segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Ingá-colar, comida de pelúcia de calorias negativas

Quem não acertou a charada não foi por ignorância mas pela ardilosidade da foto produzida com o intuito de confundir mesmo. Se não, qual a graça?

Este ingá chegou às minhas mãos não sei como. Acho que Humberto deu pra Mara, que deu pra Neka, que me deu. Ou tudo ao contrário. Só sei que foi uma das coisas que vieram de Goiânia na mala, do Festival Nossa Pitada.  

Acho horrível o deslumbramento mas sofro deste mal quando se refere a estas formas perfeitas forjadas pela natureza. Passo dias apreciando a escultura sem vontade de destruir. A vagem comprimida sobre cada semente vira um colar de balas embaladas em verde. Chupei uns dois chumacinhos e coloquei o resto na terra. Claro, deveria ter aberto a vagem e enterrado as sementes dignamente, mas, para continuar apreciando, apenas deitei a vagem inteira sobre a terra úmida, para deleite das lesmas que logo a devoraram. Mas também, acho que não vingariam, o fruto não estava tão maduro. 

A moda agora é comer algodão umedecido em sucos lights ou água para encher a barriga e emagrecer (coisa de gente doente, que fique claro). Por que, em vez disso, não chupam ingá, o verdadeiro algodão embebido em líquido doce? No Panamá há um nome para os ingás que carrega consigo a melhor definição possível para esta comida de pelúcia: guabito cansa-boca. É o tipo de alimento com calorias negativas, se assim pudesse ser chamado, pois você gasta mais energia no ato comer que aquela que porventura consiga extrair de sua polpa tão exígua. Você passa horas com a boca ocupada em tentar extrair alimento da penugem úmida que recobre as sementes. Mas é uma boa ocupação para a boca, ninguém pode negar, muito mais prazeroso que comer chumaço de algodão.  Escreva aí, o ingá pode ser o próximo fofo a cair nas graças das celebridades fitness que vê o alimento como números (se bem que não há grandes produtores de ingá para financiar este marketing ...). 

No sítio, por enquanto, só este ingazinho 
Bem, há ingás mais carnudos, como o ingá de metro, que já foi protagonista de outra charada, mas não aparecem facilmente por aqui.  São algodões doces mastigáveis, comida de verdade. Plantei alguns pés no sítio e não vejo a hora de saber se terão o mesmo sabor e textura daqueles amazônicos.  Já apareceu aqui na charada também o outro ingá, o branco, comum, de pouca polpa, comida de brincadeira.  

No mesmo espírito fruto pouca poupa está o ingá-colar (Inga marginata) da foto, comum no Cerrado e que gosta de frequentar matas fluviais. Pode ser encontrado do Amapá ao Rio Grande do Sul,  mas ocorre também em outros países da América Central e do Sul, em faixas diferentes de altitude e clima.  Além da polpa comestível das vagens - é docinho, com sabor pouco marcante -, a árvore produz flores lindas, grandes produtoras de néctar e pólen, prato cheio para abelhas. 

Se for ao Centro-Oeste nesta época, não deixe de provar e manter a boca ocupada. A todos os que acertaram a charada, parabéns! E a todos que comentaram, obrigada pela participação! 

4 comentários:

Anônimo disse...

Neide inga gosta de muita água molhe molhe bastante ele que voçê vai ver como fica.(Diulza)

Maria de Lourdes Ruiz disse...

Não conhecia o ingá-colar ,aqui tenho três pés do inga de metro e dois do branco.
Este ano o período seco não foi tão intenso e talvez por isso os frutos do ingá de metro estão mais doces e mais úmidos.

Dricka disse...

Vontade de provar, eu não iria adivinhar nunca. Agora fiquei passada, engomada e pendurada com essa de comer algodão umedecido com suco light, tava sabendo não. Esse povo inventa cada uma e quase nunca sei o que acontece no mundo dos cabeças-ocas, porque geralmente estou pensando em comida, rsrsrs.
Bjs

Paulo Castilho disse...

Cheguei aqui pesquisando sobre essa vagem. Tem pelo menos uma árvore carregada de vagens próximo ao Metrô Sacomã, às margens da Via Anchieta.