segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Já em Dakar. O melhor e o pior café da manhã da viagem

Já em Dakar - o melhor da viagem
Demorei 24 horas para chegar em Dakar porque tive que esperar algumas horas no aeroporto de Madrid. Minha grande preocupação era o que fazer durante 7 horas de espera naquele ambiente nada acolhedor de aeroporto. Não consigo ler com distração e não gasto mais de meia hora para ver as lojas. E agulha de crochê e de tricô acho que não se pode levar na embalagem de mão. Um jeito bom de passar o tempo num aeroporto grande como o de Paris e de Madrid, com trenzinhos para percorrer longas distâncias, é passear pra lá e pra cá, de preferência por necessidade e não com o único propósito de não enlouquecer com a espera. E para criar esta necessidade é bom que você esqueça na bandeja do raio x algum objeto de extrema importância. Foi o que aconteceu. Tive que tirar tudo das bolsas para passar no raio x. Na minha frente, alemães sendo mal-tratados porque estavam carregando bebidas que foram jogadas no lixo sob protestos. Só para apavorar quem vem atrás. Depois de passar pelo sufoco, mesmo não tendo nada de errado a declarar, parei com as bandejas sobre uma mesa fria como de necrotério e fui arrumando as duas bolsas tentando respeitar a ordem original.  Ufa, ficou apertado, mas coube tudo de volta. E anda pra lá, anda pra cá, procura um lugar pra comer. Nada que me apetecia. Até que encontrei uma lanchonete cujas fotos me apeteceram - como se eu nunca tivesse trabalhado com produção de comida para fotos. Pedi o único item do cardápio que tinha cara de almoço, embora fosse um prato de café da manhã - tortilla, linguiça, feijão, ovos mexidos e suco de laranja. Fora o suco de laranja fresco que, incrivelmente, estava maravilhoso,  o resto era incomível. A linguiça tinha gosto de tresantontem; as fatias de bacon, cruas, mornas, elásticas;  a tortilla, encharcada;  os ovos mexidos moles crus e o feijão branco com molho doce de catchup era meio repulsivo. Sorte que tinha trazido pão com queijo do avião. Estava ali  olhando o prato com cara de nojo e lamentando meus 10 euros indo pro lixo quando observei que a bolsa de mão estava  tão gordinha. Pensei: com o laptop perfeitamente encaixado ela ficava tão retinha. Ué, então cadê o dito? Putz, esqueci. E pra saber por onde eu tinha entrado? Pergunta pra um, pergunta pra outro? De onde a senhora vem? De São Paulo, mas posso dizer que vim de Madri, porque saí e voltei. A senhora foi pra rua? Não, porque não quis, mas cheguei ao ponto de taxi, poderia ter ido ao Prado.  Então, entrei por Madri. Mas se era conexão, não podia. Tanto podia, que saí, seu moço. E liga pra um, liga pra outro, me mandam prum canto, mandam pro outro, passa de volta na polícia federal - Sim, eu saí,  entrei, estou saindo pra buscar meu ordenador e vou entrar de novo. Finalmente uma policial me acompanha até um lugar onde ele poderia estar. E isto, de trem, pra lá e pra cá. Finalmente o encontrei e a falta de duas teclas foi a senha para comprovar que era meu - afinal, descobri, muita gente esquece o laptop na bandeja. E lá vou eu, de novo na fila do raio x, de novo desmonta as bolsas, tira cinto, relógio e sapato, empacota creminhos, de novo coloca tudo de volta. Agora conferindo com calma. De novo polícia federal, explicando: eu entrei mas saí pra rua e entrei de novo,  saí  pra buscar meu ordenador e estou entrando novamente, agora pra ficar, portanto nada de carimbo, por favor. Ok, vá embora, sua louca. Mais trenzinho, me sento à beira do portão certo e dali não saí mais. Já estava quase no horário. Viu, como é fácil passar o tempo?  




No aeroporto de Dakar já estou escolada. Vem muita gente te abordar, querer pegar suas malas, colocar no carrinho, levar ao taxi, mas é só ir dizendo merci, merci, merci e ir passando com a cabeça erguida. O Ibrahim, motorista do hotel, foi me buscar e deu tudo certo. Desta vez me botaram no melhor quarto do Hotel Du Phare, um pousada bem simpática, mas que peca pelo café da manhã - água quente com sachê de chá ou nescafé (uma praga por aqui), baguete fria e mal cozida, leite em pó, suco artificial extremamente doce, além de geleia e manteiga.  Sorte que logo desceram os amigos padeiros franceses, Michel e James. Um, com biscoito de Prato (Prato, Itália) de sua padaria e queijo de leite de ovelha do Piemonte francês, onde mora. E James, que além de padeiro é botânico, com remédio preventivo pra malária feito num centro especializado aqui mesmo no Senegal.  As delícias e o carinho dos amigos fizeram deste o melhor café da manhã da viagem. Daqui a pouco seguimos para Thiés, onde vamos trabalhar com a população rural. 



O pior da viagem

12 comentários:

Mariangela disse...

putz Neide,que ACONTECIMENTO!!!!!!!!Bienvenida a España! Barajas realmente é bem complicado,e que pena que comeste muito mal ali(eu também não confiaria em cardápio de lanchonete de aeroporto) mas,enfim, dias melhores virão por aqui!!!Beijos de boa sorte na África querida amiga!!!

Unknown disse...

Por isso é que eu sempre como só um pão de queijo no aeroporto. Ou um pastel assado, e fim.

Leticia Cinto disse...

Nossa senhora, que jeito de passar as horas! Com certeza não deu nem para perceber o tempo passar. Sobre agulhas de tricô ou crochê, sei que tem um tipo (que é todo de plástico) que pode ir na bagagem de mão (eu nunca tentei, mas tem gente que conheço que leva direto nas viagens). Ainda bem que tudo melhorou depois :)

Ana Chica Balneario disse...

Adoreii!!!!Boa viagem!!

Anônimo disse...

Neide, você escreve de um modo muito divertido, embora essas coisas sejam muito estressantes para qualquer um. Talvez as coisas dependam do modo como cada um enxerga as coisas. Demonstra o seu espírito.

Célia

Anônimo disse...

fragoso .pr. sucesso em sua estada na africa ,relata tudo sobre este povo tao sofrido ...abraco.

Anônimo disse...

Comida de aeroporto não "come-se"! Boa viagem. Espero ansiosa os posts da África. Bjs. Izabel

Clélia disse...

Comida de aeroporto ninguem merece e a qualidade é inversamente proporcional ao valor pago.
Ahh, adorei as malas!
Beijos

Angela Escritora disse...

O quarto amarelo é dez, amei, o meu também é amarelo.
Dica: baixe o Teatro de Mistério pro celular,e ouça, assim o tempo passa De forma diferente!! É um trash maravilhoso!

Anônimo disse...

Oh, Neide
Não perca mais nada (da outra vez foi a câmara)!
Queremos a reportagem completa!
Que seja uma óptima viagem.
Beijinhos
Manuela Soares

Gilda disse...

O melhor de tudo é que você não perde o bom humor; assim aproveita até as trapalhadas para fazer um texto de primeira.

clau disse...

Nooossa...
Ler este seu post foi como rememorar a viagem da qual voltei faz pouco tempo, onde passei por n aeroportos.
E eu cansei de aeroporto: juro!
Pq é a pior parte de tudo, por mais modernos e bonitos que eles sejam...
Mas desejo boa sorte nas suas viagens, Neide!
Bjs!