quarta-feira, 4 de abril de 2012

Enformado de abóbora ou cuscuz paulista com abóbora para o Marcin

Já há quem reclame de se chamar este enformado de cuscuz, afinal cuscuz que é cuscuz tem que ser cozido em cuscuzeira, no vapor.  Com abóbora, então... Mas, grosso modo, é como o cuscuz marroquino pré-cozido, que basta umedecer com água ou caldo, pois já foi cozido para facilitar o trabalho. No Senegal, é a mesma coisa. Há vários tipos de cuscuz de milho, arroz, milhete, sorgo, todos já pré-cozidos, bastando juntar água quente. 


No caso deste tipo de cuscuz não é diferente. A farinha de milho, feita com o fubá que foi fermentado, moído e já tostado não requer longo cozimento - faz um cuscuz instantâneo a que nos acostumamos a chamar de cuscuz paulista. O preparo lembra aquele do Lobozó (ou lobosó). 


Não ia mais falar de abóbora, embora continue usando todos os dias. Acontece que foi o último jantar no Brasil do Marcin, o namorado polonês da minha sobrinha Flora. Os hóspedes de três meses foram embora ontem e já estou com saudade. Ele não deu trabalho, não deixava rastros, é brincalhão e se interessa por tudo de nossa cultura. E já era tanto de casa, que a Flora foi pra Vila Madalena com a outra sobrinha, para se despedir, enquanto Marcin ficou para jantar com a gente. 


Eu não fiz nada de especial, pois achei que ele também sairia. E também não intencionava colocar no blog, nem caprichei nas fotos, só pensei em guardar pra mim, já que foi a segunda vez na vida que fiz este tipo de cuscuz, que aprendi com minha avó Maria. Mas como ele ficou, se interessou, gostou e disse que vai reproduzir em Paris, fiquei de publicar a receita. Fiz, como sempre, a olho, mas anotei tudo.  Minha avó moldava em forminhas de empada e temperava com sardinhas, palmitos, ervilhas, azeitonas, talvez camarões e era a alegria das festas juninas. O meu, mais pobre, fiz com o que tinha e ainda assim ficou muito bom e substancioso. A abóbora caiu bem, quebra um pouco a textura massuda do prato,  e já estou pensando em incorporar jiló. Se eu o chamo de enformado, pronto, ninguém me enche reclamando o nome e eu acrescento o que bem entender.  


Outro motivo de eu publicar são as sardinhas. Nunca compro sardinhas em lata, mas comprei por causa do Martin, e foram elas quem me levaram a pensar no cuscuz. Ele já tinha comido o prato na casa da minha irmã Biba e disse que adorou (não sei como ela fez, mas se bem a conheço deve ter misturado além de abóbora também a cambuquira e, quem sabe,  umas pimentas inteiras). Mas no supermercado me lembrei das sardinhas por causa do cardápio de dez dias do Marcin na viagem que fez para Foz do Iguaçu, Argentina e Paraguai, neste tempo em que esteve aqui. Disse que comprou dez latas de sardinhas e uma de atum. Comeu peixe com pão todos os dias, em todas as refeições, alternando com bananas. Apenas no domingo, variou comendo atum.  Em vez de ficar enjoada, fiquei com desejos. E com sardinhas, penso sempre em cuscuz.  Então, aí vai a receita de enformado para o Marcin. 



Enformado de farinha de milho com abóbora e sardinhas 


2 colheres (sopa) de azeite 
2 dentes de alho 
Meia cebola picada 
1 colher (sopa) de páprica defumada ou colorau 
1 1/2 colher (chá) de sal 
3 tomates maduros picados 
1 pedaço de 500 g de abóbora quase madura, com pele, picada em cubos de 1 centímetro
1 pimenta dedo-de-moça sem sementes picada
3 xícaras de água 
10 azeitonas verdes sem caroços
2 latas de sardinha escorridas
1/2 xícara de cheiro-verde picado 
2 xícaras de farinha de milho (aquele de flocos)
2 ovos cozidos cortados em rodelas


Numa panela aqueça o azeite e doure nele o alho e a cebola. Junte a páprica ou colorau e o sal e misture bem. Acrescente o tomate picado, a abóbora e a pimenta e mexa. Junte 2 xícaras de água, tampe a panela e deixe cozinhar por cerca de 10 minutos. Veja se a abóbora está cozida - deve estar ainda firme, sem se desmanchar. Junte, então, metade das azeitonas, metade da sardinha quebrada em pedaços e o cheiro-verde. Misture e junte a farinha de milho, revolvendo devagar e acrescentando mais água quente, se for preciso,  para que toda a farinha fique bem úmida. Prove o sal e corrija, se achar necessário. Tire do fogo.   Unte uma forma de anel com azeite, espalhe no fundo as rodelas do ovo cozido, azeitonas e a sardinha restante - se quiser, também umas rodelas de pimenta. Coloque às colheradas a massa quente do cuscuz e pressione para grudar na decoração. Alise a superfície e espere amornar para desenformar. Se quiser, deixe na geladeira para servir frio com salada. O meu, servi quentinho com couve refogada e não sobrou para a foto das fatias cortadas. 


Rende: 6 porções


Marcin, bom de garfo, na feira

5 comentários:

Unknown disse...

Nooossa!! Deu água na boca.
Abraços

Angela Escritora disse...

um dia que eu for em sp você faz um cuscuz? acho que é daquelas coisas que não comi e não gostei, mas você fala de um jeito que acho que estou perdendo algum prazer muito importante. Menina.. que suco bom vai sair das cascas de abacaxi..

Neide Rigo disse...

Angela, pode deixar que quando vier, eu faço, sim. Quanto às cascas, nem pensei no suco - acho que estes abacaxis levam muito agrotóxico. Mas o Marcin ficou aproveitando para raspar a parte comestível das cascas que seriam desprezadas.
Um beijo, N

marília disse...

eu não entendi direito, porfavor poravor me explica!!!

antes da farinha de milho ir para a panela com os ingredientes, ela já deve está em forma de cuscuz.

tipo na panela de cuscuzeiro e tal...

e essa parte da farinha de milho fermentar? é quando deixamos de molho de um dia para o outro?

me explica....

amo esse canto aqui... vc escreve como quem conta a melhor prosa do mundo ao vivo pra nós.

muito carinho

marília

marília disse...

ahhhhh desisto.