segunda-feira, 11 de junho de 2012

Violeta Parra não comia insetos

Eu sou ruim pra línguas. Ler ainda vá lá, mas tenho péssimo ouvido e talvez por isto tenha casado com um otorrino, tenha filha otorrino, os dois bons de ouvidos. E eu aqui na suave ignorância, otorrino otochorano. De rir, sempre de rir. Depois de ter vivido meio século, cada vez mais retorno aos primórdios para aprumar o que foi sedimentado torto.  Às vezes é preciso voltar ao tempo e corrigir ao menos as imagens criadas a partir de distorções. Meu irmão Nivaldo era quem trazia pra casa discos de samba, de bossa nova, de rock, de protesto. Enquanto varria, areava, lavava e encerava,  registrava apenas alguns refrões que às vezes não faziam sentido algum. E quando ouvi Mercedes Sosa, no disco do Milton,  interpretando Violeta Parra, pensava sozinha com meus botões: coitada da chilena Violeta,  ter que comer insetos.  Assados na pedra? Mosquitos? Será que são bons? Será que são temperados? Tipo tepan yaki ou apenas servidos na pedra? Será que são criados só pra comer? Será que no Chile é comum comer insetos?  Ou seria porque ela era pobre? Talvez tenha sido a partir daí que comecei a pensar mais em comida, a  me  interessar pelo assunto. Nunca parei para aprender a letra desta música em particular. Nem nunca comentei com ninguém. Apenas salvei e segui em frente avoada, entendendo a vida como me era possível ouvir e imaginar. Mil vezes ouvi novamente a música, mil vezes imaginei uma pedra rústica de granito com mosquitos crocantes em cima, como fariam chefes modernos. Isto até ver, neste final de semana, o filme "Violeta foi para o céu". Vão ver, é emocionante (não mais que a rara entrevista dela que se segue - depois da música).  Só então a imagem foi confrontada. Quando apareceu na tela a letra, olhei assustada para o otorrino: Quer dizer que não é comer mosquito em la piedra? No, no, no, disse rindo,  é "como el musguito en la piedra, ai si si si"!  Caramba, pensei, isto muda tudo na minha vida. Tive que salvar como, porque os mosquitos ficarão pra sempre, e agora vou reconstruindo outros arquivos que dependeram daquele. 

Nota: uma amiga ficou admirada quando eu lhe corrigi dizendo que não era "domerrô, domerrô que o gato deu, miau" e sim "do berro que o gato deu". Ananda, minha filha, descobriu outro dia que o Chapolin dizia "sigam-me os bons" e não "sigam minhas mãos". E você? Já passou por isto?


29 comentários:

Dalva Tupinambá disse...

Neide, eu sou mestre em fazer troca de letra de música.Gosto muito de cantar e minhas filhas se divertem com as trocas que faço.
Só não me lembro no momento de alguma.Bom, até uma certa idade eu achava que era certo falar papos de aranha, até que um dia ouvi uma amiga falar palpos... e daí fui ver no dicionário e eis que eu falava errado...

Cyntia Campos disse...

"Na madrugada a vitrola rolando um blues/ trocando de biquíni sem parar". Pra mim, era a "melô da banhista indecisa". Depois eu descobri que era "tocando BB King". Logo eu, que gosto tanto do velhinho...

Gilda disse...

Neide, você é impagável! Conheço muita gente que ainda pensa que musguito é mosquito, mas construir a vida em cima deste erro e dar certo na vida, só você! Acho que talvez você tenha audição seletiva, só presta atenção no que interessa de fato.

Georges disse...

Neide, eu trocava palavras e inventava muitas letras de música e nem me dava conta. Na música das Casas Pernambucanas que dizia "não adianta bater eu não deixo você entrar" e depois dizia "Eu vou comprar flanelas" e eu ouvia "Panelas" e achava que ia esquentar uma comida para esquentar a casa. Bons tempos.

Mariangela disse...

Neide,tu já ouviu falar dos Virunduns? Todo mundo "virunduzeia" músicas em algum momento,tem um blogueiro que eu adoro e já acompanhei mais,que fez um site para isto,creio que chama Virunduns mesmo,onde coleta estas trocas divertidas.E por que virundum?Por causa do hino nacional, que muitos cantam " o virundum piranga as margens plácidas" hahahaha
De uma olhada,é bem divertido!!Beijos em voces!

Mariangela disse...

O blogueiro é o Alexandre Inagaki.

Marcia H disse...

eu ri muito agora, virunduns existem em todas as linguas. Em 2007 eu ganhei um livro em alemao sobre as musicas q as pessoas escutam diferente. quase morri de rir e récem operada é dificil rir.

Uma música também conhecida é a de Caetano: fonte de mel, nos olhos de gueixa, kaboki, máscara - já ouvi gente cantando: caboco de máscara
e Clara tem uns ótimos como: Minha fome é impaciente, come tudo com os dentes... da letra de Fome Come...

Clélia Regiane disse...

Neide eu fazia a mesma interpretação sobre el musguito, e também adoro Mercedes Sossa, mas foi meu marido quem me contou a história da música, eu quase se acaba de rir do meu mosquito. Adorei.
Beijos

Neide Rigo disse...

Aqui uma gravação de Volver a los 17, de 1976, com Milton e Mercedes, No Fantástico: http://www.youtube.com/watch?v=zcZwN1P4Leg

Dalva, este também é clássico.

Cyntia, não é "tocando de biquini"?? rss.

Gilda, às vezes eu me interesso tanto e ainda assim não entendo..

Georges, pelo menos isto entendia certo porque minha mãe era costureira e flanela era um pano comum para pijamas.

Mari, adorei o termo virunduns. Vou olhar lá. Bem, o hino nacional dá muitas margens, hem?

Marcia, não é caboclo e máscara?

Clélia, ufa em saber que não sou só eu.

Um abraço, N

Maria de Lourdes Ruiz disse...

Sim, já fiz interpretações erradas, mas nada que mudasse minha vida, ou melhor dizendo minha visão de vida. Engraçado Neide, fico aqui pensando- como seria sua trajetória se tivesse entendido corretamente a mensagem? Será que teria despertado em você o interesse pela comida de uma forma diferenciada como é expressada hoje no Come-se? Nunca saberemos, como diz um velho bordão: Mistério...
Bjs

Neide Rigo disse...

Lourdes, talvez eu tivesse me enveredado para a botânica, vai saber.
bjs,n

Unknown disse...

Não tenho o hábito de decorar letra de música, então na hora de cantar invento.
Beijos!

Você deveria tirar estas letrinhas do comentário.

Patrycia disse...

Neide,
que lindo o que vc escreveu! Pra ver que quando se pode ser feliz e quando se quer ser feliz, não é qualquer mosquito que nos derruba!
Beijo,

Patrycia

juju gago disse...

adoro quando tem estes textos outros, sobre as coisas da vida.
adoro as receitas muito, mas é ótimo quando você conta de você.

vou ver o filme,
achei esse vídeo muito muito bonito.
obrigada,

Ju

ps. várias historias de trocar as bolas com letras de música.
é bom, né. todo um novo universo se abre quando a gente descobre a confusão. e bem por aí, revemos muita coisa.
:)

Anônimo disse...

Meu marido é mestre em inventar letras absurdas

Neide Rigo disse...

Janice, eu também!
Quanto à verificação com letras, também odeio com todas as minhas forças. De vez em quando tiro e aí começam a entrar spams e eu volto. Agora tirei de novo. Veja se fica melhor e vamos torcer pra não começar entrar spams.

Patrycia, talvez tenha derrubado Violeta, mas vou me esquivando.

Ju, bom saber... Obrigada!

Um abraço, N

Sandra Moreno disse...

Eu também passei anos cantando a música do Tim Maia: "Eu e você você e eu" na hora do "juntinhos" eu toda prosa dizia "Judite"! Isto por quase trinta anos, rsrsrrs.
Neide espero em breve te enviar uma foto do meu pé de feijão, já colhemos algumas favas e são divinas, tanto que acho não vou conseguir esperar só pelo feijão. ( recebi algumas sementes de você no evento Senac e Alicia.

Ana Canuto disse...

Neide:
Pois no meu caso a música era a do D.D.DRIM que falava justamente de insetos.
Era assim:
"..e o dia inteiro a traça passa a roer!"
E eu cantava assim:
"E o dia inteiro atrás da casa a roer!"

Mas eu confesso que fiquei muito borocochô quando descobri o jeito correto.

Anônimo disse...

Kkkkkk! Estou me desmanchando de rir do post e dos comentários dos leitores. E o virundum? essa foi 10!
Abç a todos
Izabel

Anônimo disse...

Neide engraçado sobre Botanica, meu filho pois na cabeça que vc é botanica, e não adianta explicar que não.bjs(Diulza

Gabi disse...

Eu tb entendia o 'tocando de biquini' e eu realmente não entendia por "tocava de biquini" mas era a música e eu ouvia bastante e óbvio, cantava, mesmo sem entender direito o que ela queria dizer (na época).

No dia em que ouvi a música e entendi o BB King, e o restante dela, perdeu a graça... ;)

Unknown disse...

Hoje é domingo, pé de cachimbo...
Por anos imaginei um pé lotadinho de cachimbos!!
Até que alguém explicou que domingo, dia de preguiça, é dia de PEDIR um cachimbo. O correto é "Hoje é domingo , pede um cachimbo"
Fuou sem graça...rsrsrsr

Unknown disse...

Neide, morri de rir... Tenho uma engraçada, que cantava até há alguns anos - 3 ou 4: "Um homem pra chamar Dirceu"... E uma vez, conheci, em Salvador, um carioca homossexual assumido e muito divertido, que se chamava Dirceu (mas eu não sei por onde anda! Infelizmente!) e eu cantava para ele (achando que a música era assim mesmo...rss)... Anos depois quando descobri a verdadeira letra, entendi porque ele ria tanto quando eu cantava esse virundum... rss... Bjim e adoooooro seu blog! De sua fã (+1), Veronica

Angela Escritora disse...

Hoje em dia o mais famoso é o tocando de bikini sem parar(noite do prazer) em vez de tocando B B king. Zé rodrix assumiu que " O preço da baleia até o fim da vida" em vez
que vai mante-lo preso na baleia até o fim da vida.
Nunca soube o que uma vaca estaria fazendo no Domingo no Parque (olha a vaca! Olha a vaca!) e só depois do casamento com alexandre é que soube que a metafora não era sobre mosquito na pedra e sim o musgo.
Aliás, cheguei a achar que Gilberto Gil tinha mania de vaca, em vez de abacateiro eu entendia " a vaca tem". Culpa da vitrola!!!

nana tucci disse...

Neide, puxa vida: que lindo.

Anônimo disse...

kkkkkk... Adorei o post! Eu tb tenho algum déficit de audição, entendo tudo trocado. Dois exemplos: na música do Cidade Negra eu entendi "percorri milhões de milhas" ao invés de "milhas e milhas" e em um reggae eu entendia "I chop the cherry" e ficava pensando pq alguém iria "fatiar a cereja". Só depois descobri que era "I shot the sherif" e a música ficou sem graça, rsss... Bjs!

Valter Luiz disse...

Todos tem seus posquitos, percebo. Mas cantei muitas serenatas por estas madrugadas "tocando de biquine" sem nem saber o porquê. E insistai em cantar para as moças que "um analsta me comeu" sem demonstrar o menor pudor na revelção do divãs do Belquior.
Menina, estou agora no Chile, em Algoborro, ouvindo Violeta, Angel e Victor Jarra num toca discos... e me deparo com seu blog lindo.
Beijos.
Valter Luiz

Valter Luiz disse...

Todos tem seus posquitos, percebo. Mas cantei muitas serenatas por estas madrugadas "tocando de biquine" sem nem saber o porquê. E insistai em cantar para as moças que "um analsta me comeu" sem demonstrar o menor pudor na revelção do divãs do Belquior.
Menina, estou agora no Chile, em Algoborro, ouvindo Violeta, Angel e Victor Jarra num toca discos... e me deparo com seu blog lindo.
Beijos.
Valter Luiz

Neide Rigo disse...

Valter, morri de rir com sua versão do Belchior. Obrigada pelo comentário. Um abraço, n