quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Chácara de Valdite e José Kriwouruska


Mari colhendo framboesas
Assim que cheguei em São José dos Pinhais, no Paraná, onde meus pais moram, minha mãe já ligou para a amiga Valdite se convidando para ir visitá-la na chácara quase dentro da cidade,  "para levar minha filha que gosta destas coisas". E tem como não gostar?  

Valdite e Olga, minha mãe, sob a parreira de uva Terci
Minha mãe tem uma capacidade incrível de se adaptar a lugares novos e fazer amizades. Valdite, conheceu numa loja de departamentos e tão pouco tempo depois já parece que são amigas de anos. Por isto, fui recebida com carinho de afilhada pelo casal e sua filha, Mari.  

Valdite é baiana e seu Zé Kriwouruska, polaco. Aliás, no sul do Paraná, polaco ou polaca é qualquer ser branquelo,  seja polonês  ucraniano, húngaro, alemão ou italiano. Mas seu Zé é descendente de polonês mesmo e muito do que se vê ali é resultado da miscelânea das duas culturas, tanto nas soluções engenhosas na propriedade, quanto na mesa. Num espaço pouco maior que um hectare, cultivam de tudo. E, o melhor, aproveitam tudo o que sai daquelas terras e águas - um laguinho com peixes. O mel produzido em cem caixas de Apis espalhadas perto dali é consumido pela família e o excedente é envasado e disposto para venda numa estante improvisada na varanda, "mel do Seu Zé". Há também algumas caixas da meliponínea Mirin, abelha sem ferrão que produz mel ralo e ácido de excelente sabor. Nem a água doce, resultado do enxague das colmeias durante a extração do mel, é desperdiçada. Vira melado de mel, que também é vendido. Muito bom, doce com um quê de amargor.  Trouxe para mim um vidro de cada e ainda de geleia de framboesa, feita pela Valdite. Muitas frutinhas são necessárias para se fazer um vidro de doce denso de vermelho forte, por isto tenho economizado como ouro a que trouxe. E a cerveja de mel? Sorte que sobraram duas garrafas das festas de fim de ano e pude degustar. Deliciosa. É clara,  mas lembra cerveja escura, um pouco adocicada, alcóolica, superborbulhante. Mari, a filha, disse que muito descendente de polonês por ali ainda faz esta bebida e prometeu que vai me ensinar a fazer. Só precisava de comprar mais lúpulo para o próximo lote e aí me mandaria fotos e receita. Aguardemos! O maracujá do mato vira polpa conservada para a entressafra, a nata vira biscoito, o torresmo triturado com alho transforma-se em "manteiga" para o pão, a uva é cozida para fazer suco engarrafado. E tudo feito com tanto capricho, que recomendo muito a quem estiver entre Curitiba e São José dos Pinhais que compre o mel, a geleia e os produtos de momento, sempre únicos, exclusivos, já que a atividade principal dos dois não é a de venda mas a de produzir por prazer para consumo próprio. 

Cerveja de mel 

"Manteiga" de torresmo. Como é mesmo o nome?

Mel de mirin

Maracujá do mato 




Para quem quiser comprar o raro mel de mirim, mel de Apis, melado de mel ou geleia de framboesa: Mel do Seu Zé, telefone: 41 3282-3408 ou 41 9906-8092

21 comentários:

Anônimo disse...

Neide quase tive um troço quando vi o pão com torresmo to ficando velha e voçe esta trazendo de volta minhas lembraças da roça,obrigada. bjs. (Diulza)

eng, panerai disse...

boa viagem e continua postando.

Leticia Cinto disse...

Ah, já descobrimos a quem vc saiu :) D. Olga ficou muito bem na foto! E que história legal, como é possível produzir tanta coisa bacana em um espaço tão pequeno (e eu fico pensando nos latifúndios com monocultura!). Enfim, mais um relato bacana! Quando eu for para Curitiba, vou passar lá, sem dúvida!

marta disse...

72 quofto
Oi Neide,
fiquei babando aqui!!!!! era tudo que eu queria agora!!!!!!
Aqui, um dia cinzento, frio e chuva.Abro o "come-se" e que maravilha!!!!! alegrou o resto do meu dia!!!!

Guilherme Ranieri disse...

Tudo que eu planejo para mim daqui uns 10 anos! Que delicia, que delicia!

LMSS disse...

Que fotos deliciosas!

maria lucia disse...

Conte mais desse melado, pode?
beijinhos

maria lucia disse...

E essa framboesa, aqui chamam de morango silvestre. É uma da flor branquinha, né?

Pedro Ivo disse...

Neide, cerveja de mel, ou seja, uma bebida feita a partir do mel fermentado, que imagino que é o que você tenha tomado, é na verdade conhecida como hidromel - em inglês, mead. É uma bebida muito antiga e tradicional no norte da Europa. Reza a lenda que os Vikings mais valorosos, ao morrer, iam para o Valhalla, onde podiam tomar seu hidromel eternamente, na companhia do deus Odin.
De qualquer maneira, é uma bebida bem conhecida dos cervejeiros caseiros, onde tem seus fãs declarados. Tem a vantagem de ser mais fácil de fazer que a cerveja tradicional, pois demanda de ingredientes apenas mel, água e fermento. Diferente da cerveja, entretanto, não leva lúpulo, por isso não há amargor. Por outro lado, algumas pessoas gostam de temperar seu hidromel com frutas.
Escrevi tudo isso supondo que o que você provou tenha sido mesmo hidromel, mas agora estou lembrando que já ouvi falar que os polacos paranaenses do interior tem o costume de fazer uma 'cerveja' de, bem, de praticamente qualquer fonte de carboidrato que possam fermentar, como batata, pão velho, etc. Provavelmente um costume advindo de tempos mais difíceis. Testemunhos dão conta que o resultado não é lá dos melhores, portanto, como você gostou do que provou, imagino que tenha sido sim hidromel legítimo.

Neide Rigo disse...

Pedro,
sim, eu conheço hidromel, mas como disse aí no post, eles usam lúpulo sim e chamam de cerveja. A fonte de carboidrato é só o mel e espuma muito. Tem gosto amargo e adocicado, como cerveja mesmo.
Obrigada, um abraço, N

Anônimo disse...

Neide: interessei-me pelos produtos, mas creio que são vendidos apenas localmente, né? Estou no Rio Grande do sul.... De qualquer maneira, essa família é abençoada! O trabalho, e dá trabalho, é recompensado pela saúde e a felicidade está no brilho do olhar! Bjs
Nedi Röpke

Anônimo disse...

Leio sempre o blog e hoje, que alegria, me deparo com um post sobre meus tios (o seu Zé é irmão da minha mãe). Simpatia é o segundo sobrenome deles!
Mariele

Neide Rigo disse...

Nedi, dependendo da quantidade, acho que eles podem mandar por correio.

Mariele, que coicidência! Sim, eles são muito simpáticos. Quero voltar a visitá-los. Se puder, mostre o post a eles.

Um abraço, N

Anônimo disse...

Essa de "mel de cerveja" é certamente o que nesta ponta ocidental da europa designamos por "Hidromel" Gostei muito de conhecer o mundo que a rodeia.

Unknown disse...

Neide, é um orgulho ter este post aqui, Seu Zé e Dona Valdite são meus avós, e a Mari é minha querida mãe! Tenho mais do que orgulho de todos dessa família, como já foi citado nos comentários anteriores, dá muito trabalho, porém o resultado é tudo isso que você pode registrar. A alegria desses 'velhinhos' nos motiva e nos contagia, e faz com que batalhemos todos o dias por nossa Família.
Sempre que puder apareça que tenho a certeza que será muito bem recebida.

Neide Rigo disse...

Filha da Mari (como é mesmo seu nome?), foi a maior alegria ter conhecido sua família. E diga pra Mari que ainda quero aprender a fazer a cerveja de mel. Qual é o email dela? Um abraço, n

Unknown disse...

hahaha é filho, meu nome é Marcelo.
Pode deixar que cobro dela essa aula sobre cervejas. Ela tem um e-mail mais não usa muito, caso queira entrar em contato pode mardar pro marcelo.kriwo@hotmail.com , Abraços.

Umberto disse...

Que legal ver a Dona Valdite e o Seu Zé no seu blog Neide. Eu era vizinho deles em São José e varias vezes quando volto lá, vou ao sítio.

Abraço

Suzana disse...

Essa framboesa é diferente daquela comprada em supermercado, você sabe o nome científico dela? Obrigada por esclarecer tantas dúvidas e pelas informações, dicas e receitas.

Unknown disse...

Excelente, como sempre!
Sou de descendência alemã e minha vó fazia essa manteiga de torresmo. Chamávamos de " cribm schmier". Era uma delícia!

Abraços,
Fabi

Murilo Gagliardi disse...

Falando em hidromel lembrei que preciso fazer uma receita que anotei faz tempo kkk.