sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O destino do feijão goiano

Este foi plantando entre o milho 
É que o germe deste feijão veio de Goiás. Portanto, não trato aqui de um prognóstico da cultura do feijão goiano, que, para além de lá, despenca no país inteiro em queda livre, sendo considerado o primo pobre da agricultura moderna. Só compensa plantar em grande quantidade usando a mesma tecnologia do milho e da soja, dizem os agricultores,  e o preço final vai variar conforme a demanda - que também despenca dia a dia especialmente nas classes mais altas.  E, se for para plantar pouco, só pra subsistência, o agricultor acha mais vantajoso comprar no mercado.

Mas quem quer um feijão limpo, sem uso de defensivos, não tem escolha. Ou compra o orgânico, que não é tão barato, ou planta seu próprio feijão. E com esta seca,  mesmo o feijão comum deve aumentar o preço ainda nesta temporada. Como tenho um pedacinho de terra, escolhi esta última opção, plantar meu próprio feijão, não só por economia e preocupação com a qualidade, mas também porque isto me faz feliz.

Trouxe apenas 200 gramas de diferentes variedades de feijão comprados na feira do Ateneu em Goiânia.  Plantei no sítio e colhi cinco variedades - só o canário não vingou mais que um pé.  Foram plantados juntos ao milho e em cerca de 90 dias já estavam colhidos - dependendo da variedade cinco dias pra mais, cinco dias pra menos, como diz o caseiro Carlos.  As folhas começam a ficar amareladas, é hora de colher. As vagens terminam de secar ao sol.  Quando você tocar nas vagens e ela se quebrar com um leve apertão, já pode bater. Ou quando as folhas e galhos se tornam quebradiços.

Como a quantidade era pequena, aproveitei os dias passados lá no fim do ano e coloquei os feijões em panos que ficavam sob o sol durante o dia e eram recolhidos à noite por causa do sereno.  Todo o resto do trabalho foi feito pelo Carlos.

Neste arraste pra lá e arraste pra cá, muitos feijões iam caindo pelo caminho. Carlos, Silvana e eu não desperdiçamos nenhum. Catamos todos e juntamos um montinho de cores variadas. Cozinhei todos juntos e coloquei no molho do macarrão com linguiça. Dá uma sensação boa comer o feijão colhido tão perto. O bom de plantar feijão é que tem ciclo curto e em pouco tempo se colhe um alimento proteico, energético e gostoso. E, em pequenas quantidades, não requer nenhuma tecnologia durante todo o ciclo.

No sítio do meu pai eu via a planta e depois os grãos guardados em garrafas, mas nunca o processo todo. Então, não estranhe minha empolgação, pois esta foi a primeira vez que acompanhei mais de perto o ciclo, da obtenção da semente ao plantio e colheita do feijão. Por isto mostro aqui as fotos da trajetória para outros ignorantes da terra como fui até outro dia.  A variedade em questão, o primeiro a ser batido, foi o feijão amendoim ou feijão vermelho, de cor avermelhada,  sabor delicado, textura macia e caldo grosso.

Comprei os grãos (de comer ou de plantar) na feira  - no cultivo de grande
escala, grãos de comer e sementes de plantar diferem, pois estas precisam
ter garantias de germinação, vem com tratamento para os bichos não
levarem, etc. Mas tradicionalmente, para os dois fins, o feijão era o mesmo
Os feijões vieram na mala - os saquinhos embaixo mais pra direita 
Foi plantada cada variedade em lugar diferente - o vermelho, entre
o milho, em terra apenas livre de braquiária, sem correção alguma

Os feijões secando. Cada variedade num pano

Mistura de feijões que foram caindo. E Dendê pensa: será que vou ganhar?
O blend de variedades mostrado acima foi junto com molho de tomate e linguiça
para o macarrão. Dendê ganhou um pouco. 


O restante foi passado para o chão. Carlos e Silvana cataram todos os que
ficaram no pano
Carlos preparou uma varinha bem flexível e firme para bater o feijão. Também
bati um pouco meio desajeitadamente
Ele fez uma vassoura ou alecrim do campo e ia juntando à medida que
espalhava 
Quando todas as vagens haviam rompido e liberado as sementes, a palha
foi tirada de cima dos grãos que permaneciam no chão
Ele foi varrendo de leve por cima para liberar as sementes o máximo possível
Só então passou os feijões para a peneira e começou a abanar. A palha
é mais leve e se perde no caminho quando o feijão é jogado para cima.
No final, de 200 gramas colhemos 3 quilos (2979 g) de feijão limpo. Nada mal! 
E, pra variar, parte dele já foi de novo para o molho de macarrão, completado
com lascas de queijo canastra  - para um vero pasta e fagioli teria que ter um
molho mais suculento, mas de qualquer forma este não decepcionou. E nhac!

3 comentários:

Anônimo disse...

Que delícia, Neide. Plantar e colher seu próprio alimento. Meu pai plantava muito feijão carioquinha e nós sempre ajudávamos(confesso que naquela época eu não gostava do trabalho na roça). Fazíamos todo o trabalho: semear, capinar, colher, bater, peneirar e escolher. Sim, escolher (ou catar)porque meu pai gostava de vender o feijão limpinho!! Ele nunca ficou rico com o trabalho na lavoura, mas tenho ótimas lembranças daquela época. Lindos os feijões vermelhos. E o sabor deve ser bom também, né? Bjs, Liliana.

aguiar disse...

Neide esse feijão é delicioso!!!
Eu utilizo dele, e compro de pequenos produtores daqui do Espírito Santo.Também é muito comum nas feiras livres de orgânicos.
O seu está com aparência apetitosa, e adorei a ideia de servir junto com macarrão. Vou experimentar!
Obrigada pelos post,sempre aprendo com vc.
Bjos

Humberto Marra disse...

que Maravilha Neide,

viva o feijão !