quinta-feira, 8 de março de 2012

Uauá. Parte 3: Caratacá


As pessoas por lá falam rápido e eu não conseguia reproduzir Caratacá. Saía taracacá, caracacá, tacaracá, menos caratacá. Mas quando Dona Joana me explicou a origem do nome deste povoado pacato de Uauá, não errei mais. Não sei se é verdade ou só uma regrinha mnemônica que funcionou, mas Dona Joana jura que aconteceu. No passado distante, alguns índios em passagem por uma trilha iam em fila dispersa. Uns bem mais à frente, outros lá atrás, provavelmente os que ficam de conversê. Os da frente param assustados ao ver um corpo sem cabeça. Tá certo que com reza brava tem gente que se invulta, mas invulta por inteiro. Então gritaram para os últimos: achamos um corpo. Ao que os de trás responderam: a cara tá cá, a cara tá cá! E assim nasceu o nome do povoado. A história era esta, mas fico imaginando que talvez tenham fincado uma cruz ou fizeram uma capela no lugar ao redor do qual nasceu o povoado, não sei, não apurei. Mas o nome ficou e eu não mais me esqueci: Caratacá. Que é isto: uma igreja e atrás dela um quadrado onde meninos jogam bola, alguns bancos convidativos nas margens e casas em volta com fachadas de um tempo de construtores artistas, umas diferentes das outras, lindas. Cadeiras nas calçadas, crianças na janela e mulheres que fazem bicos e bordados. E tem Dona Joana, mãe da Jussara, que vende seu manuê de milho da roça, assado no fogão de lenha, na porta do bar onde se vendem também bujões de gás e cerveja, esquina com a rodovia. Oposto à igreja, o cemitério intrigante. Como adoro a Bahia! Este lugar me fez lembrar de Mombaça. Pena que o moço que quebrou a clavícula ficou quatro dias sem médico, sem transporte. Disso também não esqueço.  





6 comentários:

André Coelho disse...

Poxa, Neide, faz um guia de viagem. Cê vai à lugares interessantes e curiosos, é crítica, reflexiva e sensível. Guias de viagem comuns são tão chatos e nos mandam pra lugares típicos, pra conhecer atraçãozinha pra turistas e só. Nada de cultura - como expressão do grupo social - de verdade.

fabiana jardim disse...

Neide, ia comentar a beleza do lugar e a delícia dos seus relatos, mas agora resolvi reforçar a proposta do André: imagine um guia de viagens saboroso como seus textos, temperado com a sua sensibilidade, ilustrado pelas fotos maravilhosas que você faz. Eu não só comprava como guia, como ainda adotava como leitura obrigatória pros meus alunos de sociologia :-)
Beijo!

Anônimo disse...

Diz o ditado que a beleza está nos olhos de quem vê. Ouso dizer que a beleza dos lugares e a bondade das pessoas está na alma de quem as vê. Você, certamente, tem a alma descritiva mais fiel à realidade que eu conheço. Bjs. Izabel

ACONTECE EM CARATACÁ E REGIÃO disse...

Cara Neide, é um prazer ver minha terra (Caratacá) retratada e relatala por uma pessoa que consegue descrever sua emoção perante sua observação. Fotos incríveis mostrando os traços das residências, as quais estão precisando de pinturas, porém sua beleza ultrapassa essa deficiência. Parabéns!!!

Neide Rigo disse...

Caro leitor de Caratacá, fico feliz de saber que gostou.
Um abraço, N

BGGda Mata Virgem - Uauá disse...

Boa noite! Hoje participei de uma sala virtual do projeto FALE-Festival de Arte e Literatura Estudantil, promovido pela Escola Santo Antônio do povoado de Cáratacá. Há indício de povoação indígena na área territorial de Uauá. Vejamos: Uauá, Caratacá, Cocobocó, Curundundum. Essas palavras sugerem ter vindo de uma única etinia. No entanto procurei o significado dessas palavras, não encontrei. Alguém tem alguma informação sobre qual ou quais etinias indígenas habitou aqui em terras de Uauá!???