Acabei de voltar de Goiânia, terra das melhores pamonhas e do empadão. Com as malas lotadas, sempre. E feliz por ter visto naquela cidade o surgimento de um movimento de gente jovem ligada à gastronomia interessada em promover uma cozinha riquíssima, porém desconhecida não só do resto do Brasil mas também dos próprios goianos que vem preferindo olhar sempre pro quintal do outro sem valorizar e cuidar do que nasce no próprio. Foi com este espírito que Mara Salles, Ana Soares e eu fomos apresentadas a lugares incríveis para conhecer gentes e suas comidas, do campo à mesa. Para saber um pouco mais da expedição, veja o que já foi postado no facebook na página do "pitadas".
A expedição Pitadas, um esquenta para o Festival de Gastronomia de Goiânia que deve acontecer em breve, organizada por Rodrigo Lopes, Humberto Marra e Emiliana Azambuja, percorreu quilômetros dentro de uma van com três curiosas e equipe de apoio, vendo, sentindo e provando de tudo. Alguém disse que estávamos praticando a dieta do frango de granja - enquanto há luz acessa, tá comendo. Mas não é toda hora que se pode comer zé pereira, empadão, bolo de arroz, biscoito frito, manjar de fubá de arroz, mané pelado, pamonha frita e veronica. Em alguns momentos, tivemos até a companhia das câmaras da imprensa (aliás, passou hoje na TV - veja aqui) acompanhando nossas reações.
A mala cheia é como um livro em que cada coisa trazida encerra em si a síntese de uma história vivida. Mas tem também as histórias e comidas e histórias de comida que não cabem em bagagem alguma. Estas serão lembradas para sempre. E numa expedição o que não faltam são histórias e nascimento de novas amizades.
Só para situar um pouco nossas andanças pelo que trouxe na mala, espalhei pela mesa cúrcuma (açafrão-da-terra) purinha, bucha, colorau, feijões, panelinha, colheres de alumínio e pimentas compradas na feira do Ateneu; pastelinhos da dona Augusta e da Rita; baunilha do Cerrado e cestas de buriti, da banca da Inês no Mercado Central da cidade de Goiás; mel, hibisco, geleia de hibisco e verônicas, de Pirenópolis; bolinhas de puba, fubá de canjica e fubá de arroz, no Mercado da 74; coadores de pano, no Mercado Central; requeijão moreno, fécula de mandioca e doce de buriti, de Teresópolis de Goiás etc. E teve ainda os presentes: panelinhas, da Tati; livro da Tanea, fotos do Alexandre.
Aqueles que não trago na mala, os trarei pra sempre nas melhores e densas lembranças, como carimbos em bronze para veronicas do Divino (aguardem novos posts). Só para citar algumas pessoas especiais que encontramos nesta viagem: Edvania e Pedro, do restaurante Porto Cave, Dona Inês, do bolinho de arroz na cidade de Goiás, Dona Lourdes do restaurante Popular, Dona Augusta dos pastelinhos e flores de coco da cidade de Goiás, Rita dos pastelinhos da cidade de Goiás, Maria e Divina que cultivam a terra em assentamento do Arraial do Ferreiro, na cidade de Goiás; Dona Albertina, Seu Bié e Elias, do Promessas do Futuro, que cultivam orgânicos e fazem geleias; Dona Valentina, Ilma, Valdir e Volney, que fazem pamonha na feira do Ateneu em Goiânia e as quituteiras e veroniqueiras de Pirenópolis: Dona Teresinha de Arruda, Dona Teresinha Mônica, dona Irma, dona Divina e Cerise. Nunca poderei esquecer ainda dos tantos anfitriões que foram tão generosos nos hospedando e/ou nos dando de comer do bom e do melhor, do jeito alegre que o goiano sabe ser, especialmente Rodrigo e Andrea, Kátia, Cristina, Caio, Andreia Leal, Claudio Ortencio e o pessoal da Agepec (Associação Goiana dos Profissionais e Estudantes de Cozinha). E ainda o pessoal que deu todo o suporte para que a expedição fosse um sucesso: Luciene, Mariana, Murilo, Ana Carolina, Cleiton, Denise, Alexandre, Tatineide (e se esqueci de alguém, foram os quilos a mais e a noite mal dormida que agora me embolam o pensamento).
Dos novos amigos, impossível citar nomes sem cometer injustiças, mas uma coisa é certa: comida agrega. Aqui foi só uma pitada de muitas outras histórias goianas por vir nos próximos dias.
Uma coisa mais: ontem fui dormir à meia noite porque depois disso viro abóbora, mas a festa na cozinha continuou na chácara onde ficamos - muita gente cozinhando, comendo, bebendo, brincando. Uma das atrações era o maria-isabel que, quando fui dormir, cozinhava cheiroso no fogãozão pilotado pelos jovens cozinheiros Rafael, Raoni e Heitor. Hoje de manhã consegui rapar o fundo da panela e surrupiar uma marmita. Foi chegar aqui, esquentar o arroz, fritar um ovo e nhac! Só pra fazer a transição.