quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cenas de Canudos

Nem parece, mas este açude fica em plena caatinga. Até parece que o sertanejo está melhor servido em água que nós, a julgar pelas imagens das represas do sistema Cantareira, que fornece parte de nossa água, no lodo. Mas no sertão a coisa é sempre mais grave e esta represa está tão baixa que deixa à mostra as ruínas de Canudos.  Para quem não conhece a história de uma das guerras mais sangrenta, dantesca e desigual da nossa história, veja aqui e ali.  E também mostrei o tamanho da bala naquele post

Esta foi a terceira vez que visitei o parque estadual, que abriga uma parte do território onde se deram as batalhas. A primeira delas aconteceu em Uauá, onde eu estava hospedada, a alguns quilômetros dali, no caminho para Juazeiro.   Das outras vezes visitei apenas o parque, mal cuidado e mal sinalizado, por sinal.  Antes, ainda havia informativos para o visitante e painéis explicativos nos pontos de parada.  Agora estava com Jussara, as crianças e as amigas Fátima, do Acre, e Ligia Poggio, da Itália. Elas, que não conheciam o parque, saíram sem saber muito além do que eu e Jussara pudemos contar.   O descaso com nossa história continua quando resolvemos dar a volta por Bendegó e visitarmos o outro lado do açude, onde fica Canudos Velha - o vilarejo foi construído com remanescentes de Belo Monte, que foi totalmente destruída quando chegou a ter 25 mil habitantes, seguidores de Antônio Conselheiro. Mas ninguém ali gosta muito de falar do passado.  Que os descendentes culpem os monarquistas, Antônio Conselheiro ou o exército pela perda de seus antepassados, tudo bem. Agora,  que o poder público tente apagar um pedaço da nossa história isto é vergonhoso. Não há placa em nada, não há proteção ao que restou e não há sinalização suficiente para turista chegar até ali. 

A barragem construída naquele vale nos anos 1950, segundo dizem muitos baianos daquele pedaço da Caatinga, teve mesmo o intuito de afogar de vez qualquer lembrança daquele passado sombrio e vergonhoso. O açude de Cocorobó encobriu as ruínas, mas algumas estão ali abertas e sujeitas aos efeitos do tempo e do descaso. E, na estiagem, o que estava totalmente submerso aparece, como o grande arco do portal da igreja - destruída, certamente por uma daquelas balas de canhão.  Nas vezes anteriores não dava pra ver as ruínas. Isto significa que a seca neste ano está ainda pior. 

Tão pouco turista aparece por ali que, no restaurante onde paramos para comer peixe frito, todo mundo queria saber de onde éramos, o que fazíamos e quem era o que de quem, numa curiosidade agradável de puxar conversa que não fugimos de responder. 

Aqui, algumas fotos. 

A doce Joaninha do sertão
Restos de tijolos da vila destruída 
Joaninha, Juan e Lia
Quando a represa está cheia, nada se vê 
O pé de um cruzeiro? Este, fora da represa, sem placa, sem nada 
As ruínas vistas do alto do parque estadual de Canudos
Joaninha, Juan e Lia
Tilápia da represa 

4 comentários:

Anônimo disse...

Neide, você me emociona. Muito amor! <3
Um beijo,
Daniela

Rodrigo disse...

É um lugar que eu sempre quis visitar. Se foram suas, essas são belas fotos!

Anônimo disse...

É, Neide, educar um povo (e preservar a história, faz parte), significa ter que se preparar para ser questionado. Ouso dizer que nenhum político brasileiro quer isso. Infelizmente.
Izabel

Roberto Arruda disse...

Olá. Excelente postagem sobre esse sítio histórico. Como você fez para chegar até as ruínas que surgiram na estiagem? O acesso foi pelo parque?

Obrigado pelas informações.