Lá em Dakar, não vi praças agradáveis com bancos, má vi mulheres carregando seus próprios assentos. Meu bairro é bonito, arborizado e tem muitas praças - uma ao final de cada rua, uma desproporção sem fim com os bairros da periferia ou com a capital do Senegal, onde a molecada se junta em qualquer campinho aberto pra jogar futebol. Por isto me sinto privilegiada, mas não diferenciada (aliás, não deixe de ir ao churrascão da gente diferenciada, veja lá no facebook). Queria poder dividir os bancos da praça vizinha com quem quisesse se sentar ali pra ver o por do sol no Pico do Jaraguá, com quem saísse da estação de trem que fica no fim da rua, com casais de namorado, mães com seus bebês. Mas não dá, pelo jeito, cada um que carregue seu próprio banco se quiser se sentar. Me deu um desânimo danado quando vi que o banco que lavei com meus vizinhos só ficou limpo por duas semanas. Cheguei uma manhã pra regar as flores e lá estava o banco lambuzado de óleo novamente. Corri pra dar bronca no guarda e ele jurou que desta vez está limpo, que foi um vizinho - eu não quis saber quem era nem onde mora, achei mais prudente. Certamente é um cara que se sente inseguro tendo por perto uma praça mais limpa e cuidada. É capaz que pense que uma praça degradada seja mais segura e atrativa para gente diferenciada como ele. Uns três dias depois o óleo tinha sido absorvido pelo concreto (óleo de fritura, bom pra fazer sabão) e vi sentado ali um casal de namorados olhando não pra suposta casa do morador mas para o Pico do Jaraguá no fim da tarde, de mãos dadas. Ainda passou pela minha cabeça: "altamente suspeito este casal" deve estar pensando o morador diferenciado trancafiado em sua jaula, bisbilhotando pelas frestas. Não deu outra, na manhã seguinte o banco estava ainda mais ensebado com óleo ainda mais queimado (a julgar pela qualidade da gordura despejada ali, com restos de frituras velhas, queimadas e mal cheirosas, calculo que a dieta do dono da rua não deve ser lá estas coisas e que ele está reutilizando óleo de fritura mais que o recomendado). E assim está lá o banco vandalizado que me afronta a cada manhã quando insisto em molhar as marias-sem-vergonhas e coleus que resistem à fúria. Mas vou lavar novamente porque estou cansada e quero me sentar um pouco.
Pico do Jaraguá, visto da praça
Se você chegou agora e não está entendendo nada, caso sinta curiosidade, veja os outros posts a respeito um banquinho que é um perigo, um banco na calçada, e um banco limpo pra se sentar. E amanhã prometo voltar a falar de comida com prazer.
12 comentários:
Adoro seus textos, a maneira que você divide suas experiências de vida e conta sobre suas viagens e situações do seu dia-a-dia, sempre venho correndo ler suas novidades e é sempre um grande prazer!
Abraço
Estou com vc! Eu também lavaria o banco toda vez que o achasse sujo! Até travaria uma guerra com esse infeliz... uma vez fiz isso com uns meninos do predio enfrente a minha casa da cidade... toda época de mangas era uma jogação de pedra p/ derrubar mangas(quando eles pensavam que não havia ninguém em casa)... ai, um belo dia, enchi a mão de pedras e me escondi atrás do muro e joguei uma chuva de pedras neles... nunca mais eles vierão jogar pedras nas mangas daqui de casa! Beijos!
Se o vigia sabe quem é o infeliz, quem sabe funciona juntar um monte de gente, com faixas, cartazes, panelas batendo e fazer um protesto pacífico mas intimidador bem em frente à casa dele, quando ele estivesse dentro? Aqui, em Itamambuca, funcionou uma campanha contra cachorros na praia, com faixas, apitos e um berreiro danado em volta dos donos "fora da lei". É proibido por lei levar cachorro à praia. Estou com você: desistir é concordar.
Gilda
Ê mundinho difícil esse nosso, não? Fiquei tão triste pelo banco! Tinha achado legal todo o processo de limpeza...
Acompanho seu blog há tempos e fui viajando nos piqueniques, no Mercado da Lapa, nas plantações no parque. Nunca pensei que um lugar tão bacana pudesse ter um morador assim...infeliz!
Abç
Ai Neide fiquei roxa de raiva.
Será que esse distinto cidadão não sabe que vandalismo é crime?
Bjs
Da vontade de ficar econdida, esperando esse ignorantes aparecer, e qdo ele menos esperar...splash, um balde de gordura nele! Que sujeito dissituado! Essa historia me revolta. Bjs
Neide fico indignada com estas coisas, a praça é publica ele não tem direito de fazer o que fez,e é dano ao patrimonio tb. com um vizinho deste é até perigoso se precisar de ajuda para lavar no blog da Marisa tem um preparado feito com Nato que acho vai limpar sem muito esforço.bjs. e não desista (Diulza)oblog que falei eo Delicia, vc conhece .
Neide, que loucura, tô chocada. Como uma pessoa pode pensar assim? Bem, como pessoas podem pensar assim? Quase que não acredito. Que horror, que descrença que dá no mundo. Por que vocês não estudam trocar o banco de cimento por um banco com outro material que não seja afetado pelo óleo?
O urbanoide é demais. O oleador certamente é como o povo de higienópolis que não quer que o povo salte perto dele...
Essas e outras me fizeram deixar a cidade, é triste. Eu quero o churrasco da gente diferenciada.
Claro que não se quer bandido, mas, desocupado dá inveja!!!:-)) Certamente o oleador tem que ralar muito em um trabalho que odeia , quer matar o chefe, acha a mulher uma chata e pronto. Morre de inveja de quem tem tempo de sentar no banco da praça. E viva o Rony Von, a mesma praça, o mesmo banco...(acho que vou praí em breve!!)
Vc desistiu do Banco?
Ray
Pq vc não faz uma denúncia no site da subprefeitura? E se puder, estimule os vizinhos• a fazerem o mesmo. Banco de praça é patrimônio público como todos nós sabemos. Tive problemas semelhantes quando morava em Pinheiros, e claro, demorou um pouco, mas os técnicos da subprefeitura resolveram a questão. *Para quem tem receio de "represálias" avise que a denúncia pode ser anônima e se pode verificar o andamento do caso apenas com o número do cadastro da denúncia no site.
Um abraço, adoro seus textos,
Adriane
Existe lei que pune pixadores? deve ser o mesmo caso pra este indivíduo,chama a puliça.
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