quinta-feira, 1 de abril de 2010

Alfavacão no coração da banana


O coração, quando ainda estava fresquinho, úmido, tenro, foi pra panela
Pra mim, que tenho uma agroflorestinha de nada, a casa da Veronika em plena São Paulo é quase um latifúndio produtivo. É sempre uma delícia passar umas horas ali apreciando os produtos da safra e as crianças brincando soltas na terra. É um cacho de banana pendurado, as acerolas vermelhas caindo de maduras, o cará do ar que se espicha pro céu, a saúva que podou o pé de louro, a cana que precisa ser podada, as temíveis lesmas. Repertório ali não falta.
Como eu, ela faz seus próprios pães e quase tudo o que vai em cima dele. Desta vez, o sol do dia foi o antepasto de coração de banana temperado com alfavacão ou afavaca-cravo. Como a maioria de nós, ela faz este tipo de prato sem receita, mas consegui arrancar de sua intuição uma fórmula. Lá vai:


Antepasto de coração de banana no vapor do alfavacão (receita de Veronika Paulics)
1 coração de banana (o botão que fica no fim do cacho, que deve ser tirado quando as bananas ainda estão verdes)
2 colheres (sopa) de suco de limão diluidos em 1 litro de água
1/2 colher (sobremesa) de sal misturado com 1 litro de água
Cerca de 20 folhas de alfavacão (se não tiver, use manjericão de folhas grandes)
1/2 xícara de nozes picadas
6 azeitonas verdes picadas
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
3 colheres (sopa) de salsinha picada
2 colheres (sopa) de vinagre
Azeite e sal a gosto
De preferência, usando luvas, corte com uma faca afiada as folhas do coração em tirinhas bem finas, deixando de molho em água com o suco de limão antes e depois de picar (só enquanto trabalha com o ingrediente). Em uma panela com água e sal já quente ferva as tirinhas escorridas por 5 minutos. Enquanto isso, faça com as folhas de alfavacão uma caminha no fundo de um recipiente de vidro - que possa ir à mesa. Coe as tirinhas de coração e jogue-as ainda quente sobre as folhas, para que fiquem impregnadas com o vapor aromático. Junte as nozes, azeitonas, pimenta, salsinha, vinagre, azeite e sal. Sem mexer, tampe a vasilha e deixe em repouso até esfriar completamente. Só então misture os ingredientes sem desmanchar a cama de ervas. Prove o sal e corrija, se necessário. E junte mais azeite se quiser conservar na geladeira por mais alguns dias. Deixe do lado de um pãozinho fresco e nhac! (Veronika, eu botaria ainda umas fatias de cebola roxa).
Sobre o alfavacão

O arbusto da foto de cima é o alfavacão da Veronika, pai do que tenho no meu quintal, do qual roubei o galhinho da foto de baixo - ando apaixonada por esta erva, se é que ainda não percebeu

Já fiz um pesto com as folhas e ficou com intrigante aroma de manjericão e cravo. Agora estou testando uma misturas secas à moda do pó de curry. Basta tostar um pouco na frigideira as folhinhas, até ficarem secas, e triturar com pilão junto com grãos de coentro e de cominho também ligeiramente tostados além de cúrcuma em pó. Para carnes e frango. Humm!
A planta
Embora a espécie seja subespontânea em todo o Brasil, com muitas variedades, acredita-se que seja originária do Oriente. Diferente do manjericão comum, Ocimum basilicum, que pertence ao mesmo gênero, o afavacão (Ocimum gratissimum) forma um pequeno arbusto de caules lenhosos, podendo chegar a mais de dois metros de altura, como o da Veronika.
As folhas são verde escuras, pontiagudas, com bordos serrilhados e extremamente cheirosas, com aroma de cravo muito agradável e não enjoativo. Mais de 70% da composição química do seu óleo essencial é de eugenol - aquele mesmo do cravo e do gelzinho anestésico do dentista. Por esta similaridade com o cravo, pode ser usado também em doces e licores.
Eu tenho muita sorte porque costumo colher as folhinhas para o preparo de pratos do almoço. É que ao meio dia a concentração de eugenol nas folhas está no auge. No fim do dia, o teor é menor. Já se o propósito é usá-lo como expectorante ou antigripal, por exemplo, o melhor é colher no fim ou começo do dia, quando o teor de 1,8-ceneol é maior e esta é a substância responsável pela ação antisséptica pulmonar e expectorante da planta, também presente no óleo essencial (segundo Harri Lorenzi e F.L. Abreu Matos, no livro Plantas Medicinais no Brasil).
Outros usos
Em infusões aromáticas e terapêuticas (para gripe) com limão e canela; para perfumar qualquer calda que seja usada em doces; para perfumar a água do banho; para temperar peixes, carnes, salada de tomate, molho de tomate, pestos, sopas ou qualquer outro prato que combine com manjericão e/ou cravo.

5 comentários:

Americo Gobbo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Americo Gobbo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luciani disse...

Olá Neide,
Eu sou uma mulher da cidade que está indo devagar viver as coisas mais preciosas da vida numa casinha numa rocinha linda chamada Lumiar.
Seu blog é MARAVILHOSO e estou me deliciando com ele. Parabéns, o mais simples é o mais belo.
Obrigada.
bjs

Neide Rigo disse...

Luciani,
Lumiar, caminho para o Rio, não? Boa sorte na sua roça. Obrigada, um abraço, N

Sandra disse...

Cara neide. No petisco de coração de banana é usado todo o coração ou só o "palmito" interno. Vc já fez o palmito de coração de banana? Abs