sábado, 4 de janeiro de 2025

Folhas de chaya com leite de amendoim

 

Folhas de chaya no leite de amendoim. Você já deve ter visto aqui algumas postagens sobre a planta mexicana Chaya - Cnidoscolus aconitifolius, da família das Euphorbiaceae, como a mandioca.  Ela é consumida pelo povo Maia desde os tempos pré-colombianos e continua sendo alimento para o povo moderno não só do México. No Brasil é comum nas hortas urbanas. Apesar da presença de glicosídeos que formam ácido cianídrico, as folhas podem ser consumidas como verdura depois de cozidas (no caso da “água de chaya”, único preparo em que pode ser consumida crua no México, as folhas devem ser bem trituradas com algum elemento ácido – limão ou abacaxi, por exemplo).

 

O que eu não sabia e compartilho agora com você é que a planta, que cresce bem em áreas tropicais, é também é consumida em países do sudeste asiático, como na Indonésia. Eu só descobri porque depois de ver vários vídeos no instagram de pratos feitos com ela, com o nome de “daum Pepaya jepang” . Sempre via rapidamente e associava a forma e o nome pepaya às folhas de mamão. Só num deles, em que a pessoa colhia das folhas, me detive por mais tempo e percebi que era chaya e não folhas de mamão (de longe até parecem, ambas têm folhas lobadas).  O nome quer dizer folhas de mamão japonês (não me aprofundei sobre o caminho da planta, talvez levada por japoneses?).  A planta é conhecida como “pepaya jepang”, papaia japonês,  e é usada em ensopados, bolinhos, recheios e curries de vários tipos.

 

Pra dar uma abrasileirada: um tanto de farinha! 


Sabendo da novidade, fui lá fora, peguei umas folhas da planta que tenho na frente de casa (deve ter uns 4 metros ou mais) e fiz um ensopado com leite de amendoim, galanga, alho, cebola, pimenta, folhas de limão kaffir e talos de capim santo. Triturei tuto, refoguei em óleo junto com um pouco de camarão seco baiano, juntei leite de amendoim (um punhado de amendoim sem pele cru batido com um pouco de água quente e coado) e as folhas cozidas em água por 15 minutos , escorridas e cortadas em pedaços. Deixei cozinhar um pouco para apurar o caldo e pronto. Servi com um pouco de cebola roxa dourada em óleo, pedacinhos de pimenta dedo-de-moça e dois peixes porquinhos temperados e dourados na frigideira.   Não tenho medidas de nada porque foi tudo improvisado, mas é só para dar a ideia de que as folhas ficam deliciosas ensopadas assim – pode ser um tempero de moqueca, por exemplo. Leite de coco cai muito bem também e o que mais vi sendo usado, mas quis experimentar com leite de amendoim e gostei muito.

 

Nos mutirões da horta city lapa, todos que querem podem sair com mudas – elas pegam facilmente por estacas. De vez em quando deixo uns talos na frente da minha casa depois das podas. Fique de olho aqui no feed. Logo vou podar minha planta.


sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Spatzle de banana verde e folhas de sara-tudo

 


Continuando o post de ontem em que falei das folhas de sara-tudo, aqui mostro como usei as folhas já cozidas para fazer nhoque de pingar. Alguém vai dizer "mas isso é spatzle", os nhoques de farinha instantâneos feitos em algumas regiões da europa oriental. Se eu disser que é spatzle,  puristas podem reclamar "mas isso nunca que é spatzle".  Então fiquemos com spatzle ou nhoque de pingar, ao seu gosto. O importante é que a inspiração é mesmo o spatzle, mas os ingredientes são inusitados e o resultado é uma massa rápida, mais leve e nutritiva que aquela feita só com trigo.  


Esse passador é como uma frigideira furada

Aqui só com banana, sem as folhas 

Num copo medida de meio litro preenchi metade do volume com bananas cozidas (cozinhei em água com casca até ficar macia e abrir a casca - pode usar panela de pressão - uns 8 minutos após começar a chiar), coloquei as folhinhas cozidas de sara-tudo que usei no chá - cerca de 1/4 de xícara, 2 ovos e preenchi o recipiente com água. Bati tudo no liquidificador até virar um creme liso. Passei para uma tigela, temperei com sal e noz moscada e juntei farinha de trigo até ficar com consistência de uma massa grudenta - pode ser mais densa do que se fosse só com farinha, pois a banana vai deixar os nhoquinhos bem macios. 

Copo medida de meio litro 

A massa grudenta, mais densa 

Coloração esverdeada e maciez 

As folhas de sara-tudo podem ser
substituídas por qualquer outra comestível

Passei a massa pelo utensílio de fazer spatzle sobre água fervente. Quando sobem à superfície, já está pronto. Depois é só servir com o molho de sua preferência. Se não tiver o utensílio, pode colocar a massa sobre uma tábua e ir cortando e arrastando pedacinhos da massa sobre a água, ou pode usar uma frigideira furada, espremedor de batatas etc.  Aqui no blog mostro outro tipo e meus improvisos. 



quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Sara-tudo é panc

 



Antes de mais nada, feliz ano novo para todos que ainda acessam o blog. Postando aqui no segundo dia do ano para, quem sabe, eu possa me animar e voltar aos velhos tempos de postagens quase diárias. Mas também porque quero deixar aqui registrado uma planta que me fascinou durante minha última viagem ao Amazonas, especificamente em Itacoatiara. Não que eu tenha ouvido falar dela por lá, mas sim porque coincidentemente eu estava lá, no lugar certo, na hora certa, quando vi um vídeo do professor Valdely Kinupp - veja aqui -  falando das propriedades da planta e de seu encantador pigmento vermelho extraído das folhas verdes. Não foi difícil encontrar ali quem a tivesse plantada no quintal. A Fernanda Paes me deu uns galhos, que trouxe na mala e já replantei assim que cheguei. Hoje a planta está vistosa e consegui esperar pacientemente para experimentar a magia de ferver folhas verdes e obter um caldo vermelho, cheio de antocianinas. 


As folhas verdes cozidas com seu caldo vermelho 

A planta Justicia acuminatissima, da família das Acanthaceae é um arbusto com lindas flores vermelhas, miúdas e comestíveis. Toda a planta é muito usada pela população na Amazônia por suas aplicações medicinais como antifúngica (pra fazer banho de acento para tratar candidíase, por exempo), anti-inflamatória, cicatrizante e para combater anemia. É conhecida como sara-tudo, cura-tudo e tantos outros nomes populares . As folhas são preparadas em infusões ou macerações para fins curativos. Mas elas também podem ser consumidas cozidas, como espinafre. 

Para usar como corante ou concentrado para colorir chás, caldos, fermentados etc, basta cozinhar as folhas por cerca de 10 minutos e deixar esfriando com as folhas dentro. O líquido inicialmente é amarelo, mas vai ficando vermelho aos poucos. As folhas continuam verdes e podem ser usadas em farofas, sopas, refogados. Minha muda, plantei na minha composteira de vaso e embora ainda não tenha florido, as folhas estão muito viçosas. O feijão de vara, plantado de sementes trazidas de Itacoatiara, na mesma viagem, também já está com vagens. 

Ainda vou fazer muitos testes - no pão, não deu muito certo, mas por enquanto fique com a beleza do chá. Diluí um pouco o caldo que consegui e temperei com folhas de  manjericão-cravo e canela. Fervi mais um pouco e ficou uma delícia.  As folhas cozidas, juntei ao spatzle de banana verde, cuja receita darei no próximo post, aqui ou no instagram neiderigo. 

As folhas cozidas com banana verde 
cozida, ovo e água para fazer o 
spatzle 



Spatzle de banana verde e folhas de sara-tudo 


Chazinho vermelho