segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

A multidão éramos nós

Chega uma hora que é a de voltar pra casa. Já estou naquele ponto em que não sei mais qual é meu melhor endereço. Se aqui em São Paulo ou no sítio em Piracaia. Fico triste de voltar, lá durmo tão bem. Depois re-acostumo. Também gosto daqui. 

Só sei que esta foi a primeira vez que passei tanto tempo no sítio. Foram dez dias com apenas uma saída para uma piracaia na pousada da Helenice. Fora as caminhadas por perto, a ida à cachoeira e à represa. Durante este tempo nos encontramos com alguns vizinhos e avistamos alguns poucos carros na estrada. O silêncio fazia com que o canto dos pássaros fosse ensurdecedor. Mas dormíamos com eles, de modo que acordávamos muito cedo, junto com o sol e totalmente repousados, restabelecidos. Ficávamos trabalhando na terra até o sol se por, ou melhor, desaparecer por completo deixando atrás de si um véu de escuridão, pois às vezes quando entrávamos em casa o relógio já marcava nove. Dormimos pouco mas compactamente, como deve ser. Sem distrações como televisão ou internet. Apenas música. Marcos é um DJ incansável e não deixa uma só atividade sem trilha sonora, desta vez com overdose de Vitor Ramil, Jeneci e Mosca, que não me desagradam nem um pouco. Acordamos com música de maritaca, tico-tico e o farfalhar atabalhoado do tucano. Depois de uns três bocejos estávamos inteiros para apreciar a manhã, tomar café olhando a represa, levar susto com gato pulando no nosso ombro e às vezes (uma só vez)  repousar com ele. Isto, sem querer dormir mais durante o dia e, o melhor indicativo de bom sono, sem olheiras.  Internet havia, mas nem cheguei a abrir o laptop ou o tablet. Via alguns emails no celular à noite e me programei para responder apenas às urgências - que, felizmente, não houve.  E assim, pudemos nos dedicar a plantar, colher, cozinhar e descansar a cachoça. Por isto, peço desculpas a falta de resposta nos comentários.  

Marcos e meu cunhado Darly construiram um viveiro com sombrite ganhado dos amigos Juliana e Flores, de Holambra. Inauguramos o espaço com 300 vasos - com mudas se apertando dentro deles (assim sendo, umas 500 mudas, penso eu, loucas pra irem pra terra).  Fora isto, fizemos replantios, podamos, mudamos plantas de lugar, multiplicamos espécies, lutamos com formigas, tiramos sapos do caminho, tiramos fotos de lagartas assustadoras, colocamos feijões pra secar ao sol e recolhemos ao escurecer, amarramos com arame o jirau do chuchu, conferimos o andamento da compostagem, guiamos as plantas trepadeiras, reparamos arames farpados etc. E os caseiros também. 

No Natal teve pernil que tinha sido encomendado no supermercado da cidade, o Goyos. E para o ano novo fizemos javali que foi caçado ali mesmo nas redondezas por um vizinho - o danado vinha comendo toda a roça do homem que conseguiu caçar, abater e dividir com a vizinhança. Comemos com cuscuz que os amigos Carol e Rodrigo levaram. Na virada, nada de fogos de artifício. Para não dizer que passamos na obscuridade e isolamento, iluminamos o momento com o velho e bom bombril incendiado e amarrado a um arame que, girado com força, produz faíscas lindas. E também fizemos fogo de verdade com tochas de folhas secas de araucária, como homens da caverna querendo fazer parte do barulhento e iluminado reveillon que víamos e ouvíamos do outro lado da água.  No fundo, não queríamos, não. 

De resto, o milharal já tem milho pra comer refogado. Eu havia esquecido como é bom o milho tirado da palha e cozido na hora. O cheiro da palha se mantém nos grãos e não tem nada que ver com o milho que a gente compra já pelado.  O pé de camapu (physalis), que ganhei da leitora Daniela, estava carregado e se beneficia do fato de ser ignorado pelas formigas. O mesmo se deu com os pés de acerola (também presentes da Daniela), que estavam apinhados de frutinhas verdes e vermelhas. Colhemos ainda alguns araçás vermelhos. E as goiabas estão por ficar prontas. As morangas estavam abóboras esparramadas pelo chão. O mandiocal está à toda, assim como as pimenteiras. O maracujá está lançando flores e frutos. Aliás, encontrei uma flor de maracujá branca no caminho da cachoeira. E nesta época há muitos moranguinhos silvestres na beira da estrada, onde também encontrei uma intrigante framboesa verde que, quando bem madura, continua verde amarelada e com sabor de uva.  

E é isto, a vida continua, o Come-se também. Não ainda, pois amanhã vou pra Serra da Canastra visitar Dete, Zé Mario, Zé Pão, Romilda.  Até a volta! E depois, seguimos a rotina. 

Fique com algumas fotos que devem valer pelo registro (em breve voltarei a ter uma câmara decente -  desde que deixei cair a máquina do bolso no vaso sanitário - prestes a ser usado -, tenho feito fotos com celular) 

Morangas maduras

Bolinho de chuva num dia de chuva, feito pela Ananda

Biju não comeu o ninho. Os feijões serão replantados

Quatro tipos de feijões secando. Mais dois serão colhidos

Araçás e acerolas

A Tapioca some, mas Biju está sempre com a gente

Mandiocal e couves

Os milhos colhidos

A multidão éramos nós

Vários deles estão sempre por perto. Lindos!

Camapus

Lulo. As folhas estão maior que meu antebraço

Biju pula na gente e dorme no ombro

Marcos terminando o viveiro

A flor de maracujá do mato



Lagarta que queima

Fogo que arde; Feliz Ano Novo! 

17 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto e final de ano melhor ainda,baterias recarregadas para 2014!!! Deus te ilumine sempre!!

Cátia Milhomens

Yolanda disse...

Querida Neide, Feliz Ano Novo!!!
Gostei muito das fotos e do texto, como sempre ótimos. Esse Biju é muito fofo, amo esses bichinhos. Aproveite bem o passeio na Serra da Canastra, bjs.

Truehappynest disse...

Feliz Ano Novo...
Com muita saúde, fartas colheitas e belas surpresas, que quem planta sempre tem!!
beijos
Rosemary

Tertúlia da Susy disse...

Bom ano 2014 e tudo de bom!
Bjs, Susana

Lea disse...

Um bom ano a todos nós!
Que sejamos sempre abençoados com seus texto divinos e suas fotos inspiradoras!!
Adorei!!
E que venha o plantio e colheita deste novo ano!!

beijossssssssss

Judy disse...

Que o ano todo tenham colheita farta, companhia de passarinhos, bichos por perto, trabalho, sol, chuva, comidinha boa... e tudo mais que desejarem.
Feliz 2014!

Rachel Biel disse...

Feliz Ano Novo!

Comecei a receber o seu blog uns dois meses atrás e queria te dizer que agora voce tem uma fã em Kentucky, nos Estados Unidos. Nem me lembro mais como achei o seu blog, mas gostei da maneira em que voce conta as suas histórias e tenho muito interesse também em aprender mais sobre como melhorar a minha horta pequena, etc.

Pensei que seria um bom exercício para manter o meu Português enferrujado e agora, mais do que nunca, vejo como o meu vocabulário é infantíl. Meus pais foram missionários Luteranos no Paraná de 1962-1980 e voltamos para os EU quando eu tinha 18 anos. Me lembro de todos os insetos exoticos daquela época, a maioria que tinha desaparecido quando nos mudamos, e das frutas, verduras e outras comidas que não vemos aqui. Tenho uma horta pequena no meu quintal e tento crescer algumas coisas interessantes. O clima é mais parecido ao sul do Brasil, embora o verão parece ser o Amazonas... quente e húmido!

Até agora tenho tido sucesso com uma figueira (figuero?) que está crescendo e outras coisas, mas gostaria de tentar ver se maracujá pode sobreviver aqui... Veremos.

Muito obrigada por compartir o seu talento e sabedoria conosco. Tenho um amigo que trabalha numa fazenda organica aqui que te interessaria:http://www.learngrowconnect.org/ Se chama Thomas Spaulding ele ajudou a começar uma fazenda organica na Venezuela tambem.

Bom, feliz ano!

Leticia Cinto disse...

Ô coisa boa! Um Feliz Ano Novo para todos nós! Bjs

Isabel Meira disse...

Olá! Feliz 2014!!
Sempre dou uma passada aqui no seu blog! Estou me aventurando na área de gastronomia, no comecinho ainda, estudando, pensando se vou ter coragem de trocar sala de aula por uma cozinha..., mas sempre que venho aqui me animo!! Seu post é sempre inspirador! Encontro sempre relatos maravilhosos!
Obrigada!

Gabi disse...

Um lindo 2014, com muita "fartura" em Piracaia :D

Muitos bjs e abraços!!

Gina disse...

Neide,
Sabia que as "grimpas" eram usadas para fazer fogo, só não imaginei que fosse tanto...
Como sempre, divaguei através do seu texto.
Que você tenha um ano muito produtivo e feliz!
Bjs.

Flávia disse...

Dá vontade de ler tudo outra vez.

Feliz 2014!!!

Anônimo disse...

Olá Neide, entendo bem essa dificuldade de saber se a casa de verdade fica em São Paulo ou no sítio. Tenho o mesmo problema, toda vez que volto para SP (meu sítio é em Cunha).
Vi que você plantou lulo no seu sítio. Até agora só tinha visto a fruta na Colômbia. Você sabe onde posso conseguir mudas ou sementes?
Abraço
Marcelo Lima
Cunha, SP

Anônimo disse...

Neide, Feliz Ano Novo! Fico feliz que as plantinhas estejam produzindo e felizes, certamente bem cuidadas. Um dia ainda quero conhecer este pequeno pedaço do paraíso.
Um beijo,
Daniela

Unknown disse...


Super ano novo, com fartas e deliciosas colheitas. Mas que vida boa a dos gatos do sítio, não? Eles apareceram por lá ou vocês pegaram os bichanos? Beijocas, Jan

Anônimo disse...

Que delícia!!!!!!!!!

Unknown disse...

Estamos com parceria com o google para indicação de lojas virtuais no ramo de réplica de relógios, trabalhamos nesse mercado a mais de 10 anos, somos pioneiros nesse mercado e todas nossas réplicas são importadas de miami com qualidade AAA em réplica rolex, réplica tag heuer, réplicas invicta entre muitas