. Tudo explicadinho. Nem preciso falar muito aqui. Está tudo lá. Corra à banca.

Mas, sem querer ser oportunista e você pode não acreditar, a receita estava pronta pra hoje. Quem viu o post de ontem, sabe que falei dele. E uma parte da carne seca que usei para o cozido da fronteira foi reservada para a delícia. E falar em Cozidos, eles também estão lá hoje no Paladar, excelente pedida para estes dias geladinhos. Mariângela e Rui (personagens desta minha saga a Porto Alegre), nos levaram para comer churrasco gaúcho com direito a danças típicas e muita carne, é claro. O arroz de carreteiro estava lá, mas, embora tenha degustado um pouco, era muita informação para uma refeição só e achei que merecia testar direito a receita e comer como prato único. Depois de muito pesquisar, aí está minha versão, bem parecida com a do Dias Lopes, porém, em proporções menores, para o tamanho da minha família. Mas também não tem segredo. É charque, cebola e arroz. O floreio brasileirinho fica por conta do verde dos cheiros e do amarelo e branco do ovo cozido que pode ir por cima. A pimenta vermelha foi por minha conta. E ainda peço perdão aos puristas, mas usei Jerked Beef, que não aconselho, embora não tenha feito feio. Se puder, procure um bom charque no Mercado da Lapa ou em qualquer outro mercado popular.

Como Dias Lopes bem explica, é comida de viagem, dos antigos carreteiros ou motoristas de carretas, os carros de boi com rodas de madeira que já circularam um dia pelos pampas gaúchos. Eles andavam cerca de 3 quilômetros por hora e um farnelzinho era providencial aos carreteiros. Todo mundo sabe a quantas andam nossas máquinas potentes e velozes pelas vias de São Paulo. Logo teremos que criar soluções modernas para a boquinha no meio do trânsito que avança mais ou menos à velocidade das carroças. Talvez a prefeitura devesse instalar microondas e fogões elétricos nos acostamentos da Marginal.

Ao que interessa:



Arroz de carreteiro para 3 pessoas


200 g de charque (se for servir como acompanhamento; para prato principal, dobre a quantidade)
1 xícara (200 g) de arroz branco cateto (o da Blue Ville, arroz gaúcho ou para arroz de carreteiro é um cateto macio, excelente – faltou-me no momento)
1 colher (sopa) de óleo
½ cebola pequena, picada
½ cebola dedo de moça sem sementes, picada
Água quente e sal, se necessário
Opcional: cheiro verde e ovo cozido ralado ou esmigalhado

Limpe, tirando gorduras, e pique a carne em cubinhos pequenos. Cubra com água fria e deixe de molho por cerca de 3 ou 4 horas, trocando a água neste período umas 2 ou 3 vezes. Escorra bem.
Numa panela coloque a carne e 1,5 xícara de água (ou mais, se estiver usando o dobro de carne). Leve ao fogo. Quando ferver, abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar lentamente até a carne ficar macia (de meia hora a quarenta minutos). Escorra e reserve a carne e o caldo. Coloque numa panela de ferro o óleo, a cebola e a pimenta e refogue em fogo alto até a cebola murchar. Junte a carne escorrida e frite um pouco até ela começar a dourar. Coloque o arroz lavado e escorrido, refogue, mexendo, até aquecer bem. Complete o caldo da carne reservado com água quente até dar 2 xícaras e despeje no arroz. Prove o sal e corrija, se necessário. Assim que ferver, abaixe o fogo no mínimo, tampe a panela e cozinhe até a água secar e o arroz ficar bem macio - de 15 a 20 minutos. Espalhe por cima cheiro-verde e ovo cozido esmigalhado, a gosto.

Rende: de 3 (prato único) a 4 porções (como acompanhamento)


9 comentários:

Laurinha disse...

E ontem comentei com vc que estava planejando fazer o arroz de carreteiro...
Quando abri o jornal hoje e vi o Paladar, adorei!
E agora aqui, tô feita! Receita testada, aprovada... só que só vou ter tempo pro findi...
Ficou lindo, hein! Que vontade de dar um bocado!
Beijinhos,

Fer Guimaraes Rosa disse...

Neide, como eu gosto dessa comida!! Infelizmente charque aqui nao ha.... Mas ha o beef jerk, que eu estou encafifada se seria igual ao jerked beef dai. O daqui eh bem seco e rigido, eu coloco na feijoada quando nao tenho carne seca, o que eh quase sempre.

Anos atras, tivemos a sorte de ter um casal de gauchos como vizinhos. Alem deles serem tri-legais, ele adorava cozinhar e toda vez que tinhamos um churrasco de verao e ficavamos ate de noitao no parque, ele no final fazia um arroz de carreteiro com as sobras de carne. Lembro de um verao, que devoramos o arroz ja era meia-noite. Estavamos no parque desde o meio-dia!

beijaoo, Neide!

Ana Canuto disse...

Neide:
Hoje que já não temos mais carreteiros a tradição é fazer carreteiro depois de um churrasco como bem comentou a Fernanda.
Em casa eu usava até as linguiças que sobravam e isso normalmente acontecia no almoço da segunda-feira.
Além de gostoso, vc que é nutricionista pode dizer que só falta a saladinha pra ficar uma refeição completa.

Quero dizer também que deixei um prêmio pra você no meu blog e um post baseado nas suas comilanças da casa da Mariangela.
Dê uma passadinha por lá e um beijo.

Neide Rigo disse...

Pois é, Laurinha, que coincidência, não? E qualquer dia a gente se tromba no Mercado da Lapa.

Fer, imagino que o beef jerk daí seja mais duro, mais desidratado. Não há outro tipo de carne seca aí? Então, faça a sua. Não é difícil.

Ana e Fer, gostei de saber da moda do arroz de fim de churrasco. E que maravilha poder ficar até meia noite no parque, hem.

beijos, n

Neide Rigo disse...

Laurinha,
se for fazer como prato único, dobre a quantidade de carne, pois achei pouca. Já arrumei lá no texto. Um abraço, N

Agdah disse...

Menina, aonde é que vc arruma lenha pro seu fogão???

Neide Rigo disse...

Agdah,
eu compro lenha no Pão de Açúcar. Este meu fogãozinho é portátil e até hoje não botei chaminé. Então, sempre que o acendo, parece aos vizinhos que estou botando fogo na casa de tanta fumaça.
bjs, n

Elena sem H disse...

Fiz ontem o arroz de carreteiro, mas não comi (fui convidada para almoçar na casa de uma amiga). Quem comeu, aprovou. Eu trouxe hoje para o almoço. Estava delicioso, assim como a couve refogada.
Essa semana farei o cozido com mandioca. Mas só depois de quarta, quando chega minha cesta de orgânicos.
Até mais!

Anônimo disse...

experimenta colocar linguiça calabreza moida fica uma delicia.....